Castro Alves

Castro Alves

Antônio Frederico de Castro Alves foi um poeta brasileiro. Nasceu na fazenda Cabaceiras, a sete léguas da vila de Nossa Senhora da Conceição de "Curralinho", hoje Castro Alves, no estado da Bahia.

1847-03-14 Curralinho, Castro Alves, Bahia, Brasil
1871-07-06 Salvador, Bahia, Brasil
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Prémios e Movimentos

Romantismo

Alguns Poemas

Quando eu Morrer

Eu morro, eu morro. A matutina brisa
Já não me arranca um riso. A rósea tarde
Já não me doura as descoradas faces
Que gélidas se encovam.
JUNQUEIRA FREIRE


Quando eu morrer... não lancem meu cadáver
No fosso de um sombrio cemitério...
Odeio o mausoléu que espera o morto
Como o viajante desse hotel funéreo.

Corre nas veias negras desse mármore
Não sei que sangue vil de messalina,
A cova, num bocejo indiferente,
Abre ao primeiro o boca libertina.

Ei-la a nau do sepulcro — o cemitério...
Que povo estranho no porão profundo!
Emigrantes sombrios que se embarcam
Para as plagas sem fim do outro mundo.

Tem os fogos — errantes — por santelmo.
Tem por velame — os panos do sudário...
Por mastro — o vulto esguio do cipreste,
Por gaivotas — o mocho funerário...

Ali ninguém se firma a um braço amigo
Do inverno pelas lúgubres noitadas...
No tombadilho indiferentes chocam-se
E nas trevas esbarram-se as ossadas...

Como deve custar ao pobre morto
Ver as plagas da vida além perdidas,
Sem ver o branco fumo de seus lares
Levantar-se por entre as avenidas!...

Oh! perguntai aos frios esqueletos
Por que não têm o coração no peito...
E um deles vos dirá "Deixei-o há pouco
De minha amante no lascivo leito."

Outro: "Dei-o a meu pai". Outro: "Esqueci-o
Nas inocentes mãos de meu filhinho"...
...Meus amigos! Notai... bem como um pássaro
O coração do morto volta ao ninho!...

São Paulo, março de 1869.


Publicado no livro Espumas flutuantes: poesias de Castro Alves, estudante do quarto ano da Faculdade de Direito de S. Paulo (1870).

In: ALVES, Castro. Obra completa. Org. e notas Eugênio Gomes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 198

A Mãe do Cativo

Le Christ à Nazareth, atix jours de son enfance
Jouait avec Ia croix, symbole de sa mort;
Mère du Polonais! quil apprene davance
A combattre et braver les outrages du Sort.

Quil couve dans son sein sa colère et sa joie
Qu’il ses discours prudents distillent le venin,
Comme un aime obscur que son coeur se reploie
À terre, à deux genoux, quil rampe comme un nain

(Mickiewicz - A Mãe Polaca)

Ó mãe do cativo! que alegre balanças
A rede que ataste nos galhos da selva!
Melhor tu farias se à pobre criança
Cavasses a cova por baixo da relva.

Ó mãe do cativo! que fias à noite
As roupas do filho na choça da palha!
Melhor tu farias se ao pobre pequeno
Tecesses o pano da branca mortalha.

Misérrima! E ensinas ao triste menino
Que existem virtudes e crimes no mundo
E ensinas ao filho que seja brioso,
Que evite dos vícios o abismo profundo ...

E louca, sacodes nesta alma, inda em trevas,
O raio da esprança... Cruel ironia!
E ao pássaro mandas voar no infinito,
Enquanto que o prende cadeia sombria! ...

II

Ó Mãe! não despertes estalma que dorme,
Com o verbo sublime do Mártir da Cruz!
O pobre que rola no abismo sem termo
Pra quhá de sondá-lo... Que morra sem luz.

Não vês no futuro seu negro fadário,
Ó cega divina que cegas de amor?!
Ensina a teu filho - desonra, misérias,
A vida nos crimes - a morte na dor.

