Allen Ginsberg

Allen Ginsberg

Irwin Allen Ginsberg foi um poeta americano da geração beat, que ficou conhecido pelo seu livro de poesia Howl.

1926-06-03 Newark, Nova Jérsia, EUA
1997-04-05 Nova Iorque, Nova Iorque, EUA
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Alguns Poemas

Salmo mágico

Porque o mundo está à beira do abismo e ninguém sabe o quevirá depois
Oh Fantasma que minha mente persegue de ano para ano desce do céu para esta carne trêmula
colhe meu olho fugitivo no vasto Raio que não conhece limites — Inseparável - Mestre
Gigante fora do tempo com todas as suas folhas caindo - Gênio do Universo - Mágico do Nada onde nuvens vermelhas aparecem -
Indizível Rei das rodovias que se foram - Ininteligível Cavalo saltando fora do sepulcro - Poente sobre a grande Cordilheira e inseto - Cupim -
Lamentoso - Riso sem boca, Coração que nunca teve carne para morrer - Promessa que não foi feita - Consolador, cujo sangue arde em um milhão de animais feridos -
Oh Misericórdia, Destruidor do Mundo, Oh Misericórdia, Criador das Ilusões Acalentadas, Oh Misericórdia, arrulho cacofônico da boca quente, Vem,
invade meu corpo com o sexo de Deus, sufoca minhas narinas com a infinita carícia da corrupção,
transfigura-me em vermes viscosos de pura transcendência sensorial, ainda estou vivo,
grasna minha voz com o mais feio que a realidade, um tomate psíquico falando-Te por milhões de bocas,
Alma minha com miríades de línguas, Monstro ou Anjo, Amante que vem foder-me para sempre - véu branco do Polvo sem Olhos -
Cu do Universo no qual desapareço - Mão Elástica que falou com Crane128 —Música que toca na vitrola dos anos vinda de outro Milênio - Ouvido dos edifícios de NY
Aquilo em que acredito - que vi - procurei incessantemente na folha cachorro olho - sempre culpa, falta, - o que me faz pensar -
Desejo que me criou, Desejo que escondo no meu corpo, Desejo que todo Homem conhece Morte, Desejo ultrapassando o mundo Babilônico possível
que faz minha carne sacudir-se em orgasmos do Teu Nome que não conheço nunca conseguirei nunca dizer -
Dizer à Humanidade para dizer que o grande sino toca um tom dourado nos balcões de ferro em cada milhão de universos,
eu sou Teu profeta volta para casa para este mundo para gritar um insuportável Nome pelo odioso sexto dos meus 5 sentidos
que conhece Tua mão em seu falo invisível, coberta pelos bulbos elétricos da morte -
Paz, Solucionador onde embaralho ilusões, vagina de Boca Moleque entra no meu cérebro por cima, Pomba da Arca com um ramo de Morte.

Enlouquece-me, Deus estou pronto para a desintegração da minha mente, desgraça-me no olho da terra,
ataca meu coração cabeludo come meu caralho Invisível coaxar do sapo da morte salta em mim matilha de pesados cães salivando luz,
devora meu cérebro fluxo Uno de interminável consciência, tenho medo da tua promessa devo fazer que minha oração grite no medo - Desce Oh Luz Criador & Devorador da Humanidade, arrebenta o mundo na sua loucura de bombas e morticínio,
Vulcões de carne sobre Londres, em Paris uma chuva de olhos - caminhões carregados de corações de anjos para lambuzar as paredes do Kremlin - a caveira de luz para Nova York -
miríade de pés recobertos de jóias nos terraços de Pequim - véus de gás elétrico baixando sobre a índia - cidades de
Bactéria invadindo o cérebro - a Alma escapando para as ondulantes bocas de borracha do Paraíso -
Este é o Grande Chamado, esta é a Toxina da Guerra Eterna, este é o grito da Mente assassinada na Nebulosa,
este é o Sino Dourado da Igreja que nunca existiu, este é o Bum no coração do raio do sol, esta é a trombeta do Verme na Morte,
Apelo do agarrâo castrado sem mãos Doação da semente dourada do futuro pelo terremoto & vulcão do mundo -
Sepulta meus pés sob os Andes, esparrama meus miolos sobre a Esfinge, hasteia minha barba e cabelo no Empire State Building,
cobre minha barriga com mãos de musgo, enche meus ouvidos com teu clarão, cega-me com arco-íris proféticos
Que eu prove finalmente a merda de Ser, que eu toque Teus genitais na palmeira,
que o vasto Raio do Futuro entre pela minha boca para fazer soar Tua Criação Eternamente Não-nascida, Oh beleza invisível para meu Século!
que minha oração ultrapasse minha compreensão, que eu deposite minha vaidade a Teus pés, que eu não mais tema o Julgamento de Alien neste mundo
nascido em Newark chegado para a Eternidade em Nova York chorando novamente no Peru pela definitiva Língua para salmodiar o Indisível,
que eu ultrapasse o desejo de transcendência e entre nas calmas águas do universo
que eu cavalgue esta onda, não mais eternamente afogado na torrente da minha imaginação
que eu não seja assassinado pela minha própria doida magia, crime este a ser punido nos piedosos cárceres da Morte,
homens entendei minha fala fora de seus próprios corações turcos, ajudem-me os profetas com a Proclamação,
que os Serafins aclamem Teu Nome, Tu subitamente em uma imensa Boca do Universo fazendo a carne responder.

1960

No túmulo de Apollinaire

. .. void le temps
Oú I’on connaitre I’avehir
Sans mourir de connaissance

I
Visitei Père Lachaise para procurar os restos mortais de Apolli
naire no dia em que o Presidente dos Estados Unidos apareceu
na França para a grande conferência dos chefes de estado
é isso aí o aeroporto azul de Orly claridade de primavera no ar de Paris
Eisenhower chegando do seu sepulcro americano
e sobre os túmulos com sapos de Père Lachaise uma ilusória
neblina espessa como fumaça de marijuana
Peter Orlovsky e eu caminhamos suavemente por Père Lachaise
ambos sabíamos que iríamos morrer
e assim nos demos nossas temporárias mãos ternamente numa
eternidade em miniatura como uma cidade
estradas e sinais pedras e colinas e nomes nas casas de todos
procurando o endereço perdido de um notável Francês do Vazio
para cometer nosso terno crime de homenagear seu abandonado menhir e deixar meu temporário Uivo Americano no topo do seu silencioso Calligramme
para que ele o lesse nas entrelinhas com olhos de Raio X de poeta
assim como miraculosamente lera sua própria lírica da morte no Sena
espero que algum garotío pirado deixe seu panfleto no meu túmulo para que assim Deus o leia para mim nas frias
noites de inverno do céu
nossas mãos já sumiram daquele lugar minha mão agora escreve
no quarto de Git-Le-Coeur Paris

Você não pode dirigir automóveis num túmulo de um metro e
oitenta no entanto o universo é um mausoléu suficiente
mente grande para qualquer coisa
o universo é um sepulcro e eu dou voltas sozinho por aqui
sabendo que Apollinaire andou pela mesma rua há 50 anos
sua loucura acaba de dobrar a esquina e Genet está conosco roubando livros
o Oddente está de novo em guerra e de que será o lúcido suicídio que deixará tudo em ordem outra vez
Guillaume Guillaume como invejo sua fama sua contribuição para as letras americanas
seu Zone com suas longas linhas loucas de besteiras sobre a morte
sai para fora do seu túmulo e fala pela porta da minha mente
solta novas séries de imagens hai-kus oceânicos táxis azuis em
Moscou negras estátuas de Buda
reza por mim na gravação fonográfica da sua existência anterior
com uma voz pausada e triste e com versos de uma profunda
música suave triste e estridente como a 1? Guerra Mundial
comi as cenouras azuis que você me mandou do túmulo e a orelha de Van Gogh e o peiote desvairado de Artaud
e caminharei pela ruas de Nova York envolto no manto negro da Poesia Francesa
fazendo improvisos sobre nossa conversa no Père Lachaise em Paris
e o poema do futuro que recebe sua inspiração da luz que escorre para dentro do seu túmulo

II
Aqui em Paris sou teu hóspede Oh sombra amistosa a mão ausente de Max Jacob
Picasso jovem me passa uma bisnaga de Mediterrâneo
eu presente no antigo banquete vermelho de Rousseau eu comi seu violino
grande festa no Bateau Lavoir não mencionada nos livros de texto sobre a Argélia
Huidobro esquecido no ósseo oceano Ungaretti recordando o branco pêlo púbico
Tzara no Bois de Boulogne explicando a alquimia das metralhadoras de cucos
ele chora ao traduzir-me para o sueco
bem vestido de gravata violeta e calças pretas
uma doce barba ruiva que emerge do seu rosto como o musgoque pende pelas paredes do Anarquismo
ele me contou infindavelmente suas brigas com André Breton
a quem um dia ajudara a aparar o bigode dourado
o velho Blaise Cendrars recebeu-me em seu estúdio e falou-me cansado da imensidão da Sibéria
Jacques Vaché convidou-me para examinar sua terrível coleção de pistolas
o pobre Cocteau amargurado por causa do outrora maravilhoso Radiguet diante do seu último pensamento eu desmaiei
Rigaut104 com uma carta de apresentação para a Morte
e Gide que elogiou o telefone e outras notáveis invenções
em princípio concordamos apesar da sua conversa de roupa de baixo de lavanda
mas mesmo assim ele bebeu para valer da erva de Whitman e mostrou-se intrigado por todos os amantes chamados Colorado
príncipes da América chegando com braçadas de Shrapnel e baseball
Ah Guillaume o mundo era tão fácil de combater parecia tio fácil
você sabia que os grandes classicistas políticos iriam invadir Montparnasse
com nenhuma coroa de louro profético para reverdecer suas testas
nenhum ramo verde nos seus travesseiros nenhuma folha das suas guerras —Maiakovski chegou e revoltou-se

