Charles Olson

Charles Olson

Charles Olson foi um poeta dos Estados Unidos, que cunhou os termos pós-modernismo e verso projetivo.

1910-12-27 Worcester
1970-01-10 Nova Iorque
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Alguns Poemas

Maximus para Gloucester, Carta 27 [retida]

Eu retorno a tal geografia,
a terra descendo à esquerda
onde meu pai atirava seu golfe ronhoso
e o resto de nós jogava beisebol
noite de verão adentro até haver mosca
nenhuma à vista e voltávamos para casa
em nossas várias piazzas onde mulheres
sibilavam

À esquerda a terra descia até a cidade,
à direita descia até o mar

Eu era tão jovem minha primeira memória
é de uma tenda armada para alimentar com lagostas
membros de uma convenção da Rexall, e meu pai,
piadista, saía da tenda rugindo
com uma faca de pão entre os dentes para cuidar
do farmacêutico que lhe disseram havia cantado
minha mãe, ela gargalhando, tão segura, redonda
como seu rosto, Hines rosácea e maçã,
sob um chapéu armado das mulheres de então

Isto não é adição nua
de novidade em forma abstrata, isto

não é tumulto ou as formas
de tais eventos, isto,

Gregos, é o término
da batalha

....................É a imposição
de todas aquelas ascendências passadas, os antepassados

meus, a geração daqueles fatos
que são minhas palavras, provêm

de tudo o que não sou mais, contudo sou,
o movimento lento de leste a oeste

de mais do que eu sou

Não há ordem estritamente pessoal
para a minha herança.

....................Grego nenhum será capaz
de discriminar meu corpo.

....................Um americano
é um complexo de ocasiões,
elas mesmas uma geometria
de natureza espacial.

....................Eu tenho esta noção
de que sou um
com minha pele

Mais isto - mais isto:
que eternamente a geografia
que sobre mim se debruça
eu ponho-me a coagir
retroativo a coagir Gloucester
a render-se, a
mudar

....................Pólis
é isto



tradução de Ricardo Domeneck



Maximus to Gloucester, Letter 27 [withheld]


I come back to the geography of it,
the land falling off to the left
where my father shot his scabby golf
and the rest of us played baseball
into the summer darkness until no flies
could be seen and we came home
to our various piazzas where the women
buzzed

To the left the land fell to the city,
to the right, it fell to the sea

I was so young my first memory
is of a tent spread to feed lobsters
to Rexall conventioneers, and my father,
a man for kicks, came out of the tent roaring
with a bread-knife in his teeth to take care of
the druggist they"d told him had made a pass at
my mother, she laughing, so sure, as round
as her face, Hines pink and apple,
under one of those frame hats women then


This, is no bare incoming
of novel abstract form, this

is no welter or the forms
of those events, this,

Greeks, is the stopping
of the battle

....................It is the imposing
of all those antecedent predecessions, the precessions

of me, the generation of those facts
which are my words, it is coming

from all that I no longer am, yet am,
the slow westward motion of

more than I am


There is no strict personal order
for my inheritance.


........................No Greek will be able
to discriminate my body.

....................An American
is a complex of occasions,
themselves a geometry
of spatial nature.


....................I have this sense,
that I am one
with my skin

....................Plus this-plus this:
that forever the geography
which leans in
on me I compell
backwards I compell Gloucester
to yield, to
change

....................Polis
is this


Charles Olson nasceu em Worcester, no estado americano de Massachusetts, a 27 de dezembro de 1910. A família passaria os verões na cidade pesqueira de Gloucester, que se tornaria central no pensamento mítico e poético do poeta. Seu primeiro livro é hoje um estudo clássico do romance de Herman Melville (1819 – 1891), o grande Moby-Dick (1851). O estudo de Olson é intitulado Call Me Ishmael (1947), nomeado a partir da primeira sentença no romance de Melville. Call Me Ishmael é hoje considerado também uma espécie dePoética de Olson, unindo-se a outros livros de crítica escritos por modernistas americanos sobre outros poetas, como o volume Bottom: On Shakespeare, de Louis Zukofsky; o inacabado The H.D. Book, de Robert Duncan; ou, mais recentemente, o impressionante My Emily Dickinson, de Susan Howe.
 
Nas décadas de 40 e 50 reinava nos Estados Unidos a ideologia crítica doNew Criticism (do qual os brasileiros do Grupo de 45 beberam algumas de suas crenças), baseada na obra tardia de T.S. Eliot e W.H. Auden como modelos principais. Os primeiros modernistas estavam soterrados no esquecimento: Pound estava preso, Williams menosprezado, Stein esquecida. Os poetas da década de 30 ligados aos Objetivistas, como Louis Zukofsky, Lorine Niedecker e George Oppen, eram desconhecidos, pouquíssimo divulgados e até perseguidos politicamente por MacCarthy por suas inclinações socialistas. É neste ambiente que Olson escreve o seu famoso ensaio-manifesto "Projective Verse", no qual prega o uso de uma métrica baseada na respiração do poeta, a página como campo de composição (daí a expressão "composition by field"), e uma construção poética através da conexão de percepções e sons, não pela sintaxe ou lógica. Seu poema "The Kingfishers", incluído em seu primeiro livro In Cold Hell, in Thicket (1953), é considerado um belo exemplo desta pesquisa. "The Kingfishers", que foi publicado pela primeira vez em 1950, é chamado por alguns de "poema de exórdio" da poesia norte-americana do pós-guerra. Olson abre seu poema com os versos:
 
"What does not change / is the will to change"
 
O que não muda é a vontade de mudar. Charles Olson presidiu a famosa Black Mountain College, que teve como professores poetas como Robert Creeley e Robert Duncan, o compositor-poeta John Cage, o coreógrafo Merce Cunningham, entre outros. A revistaBlack Mountain, editada por Creeley, viria a unir alguns destes poetas, em um momento em que a poesia norte-americana explodia em grupos de poetas retomando a pesquisa dos primeiros modernistas americanos, como Pound, Williams e Stein, ou europeus, como Tristan Tzara e Hans Arp.
 
Olson retoma a pesquisa épica de Pound, mas a partir dolocal, como querendo fundar na pequena vila pesqueira de Gloucester sua própria República. Isso talvez ligueThe Maximus Poems mais ao épico em cinco volumes de William Carlos Williams, intituladoPaterson e publicado em sua totalidade em 1963, que ao épico vitalício de Pound,The Cantos. No entanto, tanto em Olson como em outros poetas da década de 50 americana, sentimos a influência maciça do volumeThe Pisan Cantos (1948), que rendeu a Pound o polêmico Prêmio Bollingen, instituído naquele ano.
 
São todos poetas (Olson, Creeley, Ginsberg, O´Hara) que recusam a visão dosNew Critics de uma poesia independente ou separada da História. Olson e seus companheiros de geração retornam ao papel social do poeta como membro de uma comunidade. Aquelas tais "palavras da tribo". Vale também lembrar a definição de Pound para o épico: "um poema que inclui a História".
 
O poema "Maximus to Gloucester, Letter 27 [withheld]" está incluído no épico local/universalThe Maximus Poems. Se estivesse vivo, Olson completaria hoje cem anos. Nossa homenagem ao poeta incansável em sua busca pela historicidade da poesia, o poeta que se autodefiniu não como escritor, mas como umArcheologist of Morning, um "arqueólogo da manhã".
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
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