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Maria Ângela Alvim foi uma poeta brasileira, nascida no dia 1° de janeiro de 1926, na fazenda Pouso Alegre, no município de Volta Grande, em Minas Gerais. Era irmã do poeta Francisco Alvim. Seu único livro publicado em vida foi Superfície (1950), saudado à época por Carlos Drummond de Andrade. Leitora de escritoras como Simone Weil e Santa Teresa Dávila, corre em sua poesia um veio místico, mas que não permite o frouxo daquilo que Wittgenstein chamava de transzendentales Geschwätz, ou baboseira transcendental.
Acaba sendo compreensível que sua poesia tenha acabado sem a atenção que claramente merece, feita de um único livro e algumas publicações póstumas, lançada no início da década em que parte da poesia brasileira se insurgiria contra as posições do Grupo de 45. Mas a leitura de alguns dos seus poemas demonstra seu talento para uma escrita tesa, com sofisticação sintática, que vai além da mornidão simplória do neorromantismo aguado de tanto da poesia do Grupo de 45.
Ela, de qualquer forma, não pertencia ao grupo. Sua estreia ocorre no mesmo ano da de Hilda Hilst (saudada por Sergio Buarque de Hollanda à época), essa outra mística nossa do pós-guerra, e poucos anos após a estreia também de poetas líricas como Lélia Coelho Frota (que viria a editar a poesia reunida de Maria Ângela Alvim pela primeira vez em 1962, sob o título Poemas), e ainda Marly de Oliveira, estas duas últimas saudadas por Mario Faustino. Trata-se de um período que apenas agora começamos a rever, fora das trincheiras dualistas do período, entre formalismo e experimentalismo, rostos que pertencem a um mesmo Jano que amamos. Hilst, com sua produção caudalosa e genial em poesia, prosa e teatro, alcançou nos últimos anos o reconhecimento que merecia há décadas. A poesia firme de Maria Ângela Alvim ainda espera mais leitores. Tentamos contribuir aqui para que isso venha a acontecer. Em algumas páginas, informa-se que a poeta cometeu suicídio em 1959, em outras que morreu de "uma doença nervosa", o que parece eufemismo da época em que suicídios causavam mal-estar.
Sua poesia, clara e elegantemente logopaica, foi reunida pela última vez em 2002 e publicada em Portugal no volume Toda Poesia, com apresentação de Max de Carvalho, pela Assírio & Alvim.
--- Ricardo Domeneck