Deconstrução da Amada

O corpo da amada
não parece ser carne
como os outros;
e mesmo o que ela come e caga
está impregnado
por uma aura sagrada
como se fosse tudo olhos
amorosos, e alma.

Mas passa.

Uma vez morta e enterrada
a amada é esse punhado
de ossos e dentes
na minha palma.

Não adianta nada
comer com calma
as medulas que restam.
No entanto, todos os dias
chupo os dentes e suas cáries.

Já não têm o gosto
ácido da boca
e sua saliva, sua língua,
angústias e palavras;
cada um deles é uma coisa

como qualquer outra coisa.
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