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Tomaz Kim é o pseudónimo literário de Joaquim Fernandes Thomaz Monteiro-Grillo, professor universitário de profissão, poeta, tradutor e ensaísta. Os estudos primários que efectuou na África do Sul e os inícios de um curso de engenharia na Universidade de Londres apetrecharam-no com um profundo conhecimento da língua inglesa, de largas repercussões para a sua futura carreira literária. Licenciado em Letras em Lisboa, realizou depois estudos especializados nas Universidades de Oxford, Heidelberg, Bonn e Göttingen, tendo, em 1960, defendido o seu doutoramento em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Nesta instituição leccionou até à sua prematura morte em 1967. Jovem colaborador ainda nos últimos números da Presença, Tomaz Kim fundava, em 1940, com os seus amigos Ruy Cinatti e José Blanc de Portugal, sendo co-director, a 1ª. Série dos Cadernos de Poesia (1940-42; 5 nºs.), publicação que, sob o lema todo abarcante e de herança um pouco presencista – «A Poesia é só uma» –, se propunha arquivar «a actividade da poesia actual, sem dependência de escolas ou grupos literários, estéticas ou doutrinas, fórmulas ou programas.» No ano anterior, estreara-se com um notável primeiro livro de poesia que, depois, aliás, pouco prezaria: Em Cada Dia Se Morre. Ainda assim, João Pedro de Andrade classificaria este livro de «índice emocional das preocupações e angústias do homem moderno» (A Poesia da Moderníssima Geração, 1943, p. 33). Se com Cinatti inaugurou em Portugal «um tipo de lirismo depurado e um pouco hermético», como escreve David Mourão-Ferreira, é preciso paralelamente reconhecer que há em Tomaz Kim, já desde 1939 (o caso, por exemplo, da «Elegia» cujo incipit é «Tormento/E eco/»), uma subtil preocupação de articulação concretizante e minimalista e um latente adiscursivismo estrutural, intermitentemente repetido, que o distancia um pouco, na direcção que indica, dos seus dois camaradas (e íntimos amigos) dos Cadernos de Poesia: o supracitado Ruy Cinatti e Jorge de Sena (que aderira subsequentemente ao grupo). Tem a importância poética destes dois últimos sido considerada, individualmente, maior. Todavia, do ponto de vista de uma perspectiva da evolução espiritual poética per se, convirá notar que a produção poética de Kim, tão subitamente interrompida pela morte e esquecida como ainda hoje se encontra, se mostra, com a passagem do tempo, tanto ou mais importante que a dos seus dois amigos Cinatti e Sena (especialmente em casos de determinados poemas isolados, por exemplo, a já citada «Elegia», «Bucólica», «Marinha», «Paz»). Porque a sua posição, partilhada com um Francisco José Tenreiro ou mesmo com um Fernando Echevarría, afirma-se como a de um discreto artesão, muito cedo entre nós, de propostas para-concretizantes e que iriam elaborar-se mais substancial e claramente depois, já sob a influência do concretismo, no Grupo da Poesia 61 (composto ironicamente por alguns alunos seus). Verdade será que este inovadorismo é, frequentemente, manchado por uma irregularidade e até certa indecisão, aparentemente indiferente da conjuntura poética: por exemplo, a par da esforçada compressão articulatória de «Paz», ou mesmo da «Elegia», ou do «Tempo de Tempo», ou «Tempo de Amor, I», ou mesmo «Tempo de Silêncio», persistem, perplexamente, obsessões amplificantes de carácter anafórico-salmódico de «Tempo de Amar» ou de «Tempo de Poesia». Difícil é ajuizar se se trata de um plano de conciliação se de uma aglomeração (forçada externamente por amigos) de propostas diversas, até no tempo da elaboração, casualmente recolhidas e nem sempre coesamente organizadas. Observações do seu diálogo diário, o facto de muitos dos poemas posteriormente publicados em livro terem já aparecido (com alguma distância no tempo) em números dos Cadernos de Poesia, a própria escolha em epígrafe para «Flora e Fauna» (retirada de um poema de Marianne Moore: «I, too, dislike it: there are things that are important beyond all this fiddle...») levariam a suspeitar uma escolhida e rarificada atitude de genuína e silenciosa sapiência estóica. Uma poesia discretamente intimista, grave na aparência, quase relutante, dramática mas muito pouco espectacular, linguisticamente reabilitadora do quotidiano, marcada por um compacto misticismo (também sintáctico) eivado de uma melancólica amargura deísta mas recorrente, por vezes difidentemente, de um cristianíssimo augustianismo. Tal misticismo também compactamente sintáctico terá muito pouco a ver com uma «sintaxe inglesa» (como se tem pretendido), antes, sim, muito, com a jurisdição textual idiossincrática e pessoalíssima sintaxe, linguisticamente revolucionária, de Manley Hopkins. Neste sentido e não no de poesia «restrita» ou a que «falta amplitude de fôlego» terá de ser com legitimidade textual lida a produção poética de Tomás Kim onde, como Jorge de Sena bem notou, pulsa «o empirismo de uma sensação poética sempre adjectivada» (Estudos de Literatura Portuguesa, II, 1988, p.168). Como ensaísta, tradutor (especialmente de textos de língua inglesa) e actualizador do ideário nacional [ver artigos diversos em Revista da Faculdade de Letras, Tricórnio, 4 Ventos, Jornal de Letras e Artes, Rumo, Espiral, Tempo Presente, Brotéria, Cronos (1940-1965)], a sua actividade merece referência. Não só traduziu sonetos de Shakespeare e Notas Inglesas de Fernando Pessoa para uma apresentação internacional do «Orfeu» como, com Jorge de Sena, foi responsável pela divulgação entre nós da «Waste Land» de T. S. Eliot e, com Fernando de Mello Moser, pela tradução de Ensaios, também de Eliot. A sua tradução, anotada e prefaciada, de A Defence of Poetry de Shelley, publicada em 1957, constitui uma valiosa achega à problemática do estatuto poético. No volume de ensaios intitulado O Romance Contemporâneo (1964), pode ler-se uma contribuição sua sobre o romance inglês. Publicado em 1959, existe o seu distinto estudo, Gerard Manley Hopkins, S. I.