III
Voltei sentei-me num túmulo e fiquei encarando teu tosco menhir
um pedaço de granito delgado como um falo inacabado
uma cruz apagada na pedra 2 poemas na lápide um Coeur Renversé
outro Habituez-vous comme moi A ces prodiges que j’annonce
Guillaume Apollinaire de Kostrowitsky
alguém deixou um pote de geléia com margaridas e uma rosa
surrealista de louça de datilografa a 5 ou 10 centavos
alegre túmulo pequeno com flores e coração virado
debaixo de uma delicada árvore musgosa sob a qual me sentei tronco tortuoso
ramagens de verão e cobertura de folhagens sobre o menhir e ninguém lá
Et quelle voix sinistre ulule Guillaume qu’es-tu devenu
seu vizinho ao lado é uma árvore
lá embaixo os ossos cruzados amontoados e talvez o crânio amarelo
e os poemas impressos Ãlcools no meu bolso sua voz no museu
Agora passadas de meia-idade percorrem o cascalho
um homem encara o nome e segue na direção do crematório
o mesmo céu rola entre as nuvens assim como nos dias mediterrâneos da Riviera durante a guerra
enamorado Apoio bebendo comendo ocasionalmente ópio recebendo a luz
Devem ter sentido o choque em St. Germain quando ele partiu Jacob & Picasso tossindo no escuro
uma atadura desenrolada e o crânio largado quieto na cama dedos grossos esticados o mistério e o ego idos
um sino dobra no campanário rua abaixo pássaros gorgeiam nas castanheiras
a Família Bremond dorme ao lado Cristo dependurado peitudo e sexy no túmulo deles
o cigarro queima no meu colo e enche a página de fumaça e chamas
uma formiga percorre minha manga de veludo cotelê a árvore
na qual estou recostado cresce vagarosamente
arbustos e ramagens erguem-se entre os túmulos uma sedosa
teia de aranha reluz no granito
eu estou enterrado aqui e sentado sobre meu sepulcro à sombra de uma árvore

Meu triste Eu

Certas vezes quando meus olhos estão vermelhos
eu subo até o alto do prédio da RCA
e contemplo meu mundo, Manhattan —
meu prédio, ruas onde pratiquei façanhas,
coberturas de prédios, camas, apartamentos
sem água quente
— na Quinta Avenida embaixo a qual também está presente
na minha mente
seus carros-formiga, pequenos táxis amarelos, homens
que caminham do tamanho de fiapos de lã —
Panorama das pontes, nascer do sol sobre a máquina de Brooklyn,
pôr do sol sobre Nova Jersey onde nasci
& Paterson onde brinquei com formigas —
meus amores mais tarde na 15a Rua,
meus amores no Baixo East Side,
meus fabulosos amores de outrora no Bronx
distante —
caminhos cruzados nessas ruas escondidas,
minha história recapitulada, minhas ausências
e êxtases no Harlem —
—o sol brilhando sobre tudo o que tenho
num pestanejar para o horizonte
na minha última eternidade —
a matéria é água.
Triste,
tomo o elevador e vou
para baixo, pensativo
e caminho pelas calçadas olhando as vidraças
dos homens, os rostos,
querendo saber quem ama
e detenho-me atordoado
diante da vitrine da loja de automóveis
parado perdido em pensamentos calmos
o tráfego subindo e descendo pela 5? Avenida
atrás de mim
esperando por um momento quando...

Hora de ir para casa & preparar o jantar & escutar
as românticas notícias da guerra pelo rádio
...todo movimento pára
& eu caminhe na tristeza atemporal da existência,
ternura escorrendo entre os prédios
as pontas dos meus dedos roçando o rosto da
realidade
meu próprio rosto sulcado de lágrimas no espelho
de alguma vidraça —no crepúsculo —
quanto nffo sinto mais
qualquer desejo —
de bombons —ou de possuir roupas ou as lamparinas
japonesas do intelecto —

Confuso por causa do espetáculo ao meu redor,
o Homem batalhando nas ruas
com pacotes, jornais,
gravatas, temos maravilhosos
rumo a seu desejo
Homens, mulheres, uma torrente nas ruas
luzes vermelhas disparando apressados relógios &
movimentos nas esquinas —
E toda essas ruas levando,
tSo intrincadas, buzinadas, alongadas
para avenidas
espreitadas pelos altos prédios ou incrustadas
nos cortiços
no meio desse trânsito engarrafado
carros e motores que berram
tio dolorosamente até chegar a esse
campo, esse cemitério
essa quietude
de leito de morte ou montanha
já vista
nunca mais reconquistada ou desejada
pela mente que chegará
no dia em que toda a Manhattan que eu vi tiver desaparecido

NY, 1958

Peço-lhe que volte

Esta noite fiquei ligado na janela do meu apartamento
sentado às 3 da manhã
olhando incandescentes tochas azuis
embaixo a rua amplamente iluminada
densas sombras assomando no asfalto recém-colocado
—assim como os rabinos medievais da semana passada
andando penosamente no escuro
lixo cruamente virado —bastões
& latas
e senhoras cansadas sentadas nos latões
de lixo espanhol —no calor mortal
- faz um mês
os hidrantes de incêndio tiveram um vazamento
hoje às 3 da tarde o sol numa neblina —
agora tudo escuro lá fora, um gato silencioso
atravessa a rua —eu mio
e ele olha para cima e passa por
uma pilha de entulho no caminho
até o brilhante latão dourado de lixo
(fósforo na noite
e fedor do beco)
( ou então do lixo nas portas)
—Acho que a América é um caos
A polícia atravanca as ruas com sua ansiedade
A viatura guincha & pára
Hoje uma mulher, 20 anos, bateu no irmão
que brincava com seus tijolos infantis
brincava com um enorme rochedo —
“Não faça isso agora! a polícia! a polícia!”
E não havia polícia lá —
Olho por cima do meu ombro —
Um monte de lixo do outro lado.

Gás lacrimogêneo! Dinamite! Bigodes!
Deixarei crescer a barba e carregarei adoráveis
bombas,
destruirei o mundo, me infiltrarei entre
as fendas da morte
E transformarei o universo —Ha! Tenho o segredo, carrego
salames subversivos na
minha pasta amarrotada
“Alho, pobreza, um testamento para o céu,”
um estranho sonho na minha carne:
Nuvens radiantes, eu ouvi a voz de Deus no
meu sono, ou de Blake acordado, ou minha
própria ou
o sonho de uma rotisseria de vacas mugindo
e porcos grunhindo —
O golpe de uma facada
um dedo decepado no meu cérebro —
umas poucas mortes que eu conheço —
Oh, irmãos na Láurea
Será o mundo real?
Será a Coroa de Louros
uma piada ou uma coroa de espinhos? —
Depressa, passa
pelo cu
Lá vou eu
Vem Pavor
—a rua lá fora,
eu espreitando Nova York
O caminhão negro passa roncando &
vibrando fundo —
Que
tai
se
os
mundos
fossem
uma
série
de degraus
Que
tal
se
os
degraus
se encontrassem
de novo
na
Margem
—Deixando-nos voar como pássaros para dentro do Tempo
—olhos e faróis de carros —
A retração do vazio
dentro da Nebulosa
Essas Galáxias cruzam-se como roldanas & elas passam
como gás
Que florestas nascem.

15 de setembro, 1959

Mescalina

Ginsberg apodrecendo, olhei-o nu no espelho hoje
reparei no velho crânio, estou ficando calvo
minha cabeça brilha na luz da cozinha sob o cabelo fino
como o crânio de algum monge nas velhas catacumbas iluminadas por
um guarda com a lanterna
seguido por um bando de turistas
assim a morte existe
meu gato mia e olha para dentro do armário
Boito canta esta noite na vitrola sua antiga canção de anjos
o busto de Antinoo na fotografia marrom ainda olhando a partir da minha parede
uma luz jorrada das delicadas mios de Deus manda uma pomba de madeira para a calma virgem
o universo de Beato Angelico
o gato ficou louco e mia arranhando o chão

o que acontecerá quando o gongo da morte golpear a cabeça de ginsberg apodrecendo
em que universo entrarei
morte morte morte morte morte o gato sossegou
estaremos algum dia livres —de Ginsberg apodrecendo
Então deixa apodrecer, graças a Deus que eu sei
graças a quem
graças a quem
Graças a Ti, Oh senhor além do meu olho
o caminho deve levar a algum lugar
o caminho
o caminho
pelo cemitério dos navios que apodrecem, pelas orgias de Angelico
Bip, emite um vagido de bebê e já se foi
talvez seja essa a resposta, não saberia a não ser tendo um filho
Sei lá, nunca tive um filho nunca terei do jeito como estou indo

Sim, eu devia ser bom, devia casar
saber como é
mas não agüento essas mulheres em volta de mim
cheiro de Naomi
bah, estou travado neste familiar ginsberg apodrecendo
nem agüento mais os garotos
não agüento
não agüento
e quem, na verdade, está a fim de tomar no cu
Mares imensos passam sobre
o fluir do tempo
e quem está a fim de ser famoso e dar autógrafos como um
astro de cinema?

