Domingos Caldas Barbosa

Domingos Caldas Barbosa

Domingos Caldas Barbosa foi um sacerdote, poeta e músico brasileiro, autor de lundus e criador da Modinha. Foi membro da Nova Arcádia de Lisboa.

Rio de Janeiro
1800-11-09 Lisboa
21130
0
10


Alguns Poemas

Lundum de Cantigas Vagas [Xarapim eu bem estava

Xarapim eu bem estava
Alegre nest'aleluia,
Mas para fazer-me triste
Veio Amor dar-me na cuia.

Não sabe meu Xarapim
O que amor me faz passar,
Anda por dentro de mim
De noite, e dia a ralar.

Meu Xarapim já não posso
Aturar mais tanta arenga,
O meu gênio deu à casca
Metido nesta moenga.

Amor comigo é tirano
Mostra-me um modo bem cru,
Tem-me mexido as entranhas
Qu'estou todo feito angu.

Se visse o meu coração
Por força havia ter dó,
Por que o Amor o tem posto
Mais mole que quingombó.

Tem nhanhá certo nhonhó,
Não temo que me desbanque,
Porque eu sou calda de açúcar
E ele apenas mel do tanque.

Nhanhá cheia de chulices
Que tantos quindins afeta,
Queima tanto a quem a adora
Como queima a malagueta.

Xarapim tome o exemplo
Dos casos que vêm em mim,
Que se amar há-de lembrar-se
Do que diz seu Xarapim.

Estribilho

Tenha compaixão
Tenha dó de mim,
Porqu'eu lho mereço
Sou seu Xarapim.


Publicado no livro Viola de Lereno: coleção das suas cantigas, oferecidas aos seus amigos (1826).

In: BARBOSA, Caldas. Viola de Lereno. Pref. Francisco de Assis Barbosa. Rio de Janeiro: INL, 1944. 2v. (Biblioteca popular brasileira, 14, 15)

NOTA: Xarapim: o mesmo que xará. Aleluia: alegria, bem-estar. Cuia: no texto, cabeça. Arenga: disputa, atrito (sentido popular). Dar à casca: morrer, perder tudo, arruinar-se. Moenga: moenda. Angu: massa de farinha de milho (fubá), de mandioca ou de arroz, com água e sal, escaldada ao fogo. Quingombó: do quimbundo "Kingombo", quiabo. Nhanhá: tratamento dado às meninas e às moças pelos escravos. Nhonhó: tratamento dado aos senhores pelos escravos. Chulice: de chulo; no texto, graças, malícias. Quindins: dengues, meiguices, encanto

Lundum em Louvor de uma Brasileira Adotiva

Eu vi correndo hoje o Tejo
Vinha soberbo e vaidoso;
Só por ter nas suas margens
O meigo Lundum gostoso.

Que lindas voltas que fez
Estendido pela praia
Queria beijar-lhe os pés.

Se o Lundum bem conhecera
Quem o havia cá dançar;
De gosto mesmo morrera
Sem poder nunca chegar.

Ai rum rum
Vence fandangos e gigas
A chulice do Lundum.

Quem me havia de dizer
Mas a coisa é verdadeira;
Que Lisboa produziu
Uma linda Brasileira.

Ai beleza
As outras são pela pátria
Esta pela Natureza.

Tomara que visse a gente
Como nhanhá dança aqui;
Talvez que o seu coração
Tivesse mestre d'ali.

Ai companheiro
Não será ou sim será
O jeitinho é Brasileiro.

Uns olhos assim voltados
Cabeça inclinada assim,
Os passinhos assim dados
Que vêm entender com mim.

Ai afeto
Lundum entendeu com eu
A gente está bem quieto.

Um lavar em seco a roupa
Um saltinho cai não cai;
O coração Brasileiro
A seus pés caindo vai.

Ai esperanças
É nas chulices de lá
Mas é de cá nas mudanças.

Este Lundum me dá vida
Quando o vejo assim dançar;
Mas temo se continua.
Que Lundum me há de matar.

Ai lembrança
Amor me trouxe o Lundum
Para meter-me na dança.

Nhanhá faz um pé de banco
Com seus quindins, seus popôs,
Tinha lançado os seus laços
Aperta assim mais os nós.

Oh! doçura
As lobedas de nhanhá
Apertam minha ternura.

Logo que nhanhá saiu
Logo que nhanhá dançou,
O cravo que tinha ao peito
Envergonhado murchou.

Ai que peito
Se quiser flores bem novas
Aqui tem Amor perfeito.

Pois segue as danças de lá
Os de lá deve querer;
E se tem de lá melindres
Nunca tenha malmequer.

Ai delírio
Ela semeia saudades
De enxerto no meu martírio.

Imagem - 00190005


Publicado no livro Viola de Lereno: coleção das suas cantigas, oferecidas aos seus amigos (1826).

