Paisagem do Alentejo

Deserta a estrada. O sol, a pino, abrasa.
Luz, um deslumbramento!
Cortou a solidão um bater de asa
E um velho em seu jumento...

Vamos andando. Na extensão imensa
Perde-se em nosso olhar...
Nenhuma variante. À luz intensa,
Longe... um monte a alvejar...

E sempre, em fatigante simetria,
Oliveiras curvadas,
Rugosas, semelhando à luz do dia
Velhas encarquilhadas.

Só planície monótona e igual
O nosso olhar avista;
E o sol, num monte, a dardejar na cal,
Deslumbra... fere a vista.

Surgem agora, em curva harmoniosa,
Os cerros, as colinas.
Há na paz doce, triste e religiosa,
Unções quase divinas!

Retrocedemos. Sempre a sensação
Do só e da tristeza...
Mas deu a imensidade ao coração
Mais calma e mais grandeza!

À luz poente os cerros oferecem
Mil reverberações:
Tons fortes de violeta, que esmorecem
Em róseas gradações.

Deus! a que veio a minha nostalgia
A esta imensidade?
É grande, eu sei, mas dá-me uma agonia
O horror da eternidade!

(Lisboa, 1934)

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