Álvares de Azevedo
Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi um escritor da segunda geração romântica, contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro, autor de Noite na Taverna.
1831-09-12 São Paulo, Brasil
1852-04-25 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
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Na Minha Terra
Amo o vento da noite sussurrante
A tremer nos pinheiros
E a cantiga do pobre caminhante
No rancho dos tropeiros;
E os monótonos sons de uma viola
No tardio verão,
E a estrada que além se desenrola
No véu da escuridão;
A restinga dareia onde rebenta
O oceano a bramir,
Onde a lua na praia macilenta
Vem pálida luzir;
E a névoa e flores e o doce ar cheiroso
Do amanhecer na serra,
E o céu azul e o manto nebuloso
Do céu de minha terra;
E o longo vale de florinhas cheio
E a névoa que desceu,
Como véu de donzela em branco seio,
Às estrelas do céu.
II
Não é mais bela, não, a argêntea praia
Que beija o mar do sul,
Onde eterno perfume a flor desmaia
E o céu é sempre azul;
Onde os serros fantásticos roxeiam
Nas tardes de verão
E os suspiros nos lábios incendeiam
E pulsa o coração!
Sonho da vida que doirou e azula
A fala dos amores,
Onde a mangueira ao vento que tremula
Sacode as brancas flores,
E é saudoso viver nessa dormência
Do lânguido sentir,
Nos enganos suaves da existência
Sentindo-se dormir;
Mais formoso não é: não doire embora
O verão tropical
Com seus rubores e alvacenta aurora
Na montanha natal,
Nem tão doirada se levante a lua
Pela noite do céu,
Mas venha triste, pensativa - e nua
Do prateado véu -
Que me importa? se as tardes purpurinas
E as auroras dali
Não deram luz às diáfamas cortinas
Do leito onde eu nasci?
Se adormeço tranqüilo no teu seio
E perfuma-se a flor
Que Deus abriu no peito do Poeta,
Gotejante de amor?
Minha terra sombria, és sempre bela,
Inda pálida a vida
Como o sono inocente da donzela
No deserto dormida!
No italiano céu nem mais suaves
São as noites os amores,
Não tem mais fogo o cântigo das aves
Nem o vale mais flores!
III
Quando o gênio da noite vaporosa
Pela encosta bravia
Na laranjeira em flor toda orvalhosa
De aroma se inebria,
No luar junto à sombra recendente
De um arvoredo em flor,
Que Saudades e amor que influi na mente
Da montanha o frescor!
E quando à noite no luar saudoso
Minha pálida amante
Ergue seus olhos úmidos de gozo,
E o lábio palpitante...
Cheia de argêntea luz do firmamento
Orando por seu Deus,
Então... eu curvo a fronte ao sentimento
Sobre os joelhos seus...
E quando sua voz entre harmonias
Sufoca-se de amor,
E dobra a fronte bela de magias
Como pálida flor,
E a arma pura nos seus olhos brilha
Em desmaiado véu,
Como de um anjo na cheirosa trilha
Respiro o amor do céu!
Melhor a viração uma por uma
Vem as folhas tremer,
E a floresta saudosa se perfuma
Da noite no morrer,
E eu amo as flores e o doce ar mimoso
Do amanhecer da serra
E o céu azul e o manto nebuloso
Do céu de minha terra!
A tremer nos pinheiros
E a cantiga do pobre caminhante
No rancho dos tropeiros;
E os monótonos sons de uma viola
No tardio verão,
E a estrada que além se desenrola
No véu da escuridão;
A restinga dareia onde rebenta
O oceano a bramir,
Onde a lua na praia macilenta
Vem pálida luzir;
E a névoa e flores e o doce ar cheiroso
Do amanhecer na serra,
E o céu azul e o manto nebuloso
Do céu de minha terra;
E o longo vale de florinhas cheio
E a névoa que desceu,
Como véu de donzela em branco seio,
Às estrelas do céu.
II
Não é mais bela, não, a argêntea praia
Que beija o mar do sul,
Onde eterno perfume a flor desmaia
E o céu é sempre azul;
Onde os serros fantásticos roxeiam
Nas tardes de verão
E os suspiros nos lábios incendeiam
E pulsa o coração!
Sonho da vida que doirou e azula
A fala dos amores,
Onde a mangueira ao vento que tremula
Sacode as brancas flores,
E é saudoso viver nessa dormência
Do lânguido sentir,
Nos enganos suaves da existência
Sentindo-se dormir;
Mais formoso não é: não doire embora
O verão tropical
Com seus rubores e alvacenta aurora
Na montanha natal,
Nem tão doirada se levante a lua
Pela noite do céu,
Mas venha triste, pensativa - e nua
Do prateado véu -
Que me importa? se as tardes purpurinas
E as auroras dali
Não deram luz às diáfamas cortinas
Do leito onde eu nasci?
Se adormeço tranqüilo no teu seio
E perfuma-se a flor
Que Deus abriu no peito do Poeta,
Gotejante de amor?
Minha terra sombria, és sempre bela,
Inda pálida a vida
Como o sono inocente da donzela
No deserto dormida!
No italiano céu nem mais suaves
São as noites os amores,
Não tem mais fogo o cântigo das aves
Nem o vale mais flores!
III
Quando o gênio da noite vaporosa
Pela encosta bravia
Na laranjeira em flor toda orvalhosa
De aroma se inebria,
No luar junto à sombra recendente
De um arvoredo em flor,
Que Saudades e amor que influi na mente
Da montanha o frescor!
E quando à noite no luar saudoso
Minha pálida amante
Ergue seus olhos úmidos de gozo,
E o lábio palpitante...
Cheia de argêntea luz do firmamento
Orando por seu Deus,
Então... eu curvo a fronte ao sentimento
Sobre os joelhos seus...
E quando sua voz entre harmonias
Sufoca-se de amor,
E dobra a fronte bela de magias
Como pálida flor,
E a arma pura nos seus olhos brilha
Em desmaiado véu,
Como de um anjo na cheirosa trilha
Respiro o amor do céu!
Melhor a viração uma por uma
Vem as folhas tremer,
E a floresta saudosa se perfuma
Da noite no morrer,
E eu amo as flores e o doce ar mimoso
Do amanhecer da serra
E o céu azul e o manto nebuloso
Do céu de minha terra!
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