Quero saber
eu quero eu quero ridículo saber saber O QUE ginsberg apodrecendo
eu quero saber o que vai acontecer depois que eu apodrecer
pois já estou apodrecendo
meu cabelo está caindo eu estou barrigudo eu estou cheio de sexo
meu cu se arrasta pelo universo eu sei demais
e não sei o suficiente
quero saber o que acontece depois que eu morrer
logo descobriremos
preciso mesmo saber agora?
adianta alguma coisa adianta adianta
morte morte morte morte morte
deus deus deus deus deus deus deus o Lone Ranger
o ritmo da máquina de escrever
O que posso fazer Céus socando a máquina de escrever
estou travado trocar o disco Gregory ah ótimo ele está fazendo justamente isso
e eu estou consciente demais de um milhão de ouvidos
neste momento orelhas miseráveis, fazendo qualquer negócio
fotografias demais nos jornais
amarelados apagados recortes de jornais
estou saindo do poema para uma bosta contemplativa

lixo da mente
lixo do mundo
o homem é meio lixo

todo o lixo no túmulo
O que poderá Williams estar pensando em Paterson, a morte tão nele
tão já tão já
Williams, o que é a morte?
Você agora se defronta com a grande questão a cada momento
ou você a esquece no café da manhã olhando para a cara do seu velho e feio amor
estará você preparado para renascer
para livrar-se deste mundo e entrar no céu
ou livrar-se, livrar-se e tudo acabado - e ver uma vida - toda a eternidade - passada
para o nada, um enigma proposto pela lua para a terra sem resposta
Nenhuma Glória para o homem! Nenhuma Glória para o homem! Nenhuma glória para mim! Não para mim!
Não adianta escrever quando o espírito não conduz

N Y 1959

Kral Majales

E os Comunistas não têm nada a oferecer a não ser lentes e bochechas gordas e policiais mentirosos
e os Capitalistas proferem Napalm e dinheiro em valises verdes para a Nudez,
e os Comunistas criam indústria pesada mas o coração também é pesado
e os lindos engenheiros estão todos mortos, os técnicos secretos conspiram para seu próprio glamour
no Futuro, no Futuro, mas agora bebem vodka e lamentam as Forças de Segurança,
e os Capitalistas bebem gin e whisky em aeroplanos mas deixam milhões de morenos Indianos famintos
e enquanto as bundas de Comunistas e Capitalistas se embolam o homem Justo é preso ou roubado ou tem a sua cabeça cortada,
mas não como Kabir, e o pigarro do homem Justo sobre as nuvens na luz do sol é uma saudação à saúde do céu azul.
Pois eu fui preso três vezes em Praga, uma por cantar bêbado na rua Narodni,
uma chutado no passeio público da meia-noite por um tira bigodudo que gritava BOUZERANT,
uma por perder minha caderneta com opinões sobre sexo e sonhos políticos não usuais,
e eu fui expulso de Havana num aeroplano por detetives de uniforme verde,
e fui expulso de Praga num aeroplano por detetives de terno tcheco,
Jogadores de baralho saídos de Cézanne, os dois estranhos carneirinhos que entraram na sala de Josef K pela manhã
também entraram na minha, e comeram à minha mesa, e examinaram meus escritos,
e seguiram-me noite e dia da casa dos amantes aos cafés do Centrum –
E eu sou o Rei de Maio, que é o poder da juventude sexualizada,
e eu sou o Rei de Maio, que é indústria e eloqüência e ação em amour,
e eu sou o Rei de Maio, que é os longos cabelos de Adão e a Barba do meu próprio corpo
e eu sou o Rei de Maio, que é Kral Majales na língua da Tchecoslováquia,
e eu sou o Rei de Maio, que é a velha poesia Humana, e 100.000 pessoas procuram por meu nome,
e eu sou o Rei de Maio, e em alguns minutos aterrisarei no Aeroporto de Londres
e eu sou o Rei de Maio, naturalmente, pois sou de origem eslava e um Judeu Budista
que cultua o Sagrado Coração de Cristo o corpo azul de Krishna as costas retas de Ram
as guias de Xangô o nigeriano cantando Shiva Shiva de um jeito inventado por mim,
e o Rei de Maio é uma honraria médio-européia, minha no século XX apesar das naves espaciais e
da Máquina do Tempo, porque eu ouvi a voz de Blake numa visão,
e repito aquela voz. E eu sou o Rei de Maio que dorme com adolescentes sorridentes.
E eu sou o Rei de Maio, que tinha que ser expelido de meu Reino com Honra, como os velhos,
para mostrar a diferença entre o Reino de César e o Reino de Maio do Homem –
e eu sou o Rei de Maio porque eu coloquei o dedo na testa para saudar uma garota pesada e
luminosa que tremia as mãos ao dizer “um momento, Senhor Ginsberg”
antes um gordo garoto à paisana pisou entre nossos corpos –eu estava indo para a Inglaterra –
e eu sou o Rei de Maio, de volta para ver Bunhill Fields e caminhar em Hampstead Heath,
e eu sou o Rei de Maio, num aeroplano gigante que toca o céu de Albion tremendo de medo
enquanto o aeroplano urra para pousar no concreto cinza, balança e expele ar
e rola lentamente para uma parada sob as nuvens com parte do paraíso azul ainda visível.
E no entanto e eu sou o Rei de Maio, os Marxistas me bateram pela rua, me prenderam à noite
inteira na Delegacia de Polícia, seguiram-me pela primavera de Praga, me detiveram em
segredo e deportaram-me de nosso reino num aeroplano.
E por isso escrevi este poema num jato sentado no meio do Paraíso.

