Al Berto
Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares, foi um poeta, pintor, editor e animador cultural português.
1948-01-11 Coimbra
1997-06-13 Lisboa
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Vigílias
pernoito
no interior do corpo desarrumado
o medo invade o penumbroso corredor
descubro uma cintilação de água no estuque
uma cicatriz de cristais de bolor abre-se
porosa ao contacto dos dedos indica
que não haverá esquecimento ou brisa
para limpar o tempo imemorial da casa
deste simulado sono ficou-lhe o amargo iodo
as madeiras enceradas cobertas de poeira
ervas secas à chuva molhos de rosmaninho
junquilhos, bocas de lobo silenas, trevo
mas nenhuma fuga foi recomeçada
a infância permanece triste onde a abandonei
quase não vive
no entanto ouço-a respirar dentro de mim
agora tudo é diferente
recomeço a viver a partir do vazio
da treva dos dias em silêncio
por entre a pele e um feixe de magnificas veias
sinto o pássaro da velhice arrastando as asas
onde desenvolve o calmo voo lunar
enumero cuidadosamente os objectos, classifico-os
por tamanhos por texturas, por funções
quero deixar tudo arrumado quando a loucura vier
da extremidade aguçada do corpo alado
e o rosto for devassado por um estilhaço de asa
então a vida abater-se-á sobre a folha de papel
onde verso a verso
me ilumino e me desgasto.
no interior do corpo desarrumado
o medo invade o penumbroso corredor
descubro uma cintilação de água no estuque
uma cicatriz de cristais de bolor abre-se
porosa ao contacto dos dedos indica
que não haverá esquecimento ou brisa
para limpar o tempo imemorial da casa
deste simulado sono ficou-lhe o amargo iodo
as madeiras enceradas cobertas de poeira
ervas secas à chuva molhos de rosmaninho
junquilhos, bocas de lobo silenas, trevo
mas nenhuma fuga foi recomeçada
a infância permanece triste onde a abandonei
quase não vive
no entanto ouço-a respirar dentro de mim
agora tudo é diferente
recomeço a viver a partir do vazio
da treva dos dias em silêncio
por entre a pele e um feixe de magnificas veias
sinto o pássaro da velhice arrastando as asas
onde desenvolve o calmo voo lunar
enumero cuidadosamente os objectos, classifico-os
por tamanhos por texturas, por funções
quero deixar tudo arrumado quando a loucura vier
da extremidade aguçada do corpo alado
e o rosto for devassado por um estilhaço de asa
então a vida abater-se-á sobre a folha de papel
onde verso a verso
me ilumino e me desgasto.
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