H.C. Artmann

H.C. Artmann

1921-06-12 Viena
2000-12-04 Viena
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querida idolatrada

querida idolatrada orquídeanil prima ballerina
de chemnitz a missiones poughkeepsie u.r.s.s. recommandé
à senhora eu envio esta carta de amor
para que possa encaixá-la em seu lac de cygne
como um pássaro sibilante a mais a migrar
na pejada concha do céu junino da ômegabóboda
no recém-restaurado átrio da sinfônica do estado aleluia
eu sou em verdade um sem-vergonha um sacropândego
um heitor vira-copos a patinar campinas
por ousar dirigir esta carta a seu pas
de deux
mas eu nada exijo não eu tão-só peço-lhe
que aceite as pérolas que lanço a seus corpos
todos os seus sonhos misericordiosa sra.! saúdo-a! sua bença!
minha filiforminha escrita à pena minha carta em claro
minha extraordinária orig. pat. insígniaficante
como nada mais peço-lhe que a aceite como
um homem de princípios um rolls royce 59 uma ferrari 60
polidactilocomotiva a engatinhar para las vegas tou-tou
tou-tou tou-tou
uma banheira sob-medida no maksoud em são paulo
um swing em pub& cócegas em núcleos ricos de novela
em alphaville em estilo casa-grande-e-bengala do eng. arq.
e urbanista komudyabusxamavaoblableblufu-
lanim
e caso tudo isso não lhe chegue aos pés pois seja
ainda
uma diva radiante em sua próxima performance
a 23 deste 19h30 em ponto horário de brasília
merda merda merda
e uma ovação entre 69 cortinas e chuva de
rosas champagne
deus sobre os montes! o que deveria nem tudo
e que por certo nem tudo será minha epistolazinha
minha clara-neve
minha belíssima
minha fofa
minha tu tu
minha toda toda papoulacreponizada
via aérea par avion luftpost u.a.m.
no trajeto entre aa& bee

(tradução de Ricardo Domeneck)
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