Paulo Jorge

Paulo Jorge

A poesia fatalista e decadentista é um exemplo sublime da exaltação da morte em todo o seu esplendor, e desde sempre eu retiro satisfação pessoal deste saborear tétrico da vida.

1970-07-17 Lisboa
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A minha aldeia

Memórias pintadas de fresco,

Visões apocalípticas,

Lufadas de ar fresco,

Prisões paleolíticas.

Ventos sopram augurantes,

Sussurram-me aos ouvidos,

Trazem novas extravagantes,

Usurpam-me os sentidos.

Contemplo o horizonte embevecido,

Esquadrinho todos os cantos,

O Mar espraia-se enraivecido,

Pela Lua namorar os campos.

Céu e Terra tocam-se nos cumes,

Névoa gerada ladeia as encostas,

Nas casas ardem os lumes,

E as mesas já estão postas,

O pão abençoado,

Pelo meio mais um trago,

O mal exorcizado,

Ainda longe de estar pago.

O cão ladra para as pedras da calçada,

As ladainhas já fecharam a Igreja,

Guarda-se uma ovelha tresmalhada,

O sino dobra e o mocho pestaneja,

A aldeia dorme sossegada,

Que Deus a proteja.

LX, 13-4-2000

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