 07 de Maio, 1965

Kaddish

para Naomi Ginsberg193
1894-1956


I
Estranho pensar em você agora que partiu sem espartilhos & olhos, enquanto percorro o calçamento ensolarado de Greenwich Village
na direção do Centro de Manhattan, meio-dia claro de inverno e passei a noite toda acordado, falando, falando, lendo o Kaddish em voz alta, escutando o grito cego dos blues de Ray Charles na vitrola,
o ritmo, o ritmo – e tua lembrança na minha cabeça três anos depois – E li em voz alta, sozinho, os triunfantes versos finais de Adonais194 –
chorei ao perceber o quanto sofremos –
E o quanto a Morte é o lenitivo sonhado, cantado, profetizado por todos os cantores, como no Hino Hebraico ou no Livro Budista das Respostas – e uma folha murcha em minha própria imaginação – ao amanhecer –
Sonhando de novo através da vida, Teu tempo – e o meu acelerando-se rumo ao Apocalipse,
o momento final – a flor queimando no Dia – e o que virá depois,
olhando a mente que por sua vez enxergou uma cidade americana
num relance, e o grande sonho de Mim ou China ou você ou uma Rússia
fantasma ou uma cama desfeita que nunca existiu –
como um poema escuro – que escapou de volta para o Esquecimento –
Mais nada para ser dito e mais nada para ser chorado, só os seres no Sonho, agarrados ao desaparecerem,
suspirando, berrando, comprando e vendendo pedaços de fantasma, adorando-se uns aos outros,
adorando o Deus incluído nisso tudo – desejo ou fatalidade? – enquanto dura, uma Visão – mais nada?
Salta ao meu redor enquanto saio e caminho pela rua, olho para trás, Sétima Avenida, a muralha de prédios de escritórios com suas janelas, acotovelando-se altos sob a nuvem, altos por um momento como o céu
– e o céu acima – um velho lugar azul.
ou rua abaixo pela Avenida para o Sul, para – enquanto caminho na direção do Baixo East Side – lá onde você caminhou há 50 anos, menina – da Rússia, comendo os primeiros tomates venenosos da América –
amedrontada no cais –
então debatendo-se na multidão de Orchard Street, para onde? – para Newark –
para as confeitarias, primeiras sodas caseiras do século, sorvete batido à mão no quarto dos fundos em mesas de madeira escura mofada –
Para a educação casamento colapso nervoso, operação, escola normal e aprendendo a ser louca, num sonho – que vida é essa?
Para a Chave na Janela195 – E a grande Chave repousa sua cabeça de luz no topo de Manhattan, no assoalho, repousa na calçada – um só raio de luz que se mexe enquanto desço pela Primeira Avenida na direção do Teatro Iídiche – e do lugar da pobreza
que você conheceu e eu conheci, mas sem preocupar-me agora – Estranho
ter passado por Paterson e o Oeste e a Europa e novamente aqui, agora com os gritos dos espanhóis nas soleiras das portas, meninos negros e escadas de emergência tão velhas quanto você
– Embora você não esteja mais velha, agora isso ficou aqui comigo
Eu, de qualquer modo, talvez tão velho como o universo – e penso que ele morre conosco – o suficiente para cancelar o que vem depois – Aquilo que veio parte sempre cada vez –
Isso é bom! Assim, não há do que arrepender-se – nada de radiadores de medo, desamor, tortura, até dor de dente no final –
Embora ao vir seja um leão devorando a alma – e o cordeiro, a alma em nós, Ah! oferecendo-se em sacrifício para a feroz fome da mudança –
pelo e dentes – e o rugido da dor nos ossos, crânio pelado, costela quebrada, pele rasgada, Implacabilidade
Ai, ai! cada vez pior! Estamos numa fria! E você está fora, a Morte a deixou de fora, a Morte teve piedade, você passou por seu século, passou por Deus, passou pelo caminho que chega lá – Finalmente passou por você mesma – Pura – De volta à escuridão Bebê anterior a seu Pai, anterior a todos nós, anterior ao mundo –
Lá, repousa. Mais nada de sofrimento para você. Sei para onde foi, tudo bem.
Mais nada de flores nos campos estivais de Nova York, agora mais nada da alegria nem do medo de Louis, 196
e mais nada de sua doçura e óculos, suas décadas de escolas, dívidas, casos amorosos, telefonemas amedrontados, leitos de parto, parentes, mãos –
Mais nada da irmã Elanor – ela partiu antes de você – nós não contamos –
você a matou – ou ela se matou por ter que aguentar você – coração artrítico – Porém a Morte as matou, às duas – Tanto faz –
Nem mais nada de lembranças da sua mãe, lágrimas de 1915 em filmes mudos por semanas e semanas seguidas – esquecendo, sofrendo ao assistir Marie Dressler197 dirigir-se à humanidade, Chaplin jovem dançando,
ou Boris Godunov, Chaliapin no Met198 elevando sua voz de Czar choroso em pé no saguão com Elanor & Max – olhando também os capitalistas ocuparem seus lugares na plateia, alvos casacos de pele, diamantes, com os Jovens Socialistas, 199 pegando uma carona pela Pennsylvania, bojudas calças pretas de ginástica, fotografias de 4 garotas cada qual com as mãos na cintura da outra, olhar risonho, tão recatadas, solidão virginal de 1920,
todas essas meninas envelheceram ou já morreram, e suas longas cabeleiras no túmulo – felizes ao arranjarem maridos mais tarde –
Você conseguiu – eu também cheguei! – meu irmão Eugene antes – até hoje se afligindo e se apertando até sua última mão enrijecida enquanto convive com seu câncer – ou se matará – mais tarde talvez – logo pensará –
E este é o último momento do qual me lembro, no qual os vejo todos, agora através de mim – mas não vejo você
Não antevi o que você sentiu – qual abismo mais horrendo desdentado de boca estragada chegou primeiro – para você – e estava você preparada?
Para ir aonde? Para aquela escuridão – aquela – aquele Deus? um clarão?
Um senhor no Vazio? como um olho dentro da nuvem negra no sonho?
Adonais finalmente com você?
Ultrapassa minha lembrança! Incapaz de adivinhar! Não é só o crânio amarelo no túmulo ou uma caixa de pó com vermes e uma tira de pano encardido – Caveira com auréola? Podes crer?
Será apenas o sol que brilha uma única vez para a mente, só o clarão da existência que já foi?
Nada além do que temos – do que você teve – tão pouca coisa – no entanto, Triunfo
por teres estado aqui e te transformado, como árvore caída ou flor – ligada ao solo – mas louca, com suas pétalas coloridas pensando no Grande Universo, abalada, a copa cortada, folha arrancada, escondida num hospital como um caixote vazio de ovos, trouxa de roupas, amarga –
perdida no cérebro lunático da Lua, anulação.
Nenhuma flor igual a essa flor que sabia estar no jardim e que lutou contra a faca – e que perdeu
Decepada pelo alfanje gelado do imbecil Boneco de Neve – e isso na Primavera – estranho pensamento fantasmagórico – que Morte – Afiado gume de gelo na mão – coroado de rosas murchas – um cachorro no lugar dos olhos – uma fábrica de escravos como caralho200 – coração de ferro elétrico.
Todas as acumulações da vida que nos consomem – relógios, corpos, consciência, sapatos, seios – filhos paridos – seu Comunismo –
“paranoia” nos hospitais.
Certa vez você chutou Elanor na perna, mais tarde ela morreu do coração.
Você de derrame. Dormindo? no espaço de um ano, vocês duas, irmãs
na morte. Estará Elanor feliz?
Max padece sozinho num escritório no Baixo Broadway, solitários bigodões sobre relatórios de Contabilidade a noite toda, algo assim. Sua vida passa – como é que ele a vê – e do que duvida agora? Ainda sonhando com ganhar dinheiro ou que poderia ter ganho dinheiro, contratado babá, tido filhos, até mesmo ter achado tua Imortalidade,
Naomi?
Logo o verei. Agora preciso continuar – para conversar com você – assim como eu não o fiz enquanto você tinha boca.
Para sempre. E estamos fadados a isso, Para Sempre – como os cavalos de Emily Dickinson201 – voltados para o Fim.
Eles conhecem o caminho – Esses Corcéis – correm mais rápido do que pensamos – é nossa própria vida que eles cruzam – e carregam consigo.
Magnífica, não mais carpida, golpeada no coração, mente para trás, sonhada casada mortal mudada – Bunda e rosto acabados com assassinato.
No mundo, doada, enlouquecida flor, Utopia que não chegou a ser, encerrada sob o lenho, consolada na Terra, confortada no Ermo, Jeová, aceita.
Inominado, Face Una, Para sempre além de mim, sem começo, sem fim, Pai da Morte. Ainda que eu não esteja preparado para esta Profecia, eu que não me casei, eu sem hinos, eu sem Céu, sem meta na bem-aventurança, ainda assim te adorarei.
A ti, Céu depois da morte, Único abençoado no Vazio, nem luz nem escuridão, Eternidade Sem Dias –
Recebe isto, este salmo, vindo de mim, um dia jorrado da minha mão, alguma coisa do meu Tempo agora entregue ao Nada – para louvar-Te –
Porém a Morte
Este é o fim, a redenção da Selvageria, caminho para o Maravilhado, casa almejada por Todos, lenço negro lavado pelas lágrimas – página para além do Salmo – Última transformação minha e de Naomi – rumo à perfeita Escuridão de Deus – Morte, para teus fantasmas!


II
De volta e de volta – refrão – dos Hospitais – ainda não escrevi tua
história – deixá-la abstrata – umas poucas imagens passam pela cabeça – como o coro de saxofone das casas e dos anos –
lembrança de eletrochoques.
Por aquelas longas noites quando criança no apartamento em Paterson, observando teu nervosismo – você era gorda – seu próximo passo –
Por aquela tarde quando fiquei em casa em vez de ir à escola, para cuidar de você – de uma vez por todas – quando fiz um voto para sempre, já que o homem discordava da minha opinião sobre o cosmos, então eu estava perdido –
Por minha missão mais tarde – promessa de iluminar a humanidade –
isto é, soltar partículas – (louco como você) – (sanidade um truque convencional) –
Mas você olhava pela janela para a esquina da Igreja de Broadway e espreitava um assassino místico de Newark,
Assim, telefonei para o Doutor – “OK, leve-a para repousar” – assim, vesti meu casaco e levei-a rua abaixo – No caminho, um garoto da escola berrou inesperadamente – “Para onde vai, senhora, para a Morte?”
Estremeci –
E você tapou o nariz com a gola de pele comida pelas traças, máscara antigases contra o veneno infiltrado na atmosfera da cidade, espalhado pela Vovó –
E quem seria o motorista da camioneta de queijos, se não um membro da quadrilha? Você teve um sobressalto ao vê-lo, mal podia conduzi-la –
para Nova York, Times Square mesmo, pegar outro ônibus da Greyhound –
– e lá ficamos parados umas 2 horas combatendo insetos invisíveis e doença judaica – brisa venenosa de Roosevelt –
soltos para pegá-la – e eu acompanhando-a, torcendo para que tudo
acabasse bem num quarto sossegado numa casa vitoriana junto a um lago.
3 horas de viagem por túneis passando por toda a indústria americana, Bayonne preparando-se para a Segunda Guerra Mundial, tanques, refinarias, fábricas de soda, refeitórios, rotundas fortificadas das locomotivas – até os pinheirais de índios de Nova Jersey – cidades tranquilas – longas estradas por bosques arenosos –
Pontes atravessando riachos sem cervos, antigos colares de contas enchendo o leito arenoso – lá embaixo, uma machadinha ou osso de Pocahontas – e um milhão de velhas votando em Roosevelt nas suas casinhas pintadas de marrom, estradas saindo da rodovia da loucura –
talvez um gavião numa árvore ou um ermitão procurando um galho cheio de corujas –
O tempo todo reclamando – com medo dos estranhos no banco da frente, roncando descuidadamente – em que viagem de ônibus estarão eles roncando agora?
“Allen, será que você não entende – é que – desde que enfiaram aquelas 3 varas grandes nas minhas costas – fizeram qualquer coisa comigo no Hospital, me envenenaram, querem me ver morta – 3 varas grandes, 3 varas grandes –
“A Puta! Vovó! Semana passada a vi, vestindo calças como um velho, um saco nas costas, subindo no prédio pela parede de tijolos
“Na escada de emergência, com germes de veneno, para jogar em mim
– à noite – talvez Louis a esteja ajudando – está dominado por ela –
“Eu sou sua mãe, leve-me para Lakewood” (perto do lugar onde o Graf Zeppelin havia caído, todo Hitler na Explosão) “onde eu possa me esconder”.
Chegamos lá – a casa de repouso do Dr. Whatzis – ela escondeu-se
atrás de um armário – exigiu transfusão de sangue.
Fomos postos para fora – caminhando com a maleta rumo a
desconhecidas casas com gramados à sombra – anoitecer, penumbra entre os pinheiros – longas ruas mortas cheias de grilos e urtigas –
Então já havia mandado ela calar a boca – casa grande CASA DE
REPOUSO, QUARTOS – deixei o pagamento para a semana com a senhoria – levei a maleta de ferro para dentro – sentei na cama esperando a hora de fugir –
Quarto limpo no sótão com uma colcha acolhedora – cortinas de laçarotes – tapete tecido à mão – Papel de parede manchado tão velho quanto Naomi – Estávamos em casa –
Parti no ônibus seguinte para Nova York – reclinei a cabeça no encosto do último banco, deprimido – o pior ainda por vir – deixando-a, viajei entorpecido – eu só tinha 12 anos.
Iria ela esconder-se no quarto para descer alegremente na hora do café?
Ou trancaria a porta para espreitar pela janela procurando espiões nas esquinas? Escutando o invisível gás Hitleriano pelo buraco da fechadura?
Sonhando numa poltrona – ou divertindo-se às minhas custas – diante de um espelho, só?
Aos 12 anos atravessando Nova Jersey de ônibus à noite, deixando Naomi entregue às Parcas na casa mal-assombrada de Lakewood – eu entregue ao ônibus do meu destino – afundado no assento – todos os violinos partidos – meu coração amargurado entre minhas costelas –
mente vazia – estivesse ela em segurança no seu caixão –
Ou então de volta à Escola Normal de Newark, estudando sobre a América de saia negra – inverno nas ruas sem almoço – um tostão, um pão202 – à noite em casa para cuidar de Elanor no quarto –
Primeiro colapso nervoso em 1919 – ficou em casa deitada no quarto escuro sem ir à escola por três semanas – alguma coisa ruim – nunca disse o que foi – todo ruído machucava – sonhando com as fendas de Wall Street

