Odylo Costa Filho

Odylo Costa Filho

Odylo Costa, filho foi um jornalista, cronista, novelista e poeta brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras.

1914-12-14 São Luís MA
1979-08-19 Rio de Janeiro RJ
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Dois Sonetos para Guimarães Rosa

1. SONETO DE DIADORIM

Quem pára, quando nasce a madrugada,
para pensar que a noite já vem vindo?
O amor é coisa sempre inesperada,
brota do vivo chão, grita dormindo.

Cheiro de bois, distante cavalgada,
buritizal no sol, mato bulindo,
Riobaldo carrega, em mão fechada,
mel e morte, ar do Cão, luz do Benvindo.

Sertão é seu: veredas e brejões,
couros, águas, sossegos, chapadões...
Mas a má sina esbarra a travessia.

E hoje só Diadorim voga nos campos,
campeando estrelas, anjos, pirilampos,
pertença da Senhora da Abadia.

2. SONETO DE ACEITAÇÃO

"A fortes braços de anjos sojigado."
GUIMARÃES ROSA

A fortes braços de anjos sojigado
andei por terras que nem mesmo eu sei,
em duras sortes fui crucificado,
provei dos mares a mais crua lei.

Mas não quis me quedar enfeitiçado
e na rede em que um dia me deitei
"Eu sou feliz" estava bem gravado
em sinal do destino que aceitei.

Juntei destroços do meu ser antigo,
e na piedade do maior tormento
regrudaste pedaço por pedaço.

A saliva do amor secou no vento
e contra o mal da morte meu abrigo
foi a sombra serena do teu braço.


In: COSTA, FILHO, Odylo. Tempo de Lisboa e outros poemas. Pref. Manuel Bandeira. Lisboa: Livr. Morais, 1966. (Círculo de poesia, 32)
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