In: BARBOSA, Caldas. Viola de Lereno. Pref. Francisco de Assis Barbosa. Rio de Janeiro: INL, 1944. 2v. (Biblioteca popular brasileira, 14, 15)

NOTA: Chulice: de chulo; no texto, graças, malícias. Nhanhá: tratamento dado às meninas e às moças pelos escravos. Quindins: dengues, meiguices, encantos. Popôs: possivelmente "dengues". Lobedas: possivelmente "fitas". Melindre: planta também conhecida como beijo-de-frad
Caldas Barbosa (Rio de Janeiro RJ, 1740c. - Lisboa,Portugal, 1800) mudou-se para Lisboa, Portugal por volta de 1772. Lá fez cursos de formação religiosa e foi ordenado em 1777. Excelente violonista, fez sucesso como letrista e cantor e foi grande divulgador da modinha brasileira nos salões portugueses, além de teatrólogo. Em 1790 fundou em Lisboa a Academia de Belas Artes, antiga Academia das Humanidades e futura Nova Arcádia. Aderiu à Arcádia Romana sob o pseudônimo de Lereno Selenuntino. Em 1798 foi publicada sua obra poética Viola de Lereno. Domingos Caldas Barbosa foi poeta árcade, mas sua principal obra está vinculada à canção popular. O crítico Francisco de Assis Barbosa comentou sobre suas modinhas: "Perfeitas ou não, essas quadrinhas despretensiosas resistiriam ao tempo e à pancadaria dos eruditos. As cantigas do mulato Caldas Barbosa possuem um embalo preguiçoso e dolente, que vem da sua autêntica inspiração popular, como uma antecipação dos melhores momentos dos nossos modinheiros e letristas de samba, como um Orestes Barbosa, um Sinhô, um Noel Rosa, um Chico Buarque de Holanda.".
Domingos Caldas Barbosa foi um poeta nascido no Rio de Janeiro por volta de 1739, filho de um português com uma escrava angolana. Mudou-se para Lisboa por volta de 1772, onde foi ordenado em 1777. Foi um importante divulgador da música brasileira em Portugal. Em 1790 fundou em Lisboa a Academia de Belas Artes, e em 1798 publicou seu livroViola de Lereno. É um precursor de nossos poetas do samba. Domingos Caldas Barbosa morreu em Lisboa em 1800.
 
 
Ninguém Morra de Ciúme | 14. Ninguém Morra de Ciúme (Domingos Caldas Barbosa - 1740-1800)
Triste Lereno, Domingos Caldas Barbosa
Ninguém morra de ciúmes – Domingos Caldas Barbosa (1740-1800)
Os Me Deixas Que Tu Dás (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
CUPIDO É LOUCO - Modinhas Inéditas de Domingos Caldas Barbosa
Sinto-me Aflita (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Os Me Deixas Que Tu Dás (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Eu Nasci Sem Coração (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Pelo Amor de Deus (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Lilia, oh Lilia (minueto) de Lereno (Domingos Caldas Barbosa). Música de Rubens Russomanno Ricciardi
Não Pode a Longa Distância (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Pelo Amor de Deus (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
A Minha Nerina (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Estas Lágrimas Sentidas (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Sinto-me Aflita (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Ganinha, Minha Ganinha (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Se Fores ao Fim do Mundo (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
LINHA DO TEMPO 4 DOMINGOS CALDAS BARBOSA IVANALDO
Tristemente A Vida Passa (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Não Pode a Longa Distância (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
A Minha Nerina (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Homens Errados e Loucos (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Homens Errados e Loucos (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Os Desprezos de Meu Bem (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Caldas Barbosa - Melodias e Redondilhas
Por Desabafar Saudades (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Tristemente a Vida Passa (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
A doença Domingos Caldas Barbosa
Lilia oh Lilia - Minueto de Lereno (1798). Música de Rubens Russomanno. Mezzo-soprano Luna Previatti
Estas Lágrimas Sentidas (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Quem Ama Para Agravar (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Ganinha, Minha Ganinha (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Quadro Antiquo - Os meus olhos e os teus olhos- Antonio Leal Moreira/Domingos Caldas Barbosa
Minha Mana Estou Gostando (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Os Desprezos de Meu Bem (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa, 1738/40?-1800)
Sobre Domingos Caldas Barbosa
Vidinha Adeus (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Projeto “Minutos de Poesia” - Domingos Caldas Barbosa.
Quem Ama Para Agravar (anônimo, atribuído a Domingos Caldas Barbosa , 1738/40?-1800)
Os me deixas que tu dás
Domingos Caldas Barbosa/Anónimo - Sentido, ternos Amantes --Segréis de Lisboa
Pérolas Negras: Domingos Caldas
Musica e Poesia na Cultura Portuguesa #3 | Domingos Caldas Barbosa:
Lundum (Poema), de Domingos Caldas Barbosa
Pérolas Negras #11: Domingos Caldas
Marcos Portugal/Domingos Caldas Barbosa-Voce trata amor em brinco - Segréis de Lisboa
Minutos de Poesia - O Meu Livre Coração - Domingos Caldas Barbosa
diga o mundo o que quiser (Poema de Domingos Caldas Barbosa)
Conversa de Botequim - #2 Domingos Caldas Barbosa
Os teus olhos e os meus olhos
REBECCA
GENTE VCS TEM Q VIR MAIS NESSE SITE
15/julho/2020
REBECCA
GOSTEI MUITO DE ESTAR NESSE SITE
15/julho/2020
Rebecca
ADOREI ESSE RESUMO DEMAIS.
15/julho/2020

Quem Gosta

Seguidores