essa gata relaxa nos ferros da saída de incêndio
e é amarela como um sol
e nunca viu um cão naquela área
da cidade, e, cara, como é gorda,
cheia de ratos e petiscos do HARVEY'S BAR
e eu tenho subido pela saída de incêndio
pra visitar certa dama no hotel
e ela me mostra cartas do filho
na França, e é um quarto muito pequeno
cheio de garrafas de vinho e tristeza,
e às vezes lhe deixo um dinheirinho,
e quando desço pela saída de incêndio,
lá está de novo a gata e
ela se esfrega nas minhas pernas e
enquanto vou até O carro
ela me segue, e preciso ter cuidado
quando dou a partida, mas não muito:
ela é bem esperta, sabe
que o carro não é seu amigo.
e um dia fui visitar a dama
e ela estava morta. quer dizer, ela não estava lá,
o quarto estava vazio. tinha sido uma hemorragia,
me disseram. e agora iam alugar o quarto.
bem, ficar triste não adianta. desci
os degraus de ferro e eis ali a gata. eu
a peguei e fiz carinho nela, mas, estranho,
não era a mesma gata. o pelo era áspero
e os olhos, malignos. joguei-a no chão
e observei sua fuga, olhar raivoso em cima de mim.
então entrei no carro
e fui embora.