Alexandre Dáskalos

Alexandre Dáskalos

poeta angolana

1957-01-01 Nova Lisboa (hoje Huambo)
1961 Caramulo, Guarda
11328
0
10


Alguns Poemas

Qu é São Tomé

I

Quatro anos de contrato
com vinte anos de roça.

Cabelo rapado
blusa de branco
dinheiro no bolso
calção e boné

Eu foi São Tomé!

Calção e boné
boné e calção
cabelo rapado
dinheiro na mão...

Agora então volto
mas volto outra vez
à terra que é nossa.
Acabou-se o contrato
dos anos na roça

Eu vi São Tomé!

Cuidado com o branco
que anda por lá...
Não sejas roubado
cuidado! cuidado!
Dinheiro de roça
ganhaste-o. Té dá
galinhas... e bois...
e terras... Depois
já tiras de graça
o milho da fuba,
o leite, a jinguba
e bebes cachaça.

Eh! Vai descansado,
dinheiro guardado
no bolso da blusa.

Que é São Tomé?

Cabelo rapado
blusa de branco
dinheiro no bolso
calção e boné.

II

Este mente, aquele mente
outro mente... tudo igual.
O sítio da minha embala
aonde fica afinal?

A terra que é nossa cheira
e pelo cheiro se sente.

A minha boca não fala
a língua da minha gente.

Com vinte anos de contrato
nas roças de São Tomé
só fiz quatro.

Voltei à terra que é minha.
É minha? É ou não é?

Vai a rusga, passa a rusga
em noites de fim do mundo.

Quem não ficou apanhado?
Vai o sono, vem o sono
vai o sono
quero ficar acordado.
No meio da outra gente
lá ia naquela corda
mas acordei de repente.

Quero ficar acordado.

Onde está o meu dinheiro,
onde está o meu calção
meu calção e meu boné?
O meu dinheiro arranjado
nas roças de São Tomé?

Vou comprar com o dinheiro
sagrado da minha mãe
tudo quanto a gente come:
trinta vacas de fome,
galinhas... de papelão.

Vou trabalhar nesta lavra
em terra que dizem nossa
quatro anos de contrato
em vinte anos de roça.

Eu foi São Tomé!

Cabelo rapado
blusa de branco
dinheiro no bolso
calção e boné.

Aiuéé!

A sombra das galeras

Ah! Angola, Angola, os teus filhos escravos
nas galeras correram as rotas do Mundo.
Sangrentos os pés, por pedregosos trilhos
vinham do sertão, lá do sertão, lá bem do fundo
vergados ao peso das cargas enormes...
Chegavam às praias de areias argênteas
que se dão ao Sol ao abraço do mar...
... Que longa noite se perde na distância!

As cargas enormes
os corpos disformes.
Na praia, a febre, a sede, a morte, a ânsia
de ali descansar
Ah! As galeras! As galeras!
Espreitam o teu sono tão pesado
prostrado do torpor em que mal te arqueias.
Depois, apenas pestanejam as estrelas,
o suplício de arrastar dessas correias.

Escravo! Escravo!

O mar irado, a morte, a fome,
A vida... a terra... o lar... tudo distante.
De tão distante, tudo tão presente, presente
como na floresta à noite, ao longe, o brilho
duma fogueira acesa, ardendo no teu corpo
que de tão sentido, já não sente.

A América é bem teu filho
arrancado à força do teu ventre.

Depois outros destinos dos homens, outros rumos...
Angola vais na sede da conquista.
Hoje no entrechoque das civilizações antigas
essa figura primitiva se levanta
simples e altiva.
O seu cãntico vem de longe e canta
ausências tristes de gerações passadas e cativas.
E onde vão seus rumos? Onde vão seus passos?
Ah! Vem, vem numa força hercúlea
gritar para os espaços
como os dardos do Sol ao Sol da vida
no vigor que em ti próprio reverberas:

- Não sou cativo!
A minha alma é livre, é livre
enfim!
Liberto, liberto, vivo...

Mais... porque esperas?
Ah! Mata, mata no teu sangue
o pressâgio da sombra das galeras!

Resignação

I

Quatro anos de contrato
com vinte anos de roça.

Cabelo rapado
blusa de branco
dinheiro no bolso
calção e boné

Eu foi São Tomé!

Calção e boné
boné e calção
cabelo rapado
dinheiro na mão...

Agora então volto
mas volto outra vez
à terra que é nossa.
Acabou-se o contrato
dos anos na roça

Eu vi São Tomé!

Cuidado com o branco
que anda por lá...
Não sejas roubado
cuidado! cuidado!
Dinheiro de roça
ganhaste-o. Té dá
galinhas... e bois...
e terras... Depois
já tiras de graça
o milho da fuba,
o leite, a jinguba
e bebes cachaça.

Eh! Vai descansado,
dinheiro guardado
no bolso da blusa.

Que é São Tomé?

Cabelo rapado
blusa de branco
dinheiro no bolso
calção e boné.

II

Este mente, aquele mente
outro mente... tudo igual.
O sítio da minha embala
aonde fica afinal?

A terra que é nossa cheira
e pelo cheiro se sente.

A minha boca não fala
a língua da minha gente.

