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«Penso que a escrita é uma procura das palavras no seu ponto de vibração mais intenso.» Manuel Gusmão nasceu em Évora, em 11 de Dezembro de 1945. Licenciou-se em Filologia Românica (1970) pela Universidade de Lisboa, com uma tese sobre o Fausto de Pessoa, publicada em 1986, e doutorou-se em Literatura Francesa, com uma tese sobre a poética de Francis Ponge (1987), ainda inédita. É professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, desenvolvendo trabalho nas áreas da Literatura Portuguesa, Literatura Francesa e Teoria da Literatura.Ainda jovem, esteve ligado à chamada Nova Crítica. Pertenceu às redacções das revistas de literatura e arte O Tempo e o Modo e Letras e Artes, foi colaborador permanente do jornal Crítica, entre 1969 e 1971, e da revista Seara Nova. Fundou as revistas Ariane (revue d'études littéraires françaises), que se publica desde 1982, e Dedalus, da Associação Portuguesa de Literatura Comparada (desde 1991). É coordenador editorial da revista Vértice (Nova Série) desde 1988. Prefaciou obras de vários autores, como Maria Velho da Costa, Nuno Bragança, Gastão Cruz ou Almeida Faria. Traduziu para português poemas de Olivier Cadiot, Christian Prigent e Francis Ponge. Como ensaísta, crítico e professor universitário, a obra de Manuel Gusmão associa o rigor do académico à sensibilidade de poeta, tanto nos ensaios publicados como em intervenções em sessões públicas. Destacam-se os ensaios que redigiu sobre duas figuras maiores da poesia portuguesa, Fernando Pessoa (ortónimo e heterónimos) e Carlos de Oliveira, que, tocando o essencial da vida e obra dos autores em vários níveis de profundidade, se permitem ser usados duplamente como ferramenta de trabalho ou de descoberta ociosa. Manuel Gusmão tem, também, contribuído activamente para o debate público sobre a renovação do ensino da Literatura. A sua poesia, publicada apenas nos anos 90, foi sendo produzida desde os anos 60. Estamos perante uma escrita meticulosamente cerebral («defendo que a poesia é também uma forma de pensamento»), que convoca toda a literatura, mas que a entrelaça quase invisivelmente com a veemência do que faz acontecer – um fluxo que, no interior de uma incessante intertextualidade e de uma arquitectura sintáctica e temática laboriosa, por vezes árdua, vai derramando ou justapondo até ao infinito imagens de uma extrema intensidade emotiva, física até. As migrações, no título do seu último livro (2004), assumem com a intensidade do fogo um diálogo nem sempre explícito entre a poesia e todas as artes. O autor afirmou, em entrevista ao JL (05/01/05), tentar «reinventar, sem esquecer os modos como as coisas ocorreram no tempo, uma poesia em que o lírico e o narrativo se possam cruzar e mutuamente contaminar.» Mas foi através da escrita do libreto para a ópera Os Dias Levantados (1998), sobre a Revolução de Abril, de António Pinho Vargas, que Manuel Gusmão pôde dar maior visibilidade a alguns dos pressupostos essenciais da sua escrita poética, nomeadamente a «pluralidade vocal» (ou «coralidade»), a poesia em homenagem à Poesia e a «deslinearização do tempo histórico». A escrita do libreto terá constituído um desafio, não apenas pela experiência de uma criação colectiva transdisciplinar mas, também, pelo confronto do autor com a própria memória de um evento que viveu intensamente, com «passionalidade ideo-verbal e ético-política».Politicamente activo desde os tempos de estudante universitário, Manuel Gusmão é membro do Comité Central do Partido Comunista Português, foi deputado à Assembleia Constituinte (1975/1976), membro do Conselho da Comunicação Social e, em 2004, mandatário ao Parlamento Europeu. Dirige desde o primeiro número (1996) a revista Caderno Vermelho, do Sector Intelectual da Organização Regional de Lisboa do PCP.Ainda relativamente ao percurso académico de Manuel Gusmão, registe-se que deu cursos, conferências ou ciclos de conferências, sobre cultura, literatura portuguesa ou literatura francesa nas Universidades de Colónia, Lovaina, Bolonha, Paris III, Veneza, Autónoma de Barcelona e, no Rio de Janeiro, na Universidade Federal e na Pontífica Universidade Católica. É, também, membro da Associação Internacional de Literatura Comparada e do Centro de Estudos Comparados, colaborador do Centro de Estudos de Teatro e fundador da Associação Portuguesa de Literatura Comparada e do GUELF (Grupo Universitário de Estudos de Literatura Francesa). Tomou parte na organização de vários congressos, cursos e colóquios, entre os quais o Poesia & Ciência (Lisboa, 1992). Colaborou no vol. 18 [A Revisionary History of Portuguese Literature] da Literary Theory / Peninsular and Latin American Studies (New York: Routledge/Garland Publishing, 2001). Manuel Gusmão tem poemas publicados nas revista Página, de Stª Cruz de Tenerife, Canárias, e La Luna de Mérida nº.13, Dez. 2001 (traduções para castelhano), e colaboração dispersa por muitas outras publicações, tais como Di Versos, Hablar/Falar de poesia, Inimigo Rumor, Relâmpago, Românica e Tabacaria.