Pablo Neruda
Pablo Neruda foi um poeta chileno, bem como um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX e cônsul do Chile na Espanha e no México.
1904-07-12 Parral, Chile
1973-09-23 Santiago, Chile
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Iv - Os Deuses Esfarrapados
Há séculos vive a miséria
no sul da Itália. Olha seu trono:
pendem dele como tapeçarias
as trêmulas aranhas negras
e ratos cinzentos roem
as antigas madeiras.
Esburacado trono que através
das janelas quebradas
da noite de Nápoles respira
com estertor terrível,
e entre os buracos
os negros riços caem nas faces
dos meninos formosos
como pequenos deuses esfarrapados.
Oh Itália, em tua morada
de mármore e esplendor, quem habita?
Assim tratas, antiga loba rubra,
a tua progênie de ouro?
Triste é a voz do sul nos caminhos.
Ácida sombra o céu
deixa tombar sobre as casas destruídas,
lá das portas sai
o ramo desgrenhado
da fome e a pobreza
e contudo canta
tua cabeça sonora.
Triste é a voz do sul nos caminhos.
Os povoados adiantam
mais de uma voz faminta
que no entanto canta.
O vermelho vinho bebo
levantando na taça
não só o sol maduro,
mas a luz antiga da ira.
Marcham rumo à terra
os camponeses da Itália.
Cansaram-se
de rasgar a pedra
e penetraram no domínio,
no feudal território.
Homens, mulheres, meninos
de repente se reuniram sob uma árvore
e de imediato
a limpar a terra,
a cavá-la,
a rompê-la,
e no sulco
cai o trigo,
o punhado de trigo que guardaram
como se fosse ouro
as mãos dos pobres,
e então
a primeira cozinha deitando fumaça,
o fogo,
a roupa que se lava,
a vida.
Vieram
os soldados,
o governo cristão.
“Não podeis semear,
não podeis fazer fogo.
A terra
dos senhores
deve continuar estéril.
Tirai o trigo,
desfazei o sulco,
apagai o fogo”.
Os velhos rostos,
as enrugadas mãos,
tão semelhantes à terra, sulcos, sementes, fogo,
ficaram imóveis
e quando levantaram os fuzis
os soldados cristãos
eles cantavam, e caíram
cantando.
O sangue regou o trigo
mas ali cresce
um cereal indomável,
um cereal que canta até na morte.
Isto se deu quando vivi na Itália.
Mas os camponeses
assim conquistaram a terra.
no sul da Itália. Olha seu trono:
pendem dele como tapeçarias
as trêmulas aranhas negras
e ratos cinzentos roem
as antigas madeiras.
Esburacado trono que através
das janelas quebradas
da noite de Nápoles respira
com estertor terrível,
e entre os buracos
os negros riços caem nas faces
dos meninos formosos
como pequenos deuses esfarrapados.
Oh Itália, em tua morada
de mármore e esplendor, quem habita?
Assim tratas, antiga loba rubra,
a tua progênie de ouro?
Triste é a voz do sul nos caminhos.
Ácida sombra o céu
deixa tombar sobre as casas destruídas,
lá das portas sai
o ramo desgrenhado
da fome e a pobreza
e contudo canta
tua cabeça sonora.
Triste é a voz do sul nos caminhos.
Os povoados adiantam
mais de uma voz faminta
que no entanto canta.
O vermelho vinho bebo
levantando na taça
não só o sol maduro,
mas a luz antiga da ira.
Marcham rumo à terra
os camponeses da Itália.
Cansaram-se
de rasgar a pedra
e penetraram no domínio,
no feudal território.
Homens, mulheres, meninos
de repente se reuniram sob uma árvore
e de imediato
a limpar a terra,
a cavá-la,
a rompê-la,
e no sulco
cai o trigo,
o punhado de trigo que guardaram
como se fosse ouro
as mãos dos pobres,
e então
a primeira cozinha deitando fumaça,
o fogo,
a roupa que se lava,
a vida.
Vieram
os soldados,
o governo cristão.
“Não podeis semear,
não podeis fazer fogo.
A terra
dos senhores
deve continuar estéril.
Tirai o trigo,
desfazei o sulco,
apagai o fogo”.
Os velhos rostos,
as enrugadas mãos,
tão semelhantes à terra, sulcos, sementes, fogo,
ficaram imóveis
e quando levantaram os fuzis
os soldados cristãos
eles cantavam, e caíram
cantando.
O sangue regou o trigo
mas ali cresce
um cereal indomável,
um cereal que canta até na morte.
Isto se deu quando vivi na Itália.
Mas os camponeses
assim conquistaram a terra.
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