Antes da depressão cinzenta – mudou-se para o Estado de Nova York –
sarou – Louis tirou uma foto sua de pernas cruzadas na grama – seus longos cabelos com flores – sorrindo – tocando canções de ninar num bandolim – a fumaça das urtigas em colônias de férias de tendências esquerdistas e eu vendo árvores na infância –
ou de novo lecionando, rindo com os idiotas, as turmas mais atrasadas
– sua especialidade russa – idiotas de lábios sonhadores, olhos grandes, pés delgados & dedos doentios, recurvados, raquíticos –
cabeças grandes balançando sobre Alice no País das Maravilhas, um quadro-negro cheio de G A T O.
Naomi lendo pacientemente, histórias tiradas de um livro de contos de fadas comunistas – História da Súbita Doçura do Ditador – Clemência dos Bruxos – Exércitos beijando-se –
Caveiras ao redor da Mesa Verde – O Rei & os Trabalhadores – o Jornal de Paterson os publicou nos anos 30 até ela enlouquecer eles ou eles fecharem ou ambas as coisas.
Ó, Paterson! Cheguei tarde em casa aquela noite. Louis estava preocupado. Como podia eu ser tão – será que não pensava? Não a devia ter largado lá. Louca em Lakewood. Chamar o médico. Telefonar para a casa no pinheiral. Tarde demais.
Fui para a cama exausto, querendo largar o mundo (provavelmente de novo apaixonado por R aquele ano – meu herói do colégio na minha mente, garoto judeu que mais tarde se tornou médico, então um garoto
quieto e fino –
Eu mais tarde dando a vida por ele, mudei-me para Manhattan – segui-o na Faculdade – Rezei na balsa prometendo ajudar a humanidade se entrasse – prometi, o dia que fui fazer o vestibular –
que seria honesto revolucionário advogado trabalhista – me prepararia para isso – inspirado em Sacco Vanzetti, Norman Thomas, Debs, Altgeld, Sandburg, Poe – Brochuras Azuis. 203 Pretendia ser Presidente ou então Senador.
promessa ingênua – depois sonhos de prosternar-me diante dos joelhos escandalizados de R declarando meu amor em 1941 – Que doçura haveria ele de me mostrar, pois, a mim que tanto o desejara e tanto me desesperara
– primeiro amor – um choque –
Mais tarde uma avalanche mortal, montanhas de homossexualismo, Matterhorns de caralho, Grand Canyons de cu – pesando na minha cabeça melancólica –
enquanto isso caminhava pela Broadway imaginando o Infinito como uma bola de borracha sem espaço além dela – e o que existiria fora dela? –
voltando para casa na Graham Avenue ainda melancólico passando pelas solitárias cercas de arbustos ao longo da rua, sonhando depois do cinema –
)
O telefone tocou às 2 da madrugada – Emergência – ficou louca –
Naomi escondendo-se debaixo da cama gritando por causa dos percevejos de Mussolini – Socorro! Louis! Buba! 204 Fascistas! Morte! – a dona da pensão aterrorizada – o empregado bicha velha gritando com ela –
Terror que despertou os vizinhos – velhas do segundo andar recuperando-se da menopausa – todos aqueles trapos entre coxas, lençóis limpos, tristes por bebês perdidos – maridos cinéreos – filhos troçando em
Yale ou passando brilhantina no cabelo na Universidade de Nova York – ou tremendo na Faculdade de Educação de Montclair como Eugene –
Sua perna grossa dobrada até o peito, mão estendida Afastem-se, vestido de lã na altura das coxas, casaco de pele puxado para baixo da cama – entrincheirada com as malas ao pé da cama.
Louis de pijama ao telefone ouvindo apavorado – agora? Quem poderia resolver? – minha culpa, despachando-a para a solidão – sentado no quarto escuro, no sofá, trêmulo, tentando resolver –
Tomou o trem da manhã para Lakewood, Naomi sob a cama – pensou
que ele estivesse trazendo policiais com veneno – Naomi gritando – Louis, o que então aconteceu com seu coração? – Teria ele sido morto pelo êxtase de Naomi?
Arrastou-a para fora, dobrando a esquina, táxi, enfiou-a para dentro com a maleta mas o motorista os largou na frente da drogaria205 – Ponto de ônibus, duas horas de espera.
Eu nervoso, deitado na cama do apartamento de 4 cômodos, a cama grande da sala, junto à escrivaninha de Louis – tremendo – ele chegou tarde da noite em casa, contou-me o que acontecera.
Naomi no balcão dos remédios defendendo-se do inimigo – revoadas de livros infantis, saquinhos de banho de espuma, aspirinas, vidros, sangue

