Mairon

Mairon

1986-10-21 Apiúna, Santa Catarina
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Confissão

Estou doente, doutor
Não sinto nada.
Já não há mais esperança, senhor
É o fim da estrada.
Qual é o diagnóstico, doutor?
Suspeito que seja contagiante,
Talvez uma peste, senhor 
Vinda do estrangeiro.
Me arrebata a indiferença
A falta de crença
Não, não me recomende repouso, ficar deitado
Eu continuarei a pensar, buscar significado
Para algo insuperável.
Ah, doutor, como eu queria ver as estrelas de perto
Qual seria a sensação?
Estaria lá o sopro que precisa meu corpo?
O remédio para meu coração?
Não, doutor, esse eu já tomei, só me faz dormir
Eu não preciso de mais anestesia
Eu só quero sentir!
De verdade, cansei de hipocrisia
Eu quero voltar a cantar e chorar
Doutor, não acredito em você e na sua ciência 
As luzes! Era para ser tudo melhor
Talvez hoje eu sentiria algo
Eu deveria despertar para a humanidade, não?
Ah, a alma! O que faria de nós irmãos, o espírito.
Tudo escorre entre as nossas mãos, como um comprado líquido 
E eu não espero mais nada
Não sinto mais nada
Já não caminho e já não se faz mais a estrada
Que me conduziria ao meu sonho
Que se perdeu em alguma curva
E se despedaçou como vaso seco atirado ao chão
Agora estou aqui, diante de ti, 
Reclamando minha sorte
De ser condenado a viver o absurdo
E na minha liberdade escolher
O que ouvir e ver, já que nada mais posso sentir,
Até o dia de minha morte.
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