Que seja covarde... que marche encurvado...
Que de homem se torne sombrio reptíl.
Nem core de pejo, nem trema de raiva
Se a face lhe cortam com o látego vil.

Arranca-o do leito... seu corpo habitue-se
Ao frio das noites, aos raios do sol.
Na vida - só cabe-lhe a tanga rasgada!
Na morte - só cabe-lhe o roto lençol.

Ensina-o que morda... mas pérfido oculte-se
Bem como a serpente por baixo da chã
Que impávido veja seus pais desonrados,
Que veja sorrindo mancharem-lhe a irmã.

Ensina-lhe as dores de um fero trabalho...
Trabalho que pagam com pútrido pão.
Depois que os amigos açoite no tronco...
Depois que adormeça coo sono de um cão.

Criança - não trema dos transes de um mártir!
Mancebo - não sonhe delírios de amor!
Marido - que a esposa conduza sorrindo
Ao leito devasso do próprio senhor! ...

São estes os cantos que deves na terra
Ao mísero escravo somente ensinar.
Ó Mãe que balanças a rede selvagem
Que ataste nos troncos do vasto palmar.

III

Ó Mãe do cativo, que fias à noite
À luz da candeia na choça de palha!
Embala teu filho com essas cantigas...
Ou tece-lhe o pano da branca mortalha.

Poeta

Meditar é trabalhar. Pensar é obrar.
O olhar fito no céu é uma obra.
V. HUGO.

Lunivers est ]e temple, et Ia serre rautel.
Les cieux sont le dbme; et les astres vans nombre
Sont les sacrés flambeaux pour ce temps aliurptés.
LAMARTINE.

POETA, às horas mortas que o cálice azulado
— Da etérea flor — a noite — debruça-se pra o mar,
E a pálida sonâmbula, cumprindo o eterno fado,
As gazas transparentes espalha do luar,

Eu vi-te ao clarão, trêmulo dos astros lá naltura
Pela janela aberta às virações azuis,
— A amante sobre o peito sedento de ternura,
A mente no infinito sedenta só de luz.

Perto do candelabro teu Lamartine terno
À tua espera abria as folhas de cetim;
Mas tu lias no livro, onde escrevera o Eterno
Letras — que são estrelas — no céu — folha sem fim —

Cismavas... de astro em astro teu pensamento errava
Rasgando o reposteiro da seda azul dos céus:
E teu ouvido atento... em êxtase escutava
Nas virações da noite o respirar de Deus.

O oceano de tua alma, do crânio transbordando,
Enchia a natureza de sentimento e amor,
As noites eram ninhos de amantes socultando,
O monte — um braço erguido em busca do Senhor.

Nas selvas, nas neblinas o olhar visionário
Via serguer fantasmas aqui... ali... além,
Pra ti era o cipreste — o dedo mortuário
Com que o sepulcro aponta no espaço ao longe... alguém

No cedro pensativo, que a sós no descampado
Geme e goteja orvalhos ao sopro do tufão,
Vias um triste velho — sozinho, desprezado
Molhando a barba em prantos coa fronte para o chão.

Aqui — ondina louca — vogavas sobre os mares —
Ali — silfo ligeiro — na murta ias dormir,
Anjo — de algum cometa, que vaga pelos ares,
Na cabeleira fúlgida brincavas a sorrir.

Sublime panteísta, que amor em ti resumes,
Sentes a alma de Deus na criação brilhar!
Perfume — tu subias, de um anjo entre os perfumes,
Ave do céu — nas nuvens teu ninho ias buscar.

Canta, poeta, os hinos, com que o silêncio acordas,
A natureza — é uma harpa presa nas mãos de Deus.
O mundo passa... e mira o brilho dessas cordas...
E o hino?... O hino apenas chega aos ouvidos teus.

