AurelioAquino

AurelioAquino

Deixo-me estar nos verbos que consinto, os que me inventam, os que sempre sinto.

1952-01-29 Parahyba
198361
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pequena consciência

primeiro era tanto

de se dizer que possa

um animal inconseqüente
transcender a norma

de parecer-se singular
como eventual resposta
 
primeiro era tanto
de se dizer monera
vínculo de tudo

que a vida era

sobra de outro tanto
indizível primavera
 
primeiro era tanto

de se dizer latência

do fluídico fato

da consciência

embora ainda indisposto
às razões da desavença
 
primeiro era tanto

de se dizer inteira
mesmo denominador
de frações urgentes
que menos lhe queriam
como só número
de qualidades tão presentes
 
primeiro era tanto

de parodiar-se outra

como substância imanente
e de feição avara

que teima em ser de um
mesmo quando vária
primeiro era tanto

de se dizer de tudo

que nada fosse verbo
quando não fosse o mundo
 subtraído das entranhas
dos planos e dos tudos
 
primeiro era tanto
de se dizer adaga  
alçada à palma da mão

com a mesma lavra

com que a boca diz um beijo
sem dizer qualquer palavra
 
primeira era tanto

de não se parecer verbo

que funcionasse como química
de tudo que é eterno

e que apenas se joga no mundo
com a suposta imanência do ego
 
primeiro era tanto

de não conter variedade

mas que permanecesse inconsútil
nessa singularidade

que trava os desvãos do homem
num vão que nem lhe cabe
 
e dito assim presente

nas quadras de tal matéria
fez-se o homem subjacente
a tudo que não lhe dera

o feitio mais urgente

da mais ingente primavera
 
era-lhe o siso mais assente
a um equilíbrio inverso

que quanto menos lhe sabia
mais fluía seu interno
nas coisas que não vivia
e que na vida eram verbo
 
era-lhe o amor mais ausente
tanto mais se considere

que o sentimento é uma ponte
de prumo urgente e adrede
que se joga sobre o rio
de tudo que se percebe

e que não se tem a custo

de químicas mais trabalhadas
que devam ser construídas
num singular em que não caiba
a multiplicidade urgente

de todas as nossas almas
 
amor que não seja tanto
que destempere a medida
de confluir nossos risos
no sentido da vida
que se abre em todo peito

em cada veia, em muitas vias
mas que seja controlado

na medida do infinito

que cabe quase sem jeito

nas bordas do nosso umbigo

e que teimamos em mantê-lo

do tamanho apenas dos sentidos
 
primeiro seja o homem
de tudo e tanto assemelhado

a tudo que não seja único

mas que também não seja vário
por pertencer a uma noção
que se mantém incendiária
de que o homem é bandeira
de tremulação planetária
que sabe a revolução
no seu íntimo mais preciso
como os cheiros de sua infância
que lhe sobram nos sorrisos
 
e tanto assim finalmente

se diga o homem construído
com a mesma urdidura

com que vigem os edifícios
nos andaimes todos da gente
na precisão dos ofícios

que antes de se dizer ave

de indizível equilíbrio

seja um bólide que inverta
os rumos de seus sentidos   
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