Com vinte anos de contrato
nas roças de São Tomé
só fiz quatro.

Voltei à terra que é minha.
É minha? É ou não é?

Vai a rusga, passa a rusga
em noites de fim do mundo.

Quem não ficou apanhado?
Vai o sono, vem o sono
vai o sono
quero ficar acordado.
No meio da outra gente
lá ia naquela corda
mas acordei de repente.

Quero ficar acordado.

Onde está o meu dinheiro,
onde está o meu calção
meu calção e meu boné?
O meu dinheiro arranjado
nas roças de São Tomé?

Vou comprar com o dinheiro
sagrado da minha mãe
tudo quanto a gente come:
trinta vacas de fome,
galinhas... de papelão.

Vou trabalhar nesta lavra
em terra que dizem nossa
quatro anos de contrato
em vinte anos de roça.

Eu foi São Tomé!

Cabelo rapado
blusa de branco
dinheiro no bolso
calção e boné.

Aiuéé!
Poeta e investigador veterinário. Fez os estudos liceais em Nova Lisboa, hoje Huambo, e licenciou-se em Medicina Veterinária pela Universidade de Lisboa. Aos dezassete anos, em 1941, foi preso sob a acusação de pertencer à Organização Socialista Angolana. Durante os seus estudos em Lisboa foi um dos activistas da Casa dos Estudantes do Império, em cuja revista, Mensagem, colaborou. Após a licenciatura regressou a Angola, passando a trabalhar como assistente no Laboratório Central de Patologia Veterinária, em Nova Lisboa, dedicando-se tão apaixonadamente à investigação que acabou por contrair uma doença pulmonar. Internado no Sanatório do Caramulo, em Portugal, ali faleceu em Fevereiro de 1961. Para além da já citada revista Mensagem, de Lisboa, colaborou assiduamente no Jornal de Angola, da Associação dos Naturais de Angola, de Luanda. Tem ainda poesia dispersa por outras publicações de Angola e de Portugal. Está representado nas antologias: Poetas Angolanos, da Casa dos Estudantes do Império, de Lisboa, 1959 e 1962; Mákua 3: Antologia Poética, Sá da Bandeira, Angola, 1963; Literatura Africana de Expressão Portuguesa, vol. I, Argel, 1967; No Reino de Caliban, vol. 2, Lisboa, 1976. Do seu trabalho de investigação ficaram numerosos artigos dispersos por publicações da especialidade e o ensaio Introdução do Método Experimental em Portugal, editado em 1962 pela Câmara Municipal de Nova Lisboa, Angola.
POESIA de ALEXANDRE DASKALOS -- 8 de Nov. Às 16:00
Declamação do poema "Porto" de Alexandre Dáskalos: Uma Janela para a Alma Angolana
Biografia do escritor Alexandre Dáskalos
Quando Eu Morrer | Poema de Alexandre Dáskalos com narração de Mundo Dos Poemas
621 - Princípio - Alexandre Dáskalos
Alexandre Dáskalos: Só Me Restam |Poesia Angolana |Recitar Poemas |Declamação |Literaturas Africanas
Alexandre Dáskalos: No Temporal da Revolução |Poesia Angolana |Recitando Poemas Africanos Declamação
629 - O rio corre manso - Maria Alexandre Dáskalos
Dicas da Semana: Rei Lear e poesia africana
Brincadeiras da Adolescência dos anos 1980 e 1990 (Angola)
Ellinofreneia 16.11.09 Gynaikologos - daskalos tou ski.avi
Daskalos: O Mundo Material x Mundo Espiritual
Cerveja contaminada | Entenda o que causou intoxicação com dietilenoglicol
Indo para Benguela
Conselhos Maquiavélicos | Maquiavel: O Príncipe | Filosofia
Εκατομμυριούχος | Ο Καλύτερος Παίκτης Που Έχει Περάσει Ποτέ!
VIOLONS BARBARES Live in Esprit Frappeur - Lutry
1-2 L'Initiation - Rudolf Steiner - lecture Jean Naroun
BIOLOGIA ENEM 2020: RESOLVENDO QUESTÕES DE SIMULADO
REPERTÓRIO LITERÁRIO | ENEM 2020
Evolução histórica da fonética da língua grega
Porta XIII - Apresentação da Revista Nova Águia - 21.04.18 às 16.00
AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA - EDUARDO GALEANO | A ebulição da América Latina
Morph S - City of the Weak
Duel of the Fates - UAA Sinfonia & University Singers, Sounds of Music 2020
ATUALIDADES ENEM: DIREITOS HUMANOS
REINO FUNGI: CLASSIFICAÇÃO, METABOLISMO E REPRODUÇÃO DOS FUNGOS | ENEM POWER
O SÉCULO ASIÁTICO
"The Song is You" live at Waterside Plaza - Jonathan Saraga Quartet
ENEM 2020: RESOLVENDO QUESTÕES DE MATEMÁTICA
KATALIPSI 2007 1o TEE AIGIOU
Palestra #4 - Sola Scriptura | 2° Seminário Apologético Filadélfia
ale show
Como o Mundo Espiritual afeta o Mundo Material?
Regime shifts

Quem Gosta

Seguidores