Regina
Em alegrias fortes prorrompa
Nervosamente meu coração,
Que se celebra, com toda a pompa,
Um desvairado festim pagão.
Corra um delírio pelo Universo,
Que nem um homem pense sequer,
E ocupe o loiro sólio do Verso
A Imagem Branca duma Mulher!
A um riso dela, deixem os filhos
Mortas nas chamas as próprias mães,
E aos seus Pés tremam fracos, sem brilhos,
Os astros, como se fossem cães!
Lancem blasfêmias todas as bocas,
Os ares sejam um escarcéu,
As aves fiquem mortas ou loucas,
E as nuvens todas ardam no céu!
Raios e roncos de trovoadas
Venham o espaço negro ferir...
E, entre essas raivas desordenadas,
Ela, no sólio, branca, a sorrir.
Para de beijos encher o Ardente
Corpo da minha Deusa Pagã,
Eu quereria ser Deus clemente,
E choraria não ser Satã.
De almas sangrentas e cancerosas
Se erija um trono descomunal,
Onde ela se erga, nas Mãos Formosas
Sustendo um rubro, quente punhal.
Soluce o vento pelos espaços,
O oceano ferva cheio de dor,
E esmague peitos, crânios e braços
Seu Grande Carro Triunfador.
Quando Esse Carro Sombrio e Horrendo
Por sobre o sangue morno passar,
Cantarei sendo Satã — e sendo
Deus, pelas trevas irei chorar.
Depois os corpos estreitamente
Unamos, deles fazendo um só.
E então o Carro furiosamente
Os pise, unindo-os no mesmo pó.