Apresentação de Donizete Galvão
Do silêncio da pedra é o terceiro volume de poesia de Donizete Galvão. Tem em comum com os anteriores -- Azul navalha (1988) e As faces do rio (1991) -- a profundidade das inquietações temáticas e o vigor dos recursos estilísticos -- além (é claro) da postura independente, livre das atitudes e dos modismos que permeiam boa parte da produção poética contemporânea. Mas a obra apresenta igualmente traços próprios, distinguindo-se de Azul navalha pela concisão maior da linguagem, e de As faces do rio pela escolha da "pedra", ao invés da "água", como motivo condutor. Com isso, o volume dá um pouco mais de ênfase ao "espaço" em detrimento do "tempo"(que normalmente se associa à fluidez do rio), complementando assim a visão que o poeta oferece da sua e da nossa realidade.
Ao contrário da água, que tem a fala dos seus rumorejos e fragores, a pedra é silenciosa, calando "o que nela dói". A água representa a vida, enquanto a pedra simboliza a esterilidade do deserto e, em última instância, a morte. Por isso, Donizete Galvão começa por repudiá-la: "Em que noite adormeci verde/ e acordei Saara?" Vê-se como um daqueles homens que, prisioneiros de suas poluídas cidades de pedra, se isolam uns dos outros na rotina de uma vida aparentemente sem propósito.
Nesta sua waste land particular, Deus se torna a própria pedra, "deus que não pune/ deus que não salva". Apesar disso, é para a pedra que o poeta acaba se voltando, procurando identificar-se com ela consciente e integralmente. Busca nessa imanência algo da eternidade, através das lições que se podem extrair da permanência dos minerais: "De pedra ser./Da pedra ter/ o duro desejo de durar". Sim, porque no espaço da pedra também se encontra uma dimensão temporal, como bem lembra o poema "Fósseis" (ainda que os indícios da vida passada sejam apenas "souvenirs para turistas". Pouco a pouco, o autor vai descobrindo os aspectos positivos de seu símbolo central, ora vendo a pedra como anteparo ou abrigo (como em "Motetos de São José del - Rei"), ora, entre sério e irônico, fazendo um pequeno rol de suas utilidades ("Almanaque da pedra"). A verdade, porém, é que a pedra é o chão essencial: é o que resta depois de tudo ("quando tudo já houver sido,/ lá estará ela"); e é também o que precede a tudo. É dela que brota a água, a fonte da vida: e, sem ela, não haveria o sustentáculo e a nutrição para as plantas e animais, -- como aquela garça que "ergue/ para o céu/ a hipérbole/ do seu alvo/ pescoço".
Até a linguagem da água nasce dos seus embates com o leito das rochas. E é esse processo que esta poesia reproduz, ao recorrer à realidade para dar voz à mesma realidade. Ele trabalha a pedra. E a pedra trabalhada -- a pedra lisa -- se transforma em arte, em algo acima da transitoriedade e do sofrimento ("no mundo das pedras lisas não cabe a dor"). É a pedra capaz de despertar em nós os mesmos devaneios de Keats diante dos relevos de uma urna grega, ou de Yeats diante de uma escultura em lápis lazúl
São esses, em resumo, alguns dos temas de Donizete Galvão em Do silêncio da pedra, temas sem dúvida relevantes, que, ademais, ganham vida graças a uma linguagem poética extremamente concisa e altamente sugestiva -- de tal riqueza metafórica que as imagens se atropelam umas ás outras ("o mar de pedra soterra/ a árvore dos brônquios") -- e toda pontilhada por funcionais sonoridades ( aliterações, rimas internas etc.). Temos, pois, aqui um autor que não só tem o que dizer, mas que também sabe como dizê-lo.
Sobre o autor
Donizete Galvão nasceu em Borda da Mata, Minas Gerais, em 1955.
Publicou em l988 Azul navalha (T.A. Queiroz, Editor), prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como Revelação de Autor e indicado para o Prêmio Jabuti. Em l99l, publicou seu segundo livro de poesia As faces do rio (Água Viva Edições).
Tem trabalhos publicados nos jornais Nicolau, Suplemento Literário do Minas Gerais, O Galo, O Resto do Mundo , Mariel (editado nos EUA) e nas revistas Babel e Poesia, ambas da Venezuela. Participou também das antologias Veia Poética (Editora Escrita) e Antologia da nova poesia brasileira (Rioarte/Hipocampo).
