Poeta na Praça da Alegria

Não sou infeliz. Não, não me quero matar. 
Tenho até uma certa simpatia por esta vida
passada nos autocarros,
para cima e para baixo.
Gosto das minhas férias 
em frente da televisão.
Adoro essas mulheres com ar banal
que entram em directo no canal.
Gosto desses homens com bigodes e pulseiras grossas. 
Acredito nos milagres de Fátima
e no bacalhau com broa. 
Gosto dessa gente toda.
Quero ser um deles. 

Não, não guardo nenhum sentido escondido. 
Estas palavras, aliás, podem ser encontradas
em todos os números da revista Caras.
A ordem às vezes muda. 
Não quero que me façam nenhuma análise do poema.
Não, não escrevam teses, por favor. 
Isto é apenas um croché 
esquecido em cima do refrigerador. 

Obrigado por terem vindo cá para me beijarem o anel.

Obrigado por procurarem a eternidade da raça. 
Mas a poesia, mes chers, não salva, não brilha, só caça.
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