José Saramago
José de Sousa Saramago foi um escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998.
1922-11-16 Azinhaga, Golegã
2010-06-18 Tías, Espanha
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Uma após a outra as cidades foram reconquistadas e de todos os lugares afluíam as hordas que outro nome começavam a merecer
Vinham uns pelas planícies como vagarosos formigueiros outros subindo e descendo pelas lombas das colinas outros cortando caminho a meia encosta das montanhas
E todos vadeando os rios ou neles navegando nos barcos que restavam ou em jangadas que derivavam nas correntes rápidas
E quando chegavam à vista das cidades vinham os de dentro a recebê-los levando flores e pão porque de ambos tinham fome os que haviam vivido nas terras devastadas
E diziam os sofrimentos mútuos e riam chorando e mostravam as feridas dos combates e depois iam aos julgamentos dos invasores que todos seriam condenados à morte sem excepção
Porque eram os senhores da morte os empresários da tortura e por isso tinham de ser retribuídos na única moeda que conheciam
Porém muitas batalhas farão ainda mortos entre os que riem agora e choram não a morte para eles próxima mas a alegria de estar vivo
Ó este povo que corre nas ruas e estas bandeiras e estes gritos e estes punhos fechados enquanto as cobras os ratos e as aranhas da contagem se somem no chão
Ó estes olhos luminosos que apagam um a um os frios olhos de mercúrio que flutuavam sobre as cabeças da gente da cidade
E agora é necessário ir ao deserto destruir a pirâmide que os faraós fizeram construir sobre o dorso dos escravos e com o suor dos escravos
E arrancar pedra a pedra porque faltam os explosivos mas sobretudo porque este trabalho deve ser feito com as nuas mãos de cada um
Para que verdadeiramente seja um trabalho nosso e comecem a ser possíveis todas as coisas que ninguém prometeu aos homens mas que não poderão existir sem eles
Vinham uns pelas planícies como vagarosos formigueiros outros subindo e descendo pelas lombas das colinas outros cortando caminho a meia encosta das montanhas
E todos vadeando os rios ou neles navegando nos barcos que restavam ou em jangadas que derivavam nas correntes rápidas
E quando chegavam à vista das cidades vinham os de dentro a recebê-los levando flores e pão porque de ambos tinham fome os que haviam vivido nas terras devastadas
E diziam os sofrimentos mútuos e riam chorando e mostravam as feridas dos combates e depois iam aos julgamentos dos invasores que todos seriam condenados à morte sem excepção
Porque eram os senhores da morte os empresários da tortura e por isso tinham de ser retribuídos na única moeda que conheciam
Porém muitas batalhas farão ainda mortos entre os que riem agora e choram não a morte para eles próxima mas a alegria de estar vivo
Ó este povo que corre nas ruas e estas bandeiras e estes gritos e estes punhos fechados enquanto as cobras os ratos e as aranhas da contagem se somem no chão
Ó estes olhos luminosos que apagam um a um os frios olhos de mercúrio que flutuavam sobre as cabeças da gente da cidade
E agora é necessário ir ao deserto destruir a pirâmide que os faraós fizeram construir sobre o dorso dos escravos e com o suor dos escravos
E arrancar pedra a pedra porque faltam os explosivos mas sobretudo porque este trabalho deve ser feito com as nuas mãos de cada um
Para que verdadeiramente seja um trabalho nosso e comecem a ser possíveis todas as coisas que ninguém prometeu aos homens mas que não poderão existir sem eles
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