Carlos Frydman

1924-11-15 Varsóvia (Polônia)
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Nós

Para Luzia Salvi Frydman

Quando nos deparamos
meu outono era imenso
— um descampado queimado
um vazio sem ventos.

Tua afogada primavera trazia
brisas ao meu íntimo naufrágio.

Fertilizaste minha estiagem
numa repentina sementeira.

Havia um sol adormecido
em teu olhar distante, perdido,
abrandando minhas quimeras.

Nossos beijos foram temerosos
envoltos de incertezas.

Éramos cativos de tempos amargos,
fugidos de encontros vagos.

Despertamos um clamor de desejos sufocados,
e nos bebemos... e nos buscamos...

Nossas feições turvas e solitárias,
nossos peitos, campo fértil abandonado
— duas almas fugitivas enlaçaram-se.

Mas,
por sermos cativos inconformados
de longos tempos contritos,
nossos braços vacilaram nos abraços
e cruzamos nossos caminhos desencontrados.

Nossos primeiros atos,
com poucas palavras, harmonizaram-se.

Cresceu uma crença buscada,
e nossos corpos se confluíram
como dois rios incendiados
em nosso amor secreto e profundo,
onde no amor serenamos.


In: FRYDMAN, Carlos. Sintonia: poesia. Pref. Fábio Lucas. Apres. Henrique L. Alves. Campinas: Pontes, 1990
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