Edmir Domingues

Edmir Domingues

Edmir Domingues da Silva foi um advogado e poeta brasileiro.

1927-06-08 Recife Pernambuco Brasil
2001-04-01 Recife
19921
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Canção dos exilados de infância


Exilados de uma terra
que Infância por nome tem
vivemos comendo espera
não sei de que nem de quem.
Murcham-se mastros e velas
morrem convites de além
e de Infância, ai, de Infância
nada a nós jamais nos vem. 

Infância dorme na sombra
de um campo molhado e bom
na geografia das cores
nos cantos de leve som,
e é tão distante plantada
que a ela só se vai com
barcos de quilhas de fumo
velas de papel crepom.

País que todos procuram
sem nunca ninguém cansar
cansaço é desesperança
e é sempre bom se esperar,
vestem-se os homens de busca
e seguem rotas de mar
mas há que o mar nunca os leva
jamais a nenhum lugar.

Colecionando horizontes
nas terras mortas de Não
terras de Infância procuram
que nunca mais acharão,
a sombra azul da distância
se derrama pelo chão,
e de Infância, ai, de Infância
nem canto nem sugestão.

Inspira os passos andados
por campo caminho e mar
inusitada evidência
que a ninguém se pode dar,
os que vivem de procura
não têm nada que encontrar
porque os homens sempre sentem
saudades de outro lugar.

Ai, que sempre nos maltratam
as lembranças que nos vêm
dos paraísos perdidos
das terras de mais além.
Se esses países residem
distantes de nós, porém,
somente o clima de Infância
nos poderá fazer bem.

Os povos que Infância buscam
nunca à Infância chegarão,
muda-se o rumo das coisas
nestes campos onde estão,
mas nada morre no entanto
do clima da turbação
porquanto o povo vencido
tem sempre a melhor canção.

Se nada morre no entanto
do clima da turbação,
se aquele povo vencido
tem sempre a melhor canção,
só nos resta esse horizonte
das terras mortas de Não
pois de Infância, ai, de Infância
nem canto nem sugestão.
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