Velho Moleque

Serei
menino de novo,
Criança pagã, nua de crenças tolas.
Meu credo será viver na molecagem,
Largarei meu velho na passagem.

Vestirei a roupagem da puerícia,
Deitando fora essa da velhice
E acharei hilário uns poucos tolos,
Que enxergarem em mim a caduquice.

E o tempo por demais zeloso,
Sabendo às vezes ser cioso
Gritará comigo um pouco,
Mas lhe farei ouvidos moços.

Ditoso, correrei pelos caminhos,
Desnudo tomarei banhos de riacho,
Andarei descalço pelos matos
E não conhecerei pudores ou receios.

Alguns se apressarão em alaridos:
- Lá vai o velho louco varrido!
E eu explodirei em risos,
Pois no menino descobri que vivo.

Mas se o tempo em ardil com a morte,
Resolverem arrematar-me a sorte,
Levarão consigo apenas o senil,
Pois o menino que mim reside
Traz o alento de ser sempre vivo.

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