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Conceição Vitória Marques, que adoptou o pseudónimo de Mercedes Blasco, foi actriz e cançonetista. A sua intervenção em revistas e operetas nos últimos anos do século XIX e começos do actual causou escândalo pela liberdade e desenvoltura com que se apresentava em cena. Abandonou o teatro para se alistar como enfermeira da Cruz Vermelha durante a guerra de 1914-18, e dedicou-se também à carreira literária, publicando, em 1907 e 1920, 2 vols. autobiográficos que alcançaram ruidoso êxito (Memórias de uma Actriz e Vagabunda) e, em anos sucessivos, uma série de livros em verso e prosa. Morreu, já nonagenária, na miséria, abandonada dos poderes públicos.
Ver também
António Pacheco
EU E O MEU GATO
Desde que o meu Marcelo morreu, vivo sósinha com um gato francês, parisiense de raça e nascimento.
E' brincalhão como um cachorro, e dá-me cabo de tudo.
Para afiar as unhas prefere as cortinas e a chaise longue. E' muito pior do que uma criança.
Mas não me ralo nada com isso, porque sou completamente desprendida das coisas deste mundo.
Dizem os espiritas que é preciso sermos assim, para que a nossa alma não sofra, quando chegar a hora de nos separarmos das vaidades desta vida, que devemos deixar sem saudades.
Filhos não tenho, amores também não. Tarecos e trapos não me prendem cá. Ninguém partira daqui tão liberta como eu.
Em todo o caso. por dever educativo, ralho com o Lulu, ele encolhe-se todo de susto, e faz patinha de veludo.
Se o pobre soubesse o medo que eu tenho das suas unhas...
Mas ele desconhece a sua superioridade sobre mim, e vai me obedecendo, porque me vê maior do que ele.
Sempre assim foi. Se os pequenos tivessem conhecimento da sua força, se eles ousassem que seria dos grandes da terra.
Mas não vale fiar… Eu também não confio muito no meu bichano.
(Fonte: “Esta vida” de Mercedes Blasco 1926 )
Desde que o meu Marcelo morreu, vivo sósinha com um gato francês, parisiense de raça e nascimento.
E' brincalhão como um cachorro, e dá-me cabo de tudo.
Para afiar as unhas prefere as cortinas e a chaise longue. E' muito pior do que uma criança.
Mas não me ralo nada com isso, porque sou completamente desprendida das coisas deste mundo.
Dizem os espiritas que é preciso sermos assim, para que a nossa alma não sofra, quando chegar a hora de nos separarmos das vaidades desta vida, que devemos deixar sem saudades.
Filhos não tenho, amores também não. Tarecos e trapos não me prendem cá. Ninguém partira daqui tão liberta como eu.
Em todo o caso. por dever educativo, ralho com o Lulu, ele encolhe-se todo de susto, e faz patinha de veludo.
Se o pobre soubesse o medo que eu tenho das suas unhas...
Mas ele desconhece a sua superioridade sobre mim, e vai me obedecendo, porque me vê maior do que ele.
Sempre assim foi. Se os pequenos tivessem conhecimento da sua força, se eles ousassem que seria dos grandes da terra.
Mas não vale fiar… Eu também não confio muito no meu bichano.
(Fonte: “Esta vida” de Mercedes Blasco 1926 )
22/maio/2023
António Pacheco
https://www.youtube.com/watch?v=Cso36Ez9KXM
13/outubro/2021