nova meditação sobre o tietê
"Águas do Tietê,
onde me queres levar?
- Rio que entras pela terra
e que me afastas do mar..."
(Mário de Andrade)
águas do tietê,
no jorro de tuas nascentes:
melhor ficassem paradas
em teus reflexos afluentes
tietê: índias águas verdadeiras
quando te chamavas anhembi
e tuas sinuosas ribeiras
guiavam um povo guarani
aquieta-te como lago,
esta pressa para que,
se adiante a luz de espelho
logo tu vais perder?
te insinuas por quilômetros
em teu leito decidido,
insisto no meu reclamo
mas descrês do meu aviso
segues murmurando marchas
incertas em certo destino
e mal sabes o destrato
dos esgotos mais íntimos
por teus caminhos indiretos
viajaram bandeirantes heris,
e agora bandeiam os dejetos
dos seus netos fabris
tuas águas conduziram à glória
os vencedores das regatas
nas linhas d’água da memória
da cidade que não te resgata
águas do tietê,
onde me queres levar?
- teu traçado e teu destino
não se casam com o mar...
exala antes que tarde
o aroma que será deposto!
em tua cor se resguarde
o teu sabor sem desgosto!
pois já te vão injetando
mais volume e vida a menos:
e nas tuas líquidas veias
os insanos vícios dos venenos
em tuas artérias aguascentes,
no percurso transformadas,
corre agora o pus demente:
e mal deságuas putrefatas
eis que te tornas plumas,
brancas formas cristalinas:
belo engano para os olhos,
e o odor corrói as narinas
há remédio mais perfeito
do que apenas uma lágrima,
se todos chorassem em teu leito,
lavando tuas águas da mácula
mas ninguém me escuta, corres
sem garças, só antíteses,
desde o lugar onde morres
até o pasto de lamas líquidas
águas do tietê,
onde me queres levar?
- eis as pontes e tudo é noite,
e muito longe dorme o mar...
te olho e não me vês, assim
em vão, corpo cego de águas:
em verso te afogo em mim,
em ti me afogo em mágoas...
aleilton fonseca, sp, 95
onde me queres levar?
- Rio que entras pela terra
e que me afastas do mar..."
(Mário de Andrade)
águas do tietê,
no jorro de tuas nascentes:
melhor ficassem paradas
em teus reflexos afluentes
tietê: índias águas verdadeiras
quando te chamavas anhembi
e tuas sinuosas ribeiras
guiavam um povo guarani
aquieta-te como lago,
esta pressa para que,
se adiante a luz de espelho
logo tu vais perder?
te insinuas por quilômetros
em teu leito decidido,
insisto no meu reclamo
mas descrês do meu aviso
segues murmurando marchas
incertas em certo destino
e mal sabes o destrato
dos esgotos mais íntimos
por teus caminhos indiretos
viajaram bandeirantes heris,
e agora bandeiam os dejetos
dos seus netos fabris
tuas águas conduziram à glória
os vencedores das regatas
nas linhas d’água da memória
da cidade que não te resgata
águas do tietê,
onde me queres levar?
- teu traçado e teu destino
não se casam com o mar...
exala antes que tarde
o aroma que será deposto!
em tua cor se resguarde
o teu sabor sem desgosto!
pois já te vão injetando
mais volume e vida a menos:
e nas tuas líquidas veias
os insanos vícios dos venenos
em tuas artérias aguascentes,
no percurso transformadas,
corre agora o pus demente:
e mal deságuas putrefatas
eis que te tornas plumas,
brancas formas cristalinas:
belo engano para os olhos,
e o odor corrói as narinas
há remédio mais perfeito
do que apenas uma lágrima,
se todos chorassem em teu leito,
lavando tuas águas da mácula
mas ninguém me escuta, corres
sem garças, só antíteses,
desde o lugar onde morres
até o pasto de lamas líquidas
águas do tietê,
onde me queres levar?
- eis as pontes e tudo é noite,
e muito longe dorme o mar...
te olho e não me vês, assim
em vão, corpo cego de águas:
em verso te afogo em mim,
em ti me afogo em mágoas...
aleilton fonseca, sp, 95
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