César Vallejo
César Abraham Vallejo Mendoza foi um poeta de tendência vanguardista, unanimamente considerado pela crítica especializada como um dos maiores poetas hispano-americanos do século XX e o maior poeta ...
1892-03-16 Santiago de Chuco, Peru
1938-04-15 Paris, França
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O pão nosso
Bebe-se o café da manhã...úmida terra
de cemitério cheira a sangue amado.
Cidade de inverno...A mordaz cruzada
de uma carreta que arrastar parece
uma emoção de jejum encadeada!
Quisera-se bater em todas as portas,
e perguntar por não sei quem, e logo
ver aos pobres, e, chorando quietos
dar pedacinhos de pão fresco a todos.
E saquear aos ricos seus vinhedos
com as duas mãos santas
que a um golpe de luz
voaram desencravadas da Cruz!
Pestana matinal, não vos levanteis!
O pão nosso de cada dia dá-nos,
Senhor...!
Todos os meus ossos são alheios
eu talvez os roubei!
Eu vim a dar-me o que acaso esteve
destinado para outro;
e penso que, se não houvesse nascido,
outro pobre tomasse este café!
Eu sou um mau ladrão...Aonde irei!
E nesta hora fria, em que a terra
transcende ao pó humano e é tão triste,
quisesse eu bater em todas as portas,
e suplicar a não sei quem, perdão,
e fazer-lhe pedacinhos de pão fresco
aqui, no forno de meu coração...!
de cemitério cheira a sangue amado.
Cidade de inverno...A mordaz cruzada
de uma carreta que arrastar parece
uma emoção de jejum encadeada!
Quisera-se bater em todas as portas,
e perguntar por não sei quem, e logo
ver aos pobres, e, chorando quietos
dar pedacinhos de pão fresco a todos.
E saquear aos ricos seus vinhedos
com as duas mãos santas
que a um golpe de luz
voaram desencravadas da Cruz!
Pestana matinal, não vos levanteis!
O pão nosso de cada dia dá-nos,
Senhor...!
Todos os meus ossos são alheios
eu talvez os roubei!
Eu vim a dar-me o que acaso esteve
destinado para outro;
e penso que, se não houvesse nascido,
outro pobre tomasse este café!
Eu sou um mau ladrão...Aonde irei!
E nesta hora fria, em que a terra
transcende ao pó humano e é tão triste,
quisesse eu bater em todas as portas,
e suplicar a não sei quem, perdão,
e fazer-lhe pedacinhos de pão fresco
aqui, no forno de meu coração...!
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