Hilda Machado

Hilda Machado

Hilda Machado foi uma poeta e cineasta brasileira.

Rio de Janeiro
2007 São Paulo
4029
0
3


Prémios e Movimentos

Jabuti 2019

Alguns Poemas

Miscasting

"So you think salvation lies in pretending?"
Paul Bowles



estou entregando o cargo
onde é que assino
retorno outros pertences
um pavilhão em ruínas
o glorioso crepúsculo na praia
e a personagem de mulher
mais Julieta que Justine
adeus ardor
adeus afrontas
estou entregando o cargo
onde é que assino


há 77 dias deixei na portaria
o remo de cativo nas galés de Argélia
uma garrafa de vodka vazia
cinco meses de luxúria
despido o luto
na esquina
um ovo
feliz ano novo
bem vindo outro
como é que abre esse champanhe
como se ri

mas o cavaleiro de espadas voltou a galope
armou a sua armadilha
cisco no olho da caolha
a sua vitória de Pirro
cidades fortificadas
mil torres
escaladas por memórias inimigas
eu, a amada
eu, a sábia
eu, a traída


agora finalmente estou renunciando ao pacto
rasgo o contrato
devolvo a fita
me vendeu gato por lebre
paródia por filme francês
a atriz coadjuvante é uma canastra
a cena da queda é o mesmo castelo de cartas
o herói chega dizendo ter perdido a chave
a barba de mais de três dias

vim devolver o homem
assino onde
o peito desse cavaleiro não é de aço
sua armadura é um galão de tinta inútil
similar paraguaio
fraco abusado
soufflé falhado e palavra fútil

seu peito de cavalheiro
é porta sem campainha
telefone que não responde
só tropeça em velhos recados
positivo
câmbio
não adianta insistir
onde não há ninguém em casa

os joelhos ainda esfolados
lambendo os dedos
procuro por compressas frias
oh céu brilhante do exílio
que terra
que tribo
produziu o teatrinho Troll colado à minha boca
onde é que fica essa tomada
onde desliga

O cineasta do Leblon

“Aquele que escavar em sua consciência
até a camada do ritmo e flutuar nela
não perderá o juízo.”
Nina Gagen-Torn
O brilho de laranja ao sol
amendoeira rubra e pavão
oculta sobressaltos faustianos
encenam-se dramas na alma
suadas peripécias
lágrimas
mímesis
em sítios escusos está a mocinha raptada por um turco
e a nudez do missionário espancado
folheia-se uma antologia de acidentes
títulos afundam
e no lodo
personagens sem nome
e escândalos de fancaria
O comércio incessante
distrai das caudalosas sociologias do fracasso
idades do ouro perdidas
terror espetacular
recorta o esforço de colosso trágico
alçar-se acima da imensa massa de vencidos
violinos pela indesejada que fatalmente alcança e ceifa
carnaval exterior que é dublagem
Nos domingos de lua cheia
um infante sôfrego obriga a minuciosos tratados
miuçalhas
monopólio
asperezas
contrabando
e então
razias de corsário
na lua nova cruzo a cidade pra beijar a sua boca
transpor morros e encontrar a elevação
tropeça-se em pétalas de rosas
em trufas
visitas ao paraíso
as quartas-feiras são turvas
e trazem as penas do inferno
telefonemas seus
telefonemas meus
telefonemas da outra
e a ex
compomos o obrigatório conflito
repetir com honestidade a velha trama
até que ao fim do primeiro bimestre
erra-se no açúcar
escorrega-se na farsa
e mudam-se todos para a novela das 7
Homem da lua
fantasia de rudes hormônios
o bicho se coça
fervor marcial e bico de passarinho
cavalo rampante que rasga com as patas convenções de estilo
atravessa pontes queimadas
alcançou o vale feroz
terremoto maior que o de Lisboa arrasa cidadelas
afrouxa parafusos
e do colchão abala a mola-mestra
ouviu, carro?
tribos bárbaras desabam sobre a minha Europa
ouviu, montanha?
mudaram os livros que eu agora levo pra cama
antigas lendas fabulosas
uma grosseira rapsódia
cinco escritos libertinos
eu bebo como num banquete em Siracusa
e gozo como as prostitutas de Corinto
palmeira, ouviu?
Hilda Machado nasceu em 1952. Com um mestrado em Artes pela Universidade de São Paulo (1987) e doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001), a poeta-cineasta lecionava na Universidade Federal Fluminense, trabalhando especialmente na área de pesquisa e realização cinematográficas. Estudou cinema em Cuba e atuou como pesquisadora do uso da imagem na história junto à coleção fotográfica do Warburg Institute, da Universidade de Londres, na Grã-Bretanha, além de passagens como pesquisadora por várias universidades e instituiçoes no Brasil e exterior. Em 1987 recebeu o prêmio de melhor direção nos festivais de cinema de Gramado, Recife e Rio de Janeiro pelo curta-metragem “Joílson marcou”. Além de inúmeros artigos e ensaios sobre cinema, publicou em 2002 o livroLaurinda Santos Lobo: artistas, mecenas e outros marginais em Santa Teresa (Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002). Hilda Machado foi presa em 1978 pela ditadura militar.
 
