Pablo Neruda
Pablo Neruda foi um poeta chileno, bem como um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX e cônsul do Chile na Espanha e no México.
1904-07-12 Parral, Chile
1973-09-23 Santiago, Chile
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Anjo Vyka
Anjo hirsuto da Polônia, Vyka,
tenho que fazer-te estas perguntas:
atravessando toda a vida
de teu país, o resplendor ardente
do ferro dominando em Katowicz,
os trigais que estendem sua ondulada alegria
sobre toda a tua terra, as procissões
de medieval catolicismo, a fumaça
do território do carvão, o ar
de Cracóvia, ar de livro seco,
o Báltico outra vez empurrando suas brancas
asas e ondas entre novas gruas,
o tijolo amassado com o pó
da infinita destruição subindo
outra vez no céu de Varsóvia,
e o metálico aroma dos pinheiros em cima
dos lagos masures, testemunhas transparentes
da carnificina,
e de aldeia em aldeia
sobre a destroçada arquitetura
o homem recobrou a beleza
de tua terra, enchendo com sementes
de sua ressurreição todo o silêncio.
Esta fecundidade inesperada
até ontem, este leite transmitido
de boca em boca como um sinal novo,
e essa terra que canta e se reparte
sem evadir-se como a água, mas
outorgando metais e celeiros,
dize-me, anjo Vyka, tu que acompanhaste
com descuidoso coração meus passos,
que tens, que temos que ocultar,
por que intentam negar estas regiões,
estas colheitas, este mel singelo,
por que intentam apagar esta grandeza
e afastar esta vitória humana?
Foste diariamente o silencioso
anjo amigo de estirpe obscura,
apenas para que o bosque resguardasse
as mínimas porções de seus morangos
para teu companheiro de outros mares,
ou o redondo caracol penetrasse
na minha ternura de naturalista,
e assim entre areias e pinhais ou entre
marítimos de Gdansk ou entre motores
toda tua pátria aberta me mostraste
iluminada como um sorriso.
tenho que fazer-te estas perguntas:
atravessando toda a vida
de teu país, o resplendor ardente
do ferro dominando em Katowicz,
os trigais que estendem sua ondulada alegria
sobre toda a tua terra, as procissões
de medieval catolicismo, a fumaça
do território do carvão, o ar
de Cracóvia, ar de livro seco,
o Báltico outra vez empurrando suas brancas
asas e ondas entre novas gruas,
o tijolo amassado com o pó
da infinita destruição subindo
outra vez no céu de Varsóvia,
e o metálico aroma dos pinheiros em cima
dos lagos masures, testemunhas transparentes
da carnificina,
e de aldeia em aldeia
sobre a destroçada arquitetura
o homem recobrou a beleza
de tua terra, enchendo com sementes
de sua ressurreição todo o silêncio.
Esta fecundidade inesperada
até ontem, este leite transmitido
de boca em boca como um sinal novo,
e essa terra que canta e se reparte
sem evadir-se como a água, mas
outorgando metais e celeiros,
dize-me, anjo Vyka, tu que acompanhaste
com descuidoso coração meus passos,
que tens, que temos que ocultar,
por que intentam negar estas regiões,
estas colheitas, este mel singelo,
por que intentam apagar esta grandeza
e afastar esta vitória humana?
Foste diariamente o silencioso
anjo amigo de estirpe obscura,
apenas para que o bosque resguardasse
as mínimas porções de seus morangos
para teu companheiro de outros mares,
ou o redondo caracol penetrasse
na minha ternura de naturalista,
e assim entre areias e pinhais ou entre
marítimos de Gdansk ou entre motores
toda tua pátria aberta me mostraste
iluminada como um sorriso.
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