Louis aterrorizado junto ao balcão dos refrigerantes – com escoteiras de Lakewood – viciadas em Coca – enfermeiros – motoristas de ônibus esperando seu turno – Policiais da delegacia local, perplexos – e um padre, sonhando com porcos num antigo penhasco?
Farejando o ar – Louis apontando para o vazio? Fregueses vomitando suas Cocas – ou encarando – Louis humilhado – Naomi triunfante – A
Revelação da Conspiração. O ônibus chega, os motoristas não os levarão para Nova York.
Telefonema para o Dr. Whatzis, “ela precisa ser internada”, o Hospital psiquiátrico – Médicos do Estado em Greystone – Traga-a para cá, Mr.
Ginsberg.
Naomi, Naomi – suando, olhos esbugalhados, gorda, o vestido desabotoado de lado – cabelo na testa, meias malignamente caídas nas pernas – gritando que queria transfusão de sangue – uma mão reivindicatória levantada – sapato na mão – descalça na Farmácia –
A chegada dos inimigos – quais venenos? Gravadores? FBI?
Zdanov206 escondido atrás do balcão? Trotsky criando bacilo de rato no fundo da loja? Tio Sam em Newark, preparando mortais perfumes no bairro negro? Tio Ephraim, bêbado de assassinatos no bar dos políticos, tramando algo para Haia? Tia Rose afiando as agulhas da Guerra Civil Espanhola? 207
Até que a ambulância alugada por 35 dólares veio de Red Bank –
Agarraram-na pelos braços – ataram-na à padiola – gemendo, envenenada por coisas imaginárias, vomitando química através de Jersey, pedindo piedade desde Essex Country até Morristown –
E de volta a Greystone onde ficou por três anos – esse foi o ataque final, devolveu-a mais uma vez ao Hospício –
Em que pavilhões – andei por lá mais tarde, muito – velhas senhoras catatônicas? cinzentas como nuvens ou cinza ou paredes – sentadas cantarolando pelo chão – Cadeiras – e as bruxas encarquilhadas, reclamando – implorando por minha misericórdia de 13 anos de idade –
“Leve-me para casa” – Algumas vezes fui sozinho em busca da Naomi
perdida tomando eletrochoques – e eu dizia, “Não, Mamãe você está louca,
– Confie nos Drs.”
E Eugene, meu irmão, seu filho mais velho, estudando direito fora de casa num quarto mobiliado em Newark –
Chegou a Paterson no dia seguinte – sentou-se no sofá cambaio da sala
– “Tivemos de mandá-la de volta a Greystone” –
– sua cara perplexa, tão jovem, então só olhos com lágrimas – então só lágrimas rastejando pelo seu rosto – “Para quê?”, lamento vibrando no seu maxilar, olhos fechados, voz aguda – a cara da dor de Eugene.
Ele longe, refugiado num elevador da Biblioteca de Newark, sua garrafa diária de leite no peitoril da janela do apartamento mobiliado por 5
dólares a semana no Centro dos trilhos do bonde –
Ele trabalhava 5 horas por dia a 20 dólares/semana – durante os anos da Faculdade de Direito – permaneceu só e inocente perto dos prostíbulos dos negros.
Sem trepar, pobre virgem – escrevendo poemas sobre Ideais e cartas políticas para o editor do Pat Eve News208 – (ambos escrevíamos, denunciando o Senador Borah e os Isolacionistas – e sentindo algo de misterioso no Paço Municipal de Paterson –
Esgueirei-me lá dentro uma vez – torre do Moloch local com um pináculo fálico e cimeira ornamentada, estranha Poesia gótica plantada na Market Street – réplica do Hotel de Ville de Lyon –
alas, balcões e portais ornamentados, entrada para o gigantesco relógio da cidade, quarto secreto de mapas cheios de Haworthone209 – escuros Socialistas na comissão de Finanças – Rembrandt fumando na penumbra –
Silenciosas mesas envernizadas na grande sala de reuniões –
Vereadores? Comissão de Finanças? – Mosca, o cabeleireiro, conspirando
– Crapp, o gângster, dando ordens a partir da privada – Briga de loucos por
Zonas, Bombeiros, Tiros & Metafísica de Quartinho dos Fundos – estamos todos mortos – lá fora, no ponto de ônibus, Eugene mirava através da sua infância – na qual o Pastor Evangelista pregou loucamente por 3 décadas, cabelo arrepiado, pirado & fiel à sua Bíblia desprezível – rabiscou Prepara-te para Encontrar Teu Deus na calçada cívica –
Ou Deus é Amor na passarela sobre a ferrovia – delirava como eu deliraria, o solitário Evangelista – morte no Paço Municipal – )
Mas Gene, jovem – na Faculdade de Educação de Montclair por 4 anos
– lecionou por um semestre & largou tudo para seguir em frente na vida –
com medo dos Problemas Disciplinares – estudantes italianas de sexo escuro, garotas rudes dando trepadas, nada de inglês, sonetos deixados de lado – e ele não sabia muita coisa – só o que perdeu –
assim partiu sua vida em duas e entrou em Direito – manuais azuis realmente grandões e conduzindo o velho elevador a 13 milhas de distância em Newark e estudou para valer para o futuro.
acabara de deparar-se com o Grito de Naomi na soleira da porta do seu fracasso, pela última vez, Naomi fora-se, nós sozinhos – em casa – ele sentado lá –
Então tome um pouco de canja de galinha, Eugene. O Homem do Evangelho desespera-se diante do Paço Municipal. E esse ano Louis tem amores poéticos de meia-idade de subúrbio – em segredo – música de seu livro de 1937 – Sincero – ele aspira à beleza –
Nenhum amor desde que Naomi gritou – desde 1923? – agora perdida
no pavilhão de Greystone – novo choque para ela – Eletricidade seguindo a Insulina 40.
E o metrasol a fez engordar.
Eis que alguns anos mais tarde ela voltou de novo para casa –
havíamos antecipado e planejado muita coisa – eu esperava por aquele dia
– minha Mãe de novo para cozinhar & – tocar piano – cantar ao bandolim
– Ensopado de Bofe, & Stenka Razin, 210 & a linha comunista na guerra com a Finlândia – e Louis endividado – suspeita de ser dinheiro envenenado – capitalismos misteriosos
– & percorreu o longo saguão da entrada & olhou a mobília. Ela nunca lembrou de tudo. Alguma amnésia. Examinou as toalhinhas de mesa – e o conjunto da sala de jantar havia sido vendido –
a mesa de Mogno – 20 anos de amor – foi para o brechor – ainda tínhamos o piano – e o livro de Poe – e o Bandolim, empoeirado, precisando de cordas –
Ela foi para o quarto dos fundos deitar-se na cama e ruminar ou tirar uma soneca, esconder-se – Entrei com ela, não deixá-la sozinha – deitei-me a seu lado – venezianas fechadas, penumbra, fim de tarde – Louis na sala da frente, na mesa, esperando – talvez cozinhando galinha para o jantar –
“Não tenha medo de mim só porque estou voltando do Sanatório – Sou sua mãe –”
Pobre amor, perdido – que medo – eu deitado lá – Disse, “Te amo, Naomi”, – duro, junto a seu braço. Teria chorado, era essa a união solitária sem consolo? – Nervosa e logo se levantou.
Estaria ela satisfeita alguma vez? E – veio sentar-se no sofá novo junto à janela da frente, pouco à vontade – queixo apoiado na mão – estreitando os olhos – para qual fatalidade naquele dia –
Palitando seus dentes com a unha, lábios formando um O, suspeita –
velha vagina gasta do pensamento – ausente olhar de soslaio – alguma dívida maligna anotada na parede, a ser paga & os envelhecidos seios de
Newark chegando perto –
Pode ter escutado uma intriga no rádio pelos fios elétricos da sua cabeça controlada pelas 3 grandes varas deixadas nas suas costas por gângsteres da amnésia, durante o hospital – doíam entre os ombros –
Na sua cabeça – Roosevelt devia saber do seu caso, contou-me – com medo de matá-la, agora que o governo conhecia seus nomes – rastreados até Hitler – queria deixar a casa de Louis para sempre.
Uma noite, súbito ataque – seu barulho no banheiro – como se fosse sua alma crocitando – convulsões e vômito vermelho saindo da sua boca –
água de diarreia explodindo do seu traseiro – de quatro diante da privada –
urina escorrendo entre suas pernas – largada vomitando no chão de azulejos lambuzados com suas fezes negras – sem desmaiar –
Aos quarenta, varicosa, nua, gorda, condenada, escondendo-se do lado de fora do apartamento junto ao elevador, chamando a Polícia, gritando para que sua amiga Rose viesse socorrê-la –
Uma vez trancou-se com lâmina de barbear ou iodo – podia ouvi-la tossindo em prantos no lavabo – Louis arrombou a porta pelo vidro pintado de verde, arrastamo-la até o quarto.
Então quieta por meses aquele inverno – passeios sozinha, lá perto na Broadway, lia o Daily Worker. 211 Quebrou o braço, caindo na rua gelada –
Começou a planejar sua fuga das conspirações financeiras cósmicas assassinas – mais tarde fugiu até o Bronx para sua irmã Elanor. E aí está outra saga da finada Naomi em Nova York.
Ou por Elanor ou pela Associação dos Trabalhadores onde trabalhava, endereçando envelopes, ela foi levando – fazia compras de sopa de tomates Campbell’s – economizava o dinheiro que Louis lhe mandava –
Mais tarde arranjou um namorado e era médico – Dr. Isaac trabalhava
para o Sindicato Nacional dos Marítimos – agora uma velha boneca italiana gorda, atarracada e calva – e ele também era órfão – mas o puseram na rua – Velhas crueldades –
Mais desarrumada, sentada na cama ou na cadeira, de combinação, sonhando sozinha – “Estou com calor – Estou ficando gorda – Eu tinha um corpo tão bonito antes de ir para o hospital – Deviam ter me visto em Woodbine –” Isso num quarto mobiliado perto da sede do Sindicato dos Marítimos, 1943.
Olhando as fotos dos bebês nus nas revistas – anúncios de talco para nenê, papinha de cenoura espremida com carne – “Não pensarei em nada a não ser pensamentos belos.”
Virando a cabeça, dando voltas e voltas ao redor do pescoço em hipnose à luz da janela no verão, em recordações de sonho –
“Toco no seu rosto, toco no seu rosto, ele toca meus lábios com sua mão, eu tenho pensamentos belos, o bebê tem uma mão tão bonita.” –
Ou um repelão-Não no seu corpo, repugnância – algum pensamento de
Buchenwald212 – alguma insulina passando por sua cabeça – um sobressalto nervoso de careta do Involuntário – (como o estremecimento quando mijo) – má química da sua córtex – “Não, não pense nisso. Ele é um rato.”
Naomi: “E quando morremos nos transformamos numa cebola, num repolho, numa cenoura, numa abóbora, numa verdura.” Eu cheguei de Columbia para a cidade e concordo. Ela lê a Bíblia, pensa pensamentos belos o dia todo.
“Ontem eu vi Deus. Como ele é? Bem, à tarde subi por uma escada –
ele tem uma casinha modesta no campo, como em Monroe, NY, as granjas de galinhas no bosque. É um velho solitário com uma barba branca.
“Cozinhei o jantar para ele. Fiz um belo jantar – sopa de lentilha, verduras, pão e manteiga, – leite – ele sentou-se à mesa e comeu, estava triste.
“Eu lhe disse, Veja todas essas lutas e matanças acontecendo por aqui, O que há? Por que não dá um jeito nisso?
“Eu tento, disse ele – É tudo que posso fazer, parecia cansado.
Continua solteiro até hoje e gosta de sopa de lentilha.” Servindo-me enquanto isso um prato de peixe frio – repolho cru picado encharcado de água da torneira – tomates mal cheirosos – comida dietética velha de semanas – beterraba & cenoura ralada com molho aguado, morno – mais e mais dessa lamentável comida – às vezes não consigo comê-la de náusea –
a Caridade das suas mãos fedendo a Manhattan, loucura, desejo de agradar-me, peixe frio mal cozido – vermelho pálido junto ao osso. Seus cheiros – e frequentemente nua no quarto, então olho para a frente ou folheio um livro ignorando-a.
Certa vez achei que estava querendo que eu trepasse com ela –
flertando consigo mesma no lavabo – deitada na cama enorme que ocupava a maior parte do quarto, vestido levantado até os quadris, grande talho de pelos, cicatrizes de operação, pâncreas, feridas no ventre, abortos, apêndice, as marcas dos cortes destacando-se na gordura como horríveis zíperes grossos longos lábios esgarçados entre suas pernas – O que, até mesmo cheiro de cu? Fiquei frio – mais tarde um pouco enojado, não muito – pareceu uma boa ideia talvez tentar – conhecer o Monstro do Útero Inicial – talvez – dessa maneira. Iria ela se incomodar? Precisa de um amante.
Yisborach, v’istabach, v’yispoar, v’yisroman, v’yisnaseh, v’yisshador, v’yishalleh, v’yishallol, sh’meh, d’kudsho, b’rich hu213
E Louis recuperando-se no apartamento encardido do bairro negro de Newark – morando em quartos escuros – mas encontrou uma garota com a qual mais tarde se casou, apaixonando-se de novo – embora marcado e tímido – ferido por 20 anos do louco idealismo de Naomi.
Certa vez voltei para casa depois de muito tempo em NY, ele solitário
– sentados no quarto de dormir, ele na cadeira da escrivaninha virada de frente para mim – chorando, lágrimas nos olhos vermelhos sob os óculos –
Que o havíamos deixado – Gene estranhamente entrou no exército – ela vivendo fora por sua conta, quase infantil no seu quarto mobiliado. Assim, Louis caminhava até o centro para buscar a correspondência, dava aulas no colégio – sentava-se à escrivaninha da poesia, desamparado – comeu sofrimento no Bickford’s aqueles anos todos – passados.
Eugene saiu do Exército e voltou para casa, mudado e solitário – cortou fora o nariz na operação judaica – durante anos abordando garotas na Broadway oferecendo-lhes cafezinhos para transar com elas – Entrou na Universidade de Nova York, a sério, para terminar Direito –
E Gene morou com ela, comeu suas tortas vagabundas de peixe enquanto ela ficava cada vez mais louca – Emagreceu ou sentiu-se incapaz, Naomi exibindo poses de 1920 para a Lua, seminua na cama ao lado.
roía as unhas e estudava – era o filho-enfermeiro da louca – Ano seguinte mudou-se para um quarto perto de Columbia – pensara que ela queria viver com os filhos –
“Ouça a súplica da sua mãe, peço-lhe” – Louis ainda lhe mandando cheques – aquele ano eu estive no hospício por 8 meses214 – minhas próprias visões não mencionadas neste Lamento aqui –
Mas então ficou meio doida – Hitler no seu quarto, via seu bigode no
lavabo – agora com medo do Dr. Isaac, desconfiando que ele estivesse na conspiração de Newark – mandou-se para Bronx e foi viver junto ao Coração Reumático de Elanor –
E Tio Max nunca levantava antes do meio-dia, porém Naomi já ligava o rádio às 6 da manhã, procurando espiões – ou vigiando o peitoril da janela,
pois no terreno baldio embaixo rastejava um velho com seu saco, enfiando pacotes de lixo no seu capote preto.
Edie, irmã de Max, trabalha – por 17 anos guarda-livros na Gimbels215 – morava num apartamento embaixo, divorciada – assim, Edie acolheu Naomi na Avenida Rochambeau –
Cemitério de Woodlawn do outro lado da rua, amplo campo de tumbas
onde Poe certa vez – Última parada do metrô de Bronx – monte de comunistas naquela zona.
Que então se matriculou nas aulas noturnas de pintura da Escola para Adultos do Bronx – caminhava sozinha para a aula sob o Elevado Van Courtland – pintava Naomismos –
Seres humanos sentados na grama de alguma Colônia de Férias da Despreocupação dos verões de outrora – santos cabisbaixos com longas calças mal ajambradas, do hospital –
Noivas na frente do Baixo East Side com noivos baixinhos – trens perdidos do Elevado correndo sobre a cobertura da babilônia dos prédios de apartamento do Bronx –
Pinturas tristes – mas ela se expressava. Seu bandolim acabara, todas as cordas partidas na sua cabeça, ela tentava. Em direção à Beleza? ou a alguma velha Mensagem de vida?
Mas começou a chutar Elanor e Elanor tinha um problema de coração –
subia para interrogá-la sobre Espionagem durante horas – Elanor extenuada. Max fora de casa no escritório, fazendo a contabilidade de tabacarias até a noite.
“Eu sou uma grande mulher – e verdadeiramente uma bela alma – por
isso eles (Hitler, Vovó, Hearst, 216 os Capitalistas, Franco, o Daily News, os anos 20, Mussolini, os mortos-vivos) querem silenciar-me. Buba é a chefe de uma rede de espionagem – ”
Chutando as meninas, Edie & Elanor – Despertava Edie à meia-noite para dizer-lhe que ela era uma espiã e Elanor um rato. Edie trabalhava o dia todo e não aguentava – Estava organizando o Sindicato – E Elanor começou a morrer no andar de cima, na cama.
Os parentes me chamam, ela está piorando – Só sobrara eu – Fui de metrô com Eugene para vê-la, comi peixe velho –
“Minha irmã cochicha pelo rádio – Louis deve estar no seu apartamento – sua mãe lhe diz o que falar – MENTIROSOS! – Preparei comida para meus dois filhos – toquei bandolim –”
A noite passada a cotovia me despertou / A noite passada quando tudo estava quieto / cantava na dourada luz da lua / cantava na colina gelada.
Ela fez.
Empurrei-a contra a porta e gritei “NÃO CHUTE ELANOR!” – ela me
olhou – Desprezo – morrer – incrédula, seus filhos tão ingênuos, tão bobos
– “Elanor é o pior dos espiões! Ela está sendo comandada!”
“– Não há fios no quarto!” – Estou gritando com ela – última tentativa, Eugene escutando na cama – o que poderia fazer para fugir dessa Mamãe fatal – “Você separada de Louis faz anos – Vovó velha demais para andar –

