Paulo Jorge
A poesia fatalista e decadentista é um exemplo sublime da exaltação da morte em todo o seu esplendor, e desde sempre eu retiro satisfação pessoal deste saborear tétrico da vida.
A minha aldeia
Memórias
pintadas de fresco,
Visões
apocalípticas,
Lufadas
de ar fresco,
Prisões
paleolíticas.
Ventos
sopram augurantes,
Sussurram-me
aos ouvidos,
Trazem
novas extravagantes,
Usurpam-me
os sentidos.
Contemplo
o horizonte embevecido,
Esquadrinho
todos os cantos,
O
Mar espraia-se enraivecido,
Pela
Lua namorar os campos.
Céu
e Terra tocam-se nos cumes,
Névoa
gerada ladeia as encostas,
Nas
casas ardem os lumes,
E
as mesas já estão postas,
O
pão abençoado,
Pelo
meio mais um trago,
O
mal exorcizado,
Ainda
longe de estar pago.
O
cão ladra para as pedras da calçada,
As
ladainhas já fecharam a Igreja,
Guarda-se
uma ovelha tresmalhada,
O
sino dobra e o mocho pestaneja,
A
aldeia dorme sossegada,
Que
Deus a proteja.
LX, 13-4-2000