Um Tema

[Lá vai o grande rio
[Solene como uma procissão.

[Roçando florestas e rochas,
[Seu manto se alastra, se alonga
[E, qual pálio de rei antigo,
[Passa em lento e grave desfile.

[Sua essência: a água.
[Seu estado: o movimento.

[Mas, chegará um ponto de sua caminhada
[Em que o movimento lhe será retirado.

[Esse termo estará no seu encontro com o mar.

[O caráter essencial de água persistirá.
[No entanto — imóvel — como rio se findará.

[Deixou de existir o rio? Sim.
[Passou a inexistir a água? Não.

[A água se integrou no seu mar.

[Vamos ao homem, ser de índole tão andante,
[Esse rio humano que afronta a natureza,
[E rege, com maestria idêntica,
[Violinos e canhões, salmos e prantos.

[Pêndulo oscilante entre o nefando e o sublime.

[E lá vai o homem, inquieto, aflito,
[Em marcha desordenada
[Buscando o que não alcançará.

[Sua essência: a alma.
[Seu estado: o movimento.

[Sobreviverá o ansejo inelutável
[Em que o movimento que lhe era inerente
[Se converterá em estagnação.

[Sua essência, a alma, esta remanescerá.
[Não obstante — inerte — o homem já não será.

[Deixou de existir o homem? Sim.
[Passou a inexistir a alma? Não.

[A alma terá encontrado seu mar.

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