De repente estamos todos vivos – até eu & Gene & Naomi num
mitológico quarto primordial – gritando uns com os outros no Para Sempre – Eu de jaqueta de Columbia, ela semidespida.
Eu socando aquela cabeça que via Rádios, Varas, Hitlers – a escala completa das alucinações – de verdade – seu próprio universo – nenhuma estrada levando a outro lugar – nem ao meu – nenhuma América, nem mesmo um mundo –
No qual você vá como todos os homens, como Van Gogh, como Hannah a louca, tudo a mesma coisa – até a sentença final – Trovão, Espíritos, Relâmpago!
Eu vi seu túmulo! Ó, estranha Naomi! Meu próprio – túmulo fendido!
Shema Y’Israel217 – Eu sou Svul Avrum218 – você – na morte?
Sua última noite na escuridão do Bronx – telefonei – por meio do hospital para a polícia secreta.
Que veio, quando você e eu estávamos sós, você berrando com Elanor no meu ouvido – ela que arquejava na sua cama, emagrecera –
Tampouco esquecerei, diante das batidas na porta, seu terror dos espiões, – a Lei que avança, pela minha honra – Eternidade entrando no quarto – você fugindo para o banheiro, nua, escondendo-se num protesto de derradeiro destino heroico –
olhando-me nos meus olhos, traída – os policiais finais da loucura, salvando-me – do seu pé contra o coração partido de Elanor,
sua voz para cima de Edie exausta de Gimbels chegando em casa para o rádio quebrado – e Louis precisando de um divórcio barato, ele quer casar logo – Eugene sonhando, escondendo-se na rua 125, movendo ações contra negros para fazê-los pagarem mobília de segunda mão, defendendo garotas negras –
Protestos no banheiro – Disse que estava sã – vestindo uma roupa de
algodão, seus sapatos então novos, sua bolsa e recortes de jornais – não sua honestidade –
enquanto inutilmente tornava seus lábios mais reais com baton, olhando pelo espelho para ver se a Insanidade era eu ou um carro cheio de policiais
ou Vovó espionando aos 78 – Sua visão – Ela subindo pelas paredes do cemitério com um saco de sequestrador político – ou o que você viu nos muros de Bronx, de camisola cor-de-rosa à meia-noite, olhando o terreno baldio pela janela –
Ah, Avenida Rochambeau – Playground de Fantasmas – último prédio
de apartamentos para espiões no Bronx – último lar para Elanor ou Naomi, foi aqui que essas duas irmãs comunistas perderam sua revolução –
“Está certo – ponha seu casaco, Sra. – vamos – Estamos com o carro embaixo – quer vir com ela até a delegacia?”
Então a viagem até lá – segurei a mão de Naomi e segurei sua cabeça junto do meu peito, sou mais alto – beijei-a e disse que estava fazendo aquilo pelo seu próprio bem – Elanor doente – e Max com problemas cardíacos – Necessidades –
Para mim, – “Por que fez isto?” – “Sim Sra. seu filho terá que deixá-la dentro de uma hora” – A Ambulância
demorou umas poucas horas – partiu às 4 da madrugada rumo a algum
Bellevue dentro da noite no centro da cidade – partiu para o hospital para sempre. Vi-a sendo levada – acenava, lágrimas nos olhos.
Dois anos mais tarde, de volta de uma viagem ao México219 –
desolação da paisagem plana de Brentwood, arbustos mirrados e mato ao longo dos trilhos do ramal não utilizado da ferrovia na direção do hospício

