8 - VIII (Révora)

eu pensei que não seria o único
a penetrar sorrateiro em tua alcova
e beber o lume e a lama de tantos corpos.
nós estávamos um pouco tristes,
e nus sabíamos os últimos puros.
o suor saía dos teus poros,
e eu já para ti algum escudo
quando a luz da escuridão nos envolvia.
e tu volvias, amiga.
eu não sabia que vias poesia em tudo.

teu lábio, contudo, emudecia, umedecia-se de orvalho,
e nós estávamos mudos.
foi quando o anjo singular da fantasia
despiu-se mostrando-se todo.
e então em um ato sublime
também te deitaste em mim
como um jardim em espinhos.
tu não sabes que este não é o caminho?
não atinavas, estavas sozinha, e eu, sozinho,
brincando com a tua agonia.
eu não sabia que vias poesia em tudo.

mas o que esse tudo abrangia?
a mim? a nós? ou ao que me iludo
adaptando-me moldando-me à alegria
que existia sempre? sempre até quando?
e ser preciso morrer de vez em quando
e ser preciso precisar-te que preciso
e aguardo-te, e guardo teu riso no meu viso
que sem ter mais o que espelhar
vai-se espelhando narciso.
eu vi um vulto sem saber que via,
sem saber que vias poesia em tudo.

veneno doce que bebido mata
mas que embebido só numa canastra
arde e maltrata só.
mas que importa toda parafasia
ou monomania de dois nomes
se é substantivo poesia
e tudo é indefinido pronome?

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