Título da obra: Do Silêncio da Pedra
Editora: Arte Pau-Brasil Editora
R. Vergueiro, 923, Paraíso
01504-001- São Paulo -SP
Tel. (011) 279-0147
Páginas: 61
Preço: R$ 15,00
Lançamento: Dia 25 de junho- Terça-feira
Local: Livraria da Vila
R. Fradique Coutinho,915
Pinheiros
Tel. 814-5811
Das 18:30 às 21:30
Tels. para contato: 521-9697
871-6174
Ao contrário da água, que tem a fala dos seus rumorejos e fragores, a pedra é silenciosa, calando "o que nela dói". A água representa a vida, enquanto a pedra simboliza a esterilidade do deserto e, em última instância, a morte. Por isso, Donizete Galvão começa por repudiá-la: "Em que noite adormeci verde/ e acordei Saara?" Vê-se como um daqueles homens que, prisioneiros de suas poluídas cidades de pedra, se isolam uns dos outros na rotina de uma vida aparentemente sem propósito.
Nesta sua waste land particular, Deus se torna a própria pedra, "deus que não pune/ deus que não salva". Apesar disso, é para a pedra que o poeta acaba se voltando, procurando identificar-se com ela consciente e integralmente. Busca nessa imanência algo da eternidade, através das lições que se podem extrair da permanência dos minerais: "De pedra ser./Da pedra ter/ o duro desejo de durar". Sim, porque no espaço da pedra também se encontra uma dimensão temporal, como bem lembra o poema "Fósseis" (ainda que os indícios da vida passada sejam apenas "souvenirs para turistas". Pouco a pouco, o autor vai descobrindo os aspectos positivos de seu símbolo central, ora vendo a pedra como anteparo ou abrigo (como em "Motetos de São José del - Rei"), ora, entre sério e irônico, fazendo um pequeno rol de suas utilidades ("Almanaque da pedra"). A verdade, porém, é que a pedra é o chão essencial: é o que resta depois de tudo ("quando tudo já houver sido,/ lá estará ela"); e é também o que precede a tudo. É dela que brota a água, a fonte da vida: e, sem ela, não haveria o sustentáculo e a nutrição para as plantas e animais, -- como aquela garça que "ergue/ para o céu/ a hipérbole/ do seu alvo/ pescoço".
Até a linguagem da água nasce dos seus embates com o leito das rochas. E é esse processo que esta poesia reproduz, ao recorrer à realidade para dar voz à mesma realidade. Ele trabalha a pedra. E a pedra trabalhada -- a pedra lisa -- se transforma em arte, em algo acima da transitoriedade e do sofrimento ("no mundo das pedras lisas não cabe a dor"). É a pedra capaz de despertar em nós os mesmos devaneios de Keats diante dos relevos de uma urna grega, ou de Yeats diante de uma escultura em lápis lazúl
São esses, em resumo, alguns dos temas de Donizete Galvão em Do silêncio da pedra, temas sem dúvida relevantes, que, ademais, ganham vida graças a uma linguagem poética extremamente concisa e altamente sugestiva -- de tal riqueza metafórica que as imagens se atropelam umas ás outras ("o mar de pedra soterra/ a árvore dos brônquios") -- e toda pontilhada por funcionais sonoridades ( aliterações, rimas internas etc.). Temos, pois, aqui um autor que não só tem o que dizer, mas que também sabe como dizê-lo.
Sobre o autor
Donizete Galvão nasceu em Borda da Mata, Minas Gerais, em 1955.
Publicou em l988 Azul navalha (T.A. Queiroz, Editor), prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como Revelação de Autor e indicado para o Prêmio Jabuti. Em l99l, publicou seu segundo livro de poesia As faces do rio (Água Viva Edições).
Tem trabalhos publicados nos jornais Nicolau, Suplemento Literário do Minas Gerais, O Galo, O Resto do Mundo , Mariel (editado nos EUA) e nas revistas Babel e Poesia, ambas da Venezuela. Participou também das antologias Veia Poética (Editora Escrita) e Antologia da nova poesia brasileira (Rioarte/Hipocampo).
Título da obra: Do Silêncio da Pedra
Editora: Arte Pau-Brasil Editora
R. Vergueiro, 923, Paraíso
01504-001- São Paulo -SP
Tel. (011) 279-0147
Páginas: 61
Preço: R$ 15,00
Lançamento: Dia 25 de junho- Terça-feira
Local: Livraria da Vila
R. Fradique Coutinho,915
Pinheiros
Tel. 814-5811
Das 18:30 às 21:30
Tels. para contato: 521-9697
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