prédio central de tijolos novos com 20 andares – perdido nos amplos gramados da cidade de loucos de Long Island – enorme cidade da Lua.
Asilo estendendo suas asas gigantes sobre o caminho para um buraco negro minúsculo – a porta – entrada pelo escroto –
Entrei – cheiro esquisito – de novo os corredores – pelo elevador – até uma porta de vidro no Pavilhão das Mulheres – até Naomi – Duas rosadas enfermeiras de branco – Elas a trouxeram para fora, Naomi me encarou – e eu ofeguei – Ela havia sofrido um derrame –
Muito pequena, encarquilhada até os ossos – a velhice chegara para Naomi – agora alquebrada em cabelos brancos – vestido solto sobre o esqueleto – rosto encovado, velha! definhava – bochecha de anciã –
Uma mão rígida – o peso dos quarenta anos e menopausa reduzidos a
isso por um ataque cardíaco, agora capenga – rugas – uma cicatriz na cabeça, a lobotomia – ruína, a mão apontando para baixo, para a morte –
Ó rosto de russa, mulher na grama, teu comprido cabelo negro será coroado de flores, o bandolim nos teus joelhos –
Beleza Comunista, sentada aqui desposada no verso entre margaridas, felicidade prometida ao alcance da mão –
mãe santa, agora sorri para o amor, seu mundo renasceu, crianças correm nuas pelo campo recoberto de ranúnculos,
elas comem no pomar de ameixeiras no fim do prado onde encontram
uma cabana na qual um preto velho de cabelos brancos conta os segredos da sua barrica de chuva –
filha abençoada vem à América, anseio ouvir de novo tua voz, lembrando a música da tua mãe, a canção do Front Natural –
Ó musa gloriosa que me carregou no ventre, deu-me para sugar a primeira vida mística & ensinou-me a fala e a música, da tua cabeça
sofredora primeiro recebi a Visão –
Torturada e ferida no crânio – Que alucinações loucas dos malditos levaram-me para fora do meu crânio em busca da Eternidade até que eu encontrasse a paz em Ti, Ó Poesia – e em todo o chamamento da humanidade pela Origem,
Morte que és a mãe do universo! – Agora veste tua nudez para sempre, alvas flores no cabelo, teu casamento lacrado atrás do céu – revolução alguma destruirá essa virgindade –
Ó, bela Garbo do meu Carma – todas as fotografias de 1920 na Colônia de Férias Nicht-Gedeiget220 aqui intocadas – com todos os professores de Newark – Elanor não partiu, Max não espera seu espectro – nem Louis se aposentou do Colégio –
De volta! Você! Naomi! Quebranto em você! Imortalidade descarnada
e revolução chegaram – mulher mirrada e alquebrada – aos cinéreos olhares intramuros dos hospitais, cinzento dos pavilhões na pele –
“Você é um espião?” Eu sentado na mesa do amargor, olhos enchendo-
se de lágrimas – “Quem é você? Louis o mandou? Os fios –”
em seu cabelo enquanto batia na cabeça – “Não sou uma menina má –
não me mate! – eu ouço o teto – eu criei dois filhos –”
Dois anos desde que lá estive – comecei a chorar – Ela me encarou – a enfermeira interrompeu o encontro por um momento – entrei no banheiro para esconder-me atrás das brancas paredes do toalete
“O Horror” eu chorando – vê-la de novo – “O Horror” – como se ela
estivesse morta e com a podridão do funeral – “O Horror!”
Voltei, ela gritou mais ainda – levaram-na embora – “Você não é Allen
– ” observei seu rosto – mas ela passou por mim, sem olhar –
Abriu a porta do pavilhão – cruzou-a sem uma olhada para trás,
subitamente sossegada – olhei mais uma vez – ela parecia velha – à beira do túmulo – “Todo o Horror!”
Mais um ano, deixei NY – no chalé da Costa Oeste em Berkeley221
sonhei com sua alma – a qual, através da vida, de que maneira se mantivera naquele corpo, em cinzas ou maníaco, além da alegria –
próxima de sua morte – com olhos – era meu próprio amor em sua forma, Naomi, ainda minha mãe na terra – mandei-lhe uma longa carta –
& escrevi hinos aos loucos – Obra do misericordioso Senhor da Poesia que faz com que a erva arrancada permaneça verde ou que a rocha se abra em ervas – ou que o Sol seja constante para a terra – Sol de todos os girassóis e dias em claras pontes de ferro – que brilha nos velhos hospitais
– assim como em meu jardim –
Voltando certa noite de San Francisco, Orlovsky no meu quarto –
Whalen em sua calma cadeira – um telegrama de Gene, Naomi morta –
Lá fora inclinei minha cabeça até o chão sob os arbustos junto à garagem – sabia que ela estava melhor –
finalmente – não mais deixada para olhar sozinha pela Terra – 2 anos de solidão – ninguém, perto dos 60 anos – velha mulher descarnada –
outrora Naomi de longas tranças da Bíblia –
Ou Ruth que chorou na América – Rebeca envelhecida em Newark –
Davi recordando-se de sua harpa, agora advogado em Yale
ou Svul Avrum – Israel Abraham – eu mesmo – para cantar na selva em louvor a Deus – Ó Elohim! – e assim até o fim – 2 dias depois da morte recebi sua carta –
Estranhas profecias, de novo! Ela escreveu – “A chave está na janela, a chave está na luz do sol na janela – Eu tenho a chave – Case-se Allen não tome drogas – a chave está entre as barras, na luz do sol na janela.
Com amor,
sua mãe”
a qual é Naomi –
HINO
No mundo que Ele criou de acordo com sua vontade Bendito Louvado
Glorificado Celebrado Exaltado o Nome do Santificado Bendito é Ele!
Na casa de Newark Bendito é Ele! Na casa dos loucos Bendito é Ele! Na casa da Morte Bendito é Ele!
Bendito seja Ele na homossexualidade! Bendito seja Ele na Paranoia!
Bendito seja Ele na cidade! Bendito seja Ele no Livro!
Bendito seja Ele que mora na sombra! Bendito seja Ele! Bendito seja Ele!
Bendita seja você Naomi em lágrimas! Bendita seja você Naomi nos medos!
Bendita Bendita Bendita na doença!
Bendita seja você Naomi nos Hospitais! Bendita seja você Naomi na solidão! Bendito seja seu triunfo! Benditas sejam tuas grades! Bendita seja a solidão dos teus últimos anos!
Bendito seja teu fracasso! Bendito seja teu ataque! Bendito seja o fechar dos teus olhos! Bendito seja o encovado da tua face! Benditas sejam tuas coxas murchas!
Bendita sejas tu Naomi na Morte! Bendita seja a Morte! Bendita seja a Morte!
Bendito seja Ele Quem leva todo sofrimento para o céu! Bendito seja Ele no final!
Bendito seja Ele que constrói o Céu na escuridão! Bendito Bendito Bendito seja Ele! Bendito seja Ele! Bendita seja a Morte de Todos nós!


III
Só por não esquecer o começo quando ela bebeu refrigerantes baratos nos necrotérios de Newark,
só por tê-la visto chorar nas mesas cinzentas dos longos pavilhões do seu universo
só por ter conhecido suas ideias malucas de Hitler na porta, os fios na sua cabeça, as três grandes varas
marretadas nas suas costas, as vozes do forro berrando por causa das suas feias trepadas cedo por 30 anos,
só por ter visto os saltos no tempo, a memória apagar-se, o troar das guerras, o rugido e o silêncio de um imenso choque elétrico,
só por tê-la visto pintar grosseiros quadros de trens correndo por cima dos telhados do Bronx
seus irmãos mortos em Riverside ou Rússia, sua solidão em Long Island escrevendo uma carta perdida – e sua imagem na luz do sol na janela
“A chave está na luz do sol na janela nas grades a chave está na luz do sol”,
só por ter chegado até aquela noite escura do ataque numa cama de ferro enquanto o sol se punha em Long Island
e lá fora o vasto Atlântico rugia o grande clamor do Ser para si
mesmo para retornar ao Pesadelo – criação dividida – com sua cabeça pousada num travesseiro de hospital para morrer
– num último relance – toda a Terra uma Luz perene na familiar escuridão
– nada de lágrimas por causa dessa visão –
Mas a chave devia ser deixada para trás – na janela – a chave na luz do sol
– para os vivos – que podem receber
essa fatia de luz nas mãos – e abrir a porta – e olhar para trás enxergando a
Criação que resplandece de volta ao mesmo túmulo, do tamanho do universo,
do tamanho do tique-taque do relógio do hospital no arco sobre a porta branca –


IV
Ó, mãe
o que eu deixei fora
Ó, mãe
o que eu esqueci
Ó, mãe
adeus com um comprido sapato preto
adeus
com o Partido Comunista e uma meia rasgada
adeus
com seis fios de cabelo negro no vão dos teus seios
adeus
com teu velho vestido e uma longa barba negra ao redor da vagina
adeus
com tua barriga flácida
com teu medo de Hitler
com tua boca de histórias sem graça
com teus dedos de bandolins quebrados
com teus braços de gordas varandas de Patterson
com tua barriga de greves e chaminés
com teu queixo de Trotsky e a Guerra Espanhola
com tua voz cantando pelos trabalhadores arrebentados caindo aos pedaços com teu nariz de trepada mal dada com teu nariz de cheiro de picles de
Newark
com teus olhos
com teus olhos de Rússia
com teus olhos sem dinheiro
com teus olhos de falsa China
com teus olhos de tia Elanor
com teus olhos de Índia faminta
com teus olhos mijando no parque
com teus olhos de América em plena queda
com teus olhos de fracasso ao piano
com teus olhos dos parentes na Califórnia
com teus olhos de Ma Rainey222 morrendo numa ambulância com teus olhos de Checoslováquia atacada por robôs223
com teus olhos indo para a aula de pintura à noite em Bronx
com teus olhos de Vovó assassina no horizonte da Escada de
Emergência
com teus olhos fugindo nua do apartamento gritando pelo
corredor
com teus olhos sendo levada embora por policiais numa
ambulância
com teus olhos amarrada na mesa de operação
com teus olhos de pâncreas extraído
com teus olhos de operação de apêndice
com teus olhos de aborto
com teus olhos de ovários arrancados
com teus olhos de eletrochoque
com teus olhos de lobotomia
com teus olhos de divórcio
com teus olhos de ataque
com teus olhos, só
com teus olhos
com teus olhos
com tua Morte cheia de Flores


V
Có có có corvos crocitam no sol branco sobre lápides em Long Island Senhor Senhor Senhor Naomi debaixo dessa grama metade da minha vida e tão minha quanto sua
Có có seja meu olho sepultado no mesmo Solo onde estou postado como Anjo
Senhor Senhor grande Olho que mira Tudo e se move numa nuvem negra có có estranho grito de Seres arremessados ao céu sobre árvores ondeantes Senhor Senhor Ó, Dominador de gigantes Ultrapassa minha voz num campo ilimitado no Sheol224
Có có o chamado do Tempo solto do chão e lançado por um momento no universo
Senhor Senhor um eco no céu o vento atravessa folhas dilaceradas o troar da memória
có có os anos todos meu nascimento um sonho có có Nova York o ônibus o sapato partido a enorme escola có có tudo Visões do Senhor
Senhor Senhor Senhor có có có Senhor Senhor Senhor có có có

Senhor NY, 1959
Poetry Breaks: Allen Ginsberg Reads "A Supermarket in California"
Allen Ginsberg on Letterman, June 10, 1982
Allen Ginsberg interview (1994)
An Elegy for Allen Ginsberg 2006 FULL MOVIE
Beats in NYC (1959) - Allen Ginsberg, Jack Kerouac & Friends ( AI Colourised)
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"Howl" read by Allen Ginsberg, 1975
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