Memória

Cheira
a café de manhã
Cheira a assados ao meu dia
Cheira a doce à tarde
À noite, a chuva cai.

Vem então o cheiro
Mistura de tantos outros
Que o dia transportou
Deixando neste último
o que melhor / pior passou.

Dele a memória guarda
a permanência daquele dia
Soma-se ainda a ele
o cheiro da chuva fria.

Ah, o fugaz olfato
Esse sentido que absorve
Das paixões a lembrança
Trazidas tão de repente

Num cheiro, o doce contente
ou o azedo inconformado
o perfume inesperado
exalando, às vezes, saudade!

Dulcíssima brevidade
Só o olfato se apercebe
Que todo segundo passa
Por esse ar que a gente bebe

E que só em nós se guarda
Quando uma semente solta
Dele em nós se embebe.

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