Ezra Pound escreveu que a memória era um dos melhores testes para um poema, e chegava a listar aqueles que permaneciam em sua memória após anos ou décadas de sua primeira leitura. Foi o homem, afinal, que declarou que “only emotion endures.” Dos muitos poemas que li nos últimos anos, "Miscasting", de Hilda Machado, publicado em 2004 na revistaInimigo Rumor, foi sem dúvida um dos que permaneceram mais claros em minha memória, talvez pela carga emocional que liberou, mas carga emocional unida à qualidade intrínseca do poema, que conjuga uma linguagem aparentemente coloquial, num tom de conversa, mas que microfilma imagens e gonga-se emself-deprecation numa sonoridade quase átona, sutil, em versos como : « mas o cavaleiro de espadas voltou a galope / armou a sua armadilha / cisco no olho da caolha / a sua vitória de Pirro » ou « oh céu brilhante do exílio / que terra / que tribo / produziu o teatrinho Troll colado à minha boca ».
 
Musicalidade ou sonoridade tornam-se elementos destacados em um poema aos ouvidos da crítica apenas quando manifestam-se de maneira tonitruante, por meio de repetiçoes, assonância e aliteração explícitas, como se música se resumisse a refrão, ou na busca de sons preciosos, "palavras nunca dantes navegadas". O mesmo se dá com a discussão de certa idéia de coloquial ou oralidade na poesia. Ainda está por ser escrita a crítica do papel da oralidade e aspectos sonoros, por exemplo, da poesia do anti-músico João Cabral de Melo Neto, o autor dos poucos “poemas para vozes” oficiais da moderna poesia brasileira, na influência clara da literatura de cordel em sua poesia. Outra coisa a ser debatida é o suposto “coloquial” de certa poesia nacional. O crítico norte-americano Hugh Kenner escreveu, a propósito do trabalho de Williams Carlos Williams, este defensor da criação de uma prosódia americana para a poesia em língua inglesa (numa pesquisa similar à de modernistas brasileiros como Manuel Bandeira), que “art lifts the saying out of the zone of things said” (Homemade World,1975), ou “a arte ergue e retira o dizer da zona das coisas ditas”. Tal “dito” torna-se apto, por exemplo, na discussão do trabalho de poetas como Paulo Leminski, em que o “coloquial” serve como superfície de naturalidade para o artifício formal de toda poesia, parte da pesquisa poética de criaturas como Heine, Laforgue, Williams, Bandeira ou Cabral. Hilda Machado usa recursos parecidos, em poemas que pedem a voz alta do leitor, mas nos quais a escrita tesa se faz presente, garantindo que o poema não se dissolva em mera saliva confessional.
 
A morte prematura de Hilda Machado retira do convívio dos poetas uma autora que a grande maioria mal sabia que existia. No entanto, os poucos textos a que tivemos acesso até agora fazem com que os editores daModo de Usar & Co. posicionem Hilda Machado, com intenso respeito, na freqüência da sintonia de nossa sincronia.
 
--- nota de Ricardo Domeneck
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