Todo o universo é um templo — o céu a cúpula imensa,
Os astros — lampas de ouro no espaço a cintilar,
A ventania — é o órgão que enche a nave extensa,
Tu és o sacerdote da terra — imenso altar.

AO ATOR JOAQUIM AUGUSTO

Um Dia Pigmalião — o estatuário
Da oficina no tosco santuário
Pôs-se a pedra a talhar ...
Surgem contornos lânguidos, amenos...
E dos flocos de mármore outra Vênus
Surge dest’outro mar.

De orgulho o mestre ri... A estátua é bela!
Da Grécia as filhas por inveja dela
Vão nas grutas gemer...
Mas o artista soluça: "Ó Grande Jove!
"Ela é bela... bem sei — mas não se move!
"É sombra — e não mulher!"

Então do excelso Olimpo o deus-tonante
Manda que desça um raio fulgurante
À tenda do escultor.
Vive a estátua! Nos olhos — treme o pejo,
Vive a estátua!... Na boca — treme um beijo,
Nos seios — treme amor.

O poeta é — o moderno estatuário
Que na vigília cria solitário
Visões de seio nu!
O mármore da Grécia — é o novo drama!
Mas o raio vital quem lá derrama?...
É Júpiter!... És tu!...

Como Gluck nas selvas aprendia
Ao som do violoncelo a melodia
Da santa inspiração,
Assim bebes atento a voz obscura
Do vento das paixões na selva escura
Chamada — multidão.

Gargalhadas, suspiros, beijos, gritos,
Cantos de amor, blasfêmias de precitos,
Choro ou reza infantil,
Tudo colhes... e voltas coas mãos cheias,
— O crânio largo a transbordar de idéias
E de criações mil.

Então começa a luta, a luta enorme,
Desta matéria tosca, áspera, informe,
Que na praça apanhou.
Teu gênio vai forjar novo tesouro...
O cobre escuro vai mudar-se em ouro,
Como Fausto o sonhou!

Glória ao Mestre! Passando por seus dedos
Dói mais a dor... os risos são mais ledos...
O amor é mais do céu...
Rebenta o ouro desta fronte acesa!
O artista corrigiu a natureza!
O alquimista venceu!

Então surges, Ator! e do proscénio
Atiras as moedas do teu gênio
Às pasmas multidões.
Pródigo enorme! a tua enorme esmola
Cunhada pela efígie tua rola
Nos nossos corações.

Por isso agora, no teu almo dia,
Vieram dando as mãos a Poesia
E o povo, bem o vês;
Como nos tempos dessa Roma antiga
Aos pés desse outro Augusto a plebe amiga
Atirava lauréis ...

Augusto! E o nome teu não se desmente...
O diadema real na vasta frente
Cinges... eu bem o sei!

Mandas no povo deste novo Lácio...
E os poetas repetem como Horácio:
"Salve! Augusto! Rei!"

Castro Alves (Curralinho [Castro Alves] BA, 1847 – Salvador BA, 1971) viveu na Bahia até 1862, quando mudou-se para Recife, onde iniciou, em 1864, os estudos na Faculdade de Direito. Em Recife ele publicou seu primeiro poema, Destruição de Jerusalém, fundou uma sociedade abolicionista, com Rui Barbosa, e se apaixonou pela atriz portuguesa Eugênia Câmara, para quem escreveu a peça Gonzaga ou a Revolução de Minas. Em 1867 a peça estreou em Salvador, trazendo consagração ao poeta e à atriz. No ano seguinte, Castro Alves, então no Rio de Janeiro, a leria para José de Alencar, que o apresentaria a Machado de Assis. No mesmo ano, 1868, o poeta chegou a São Paulo, onde continuou seus estudos de Direito. Na sessão magna promovida pela faculdade para comemorar a independência do Brasil, ele declamou pela primeira vez o poema Navio Negreiro. Seu único livro publicado em vida foi Espumas Flutuantes (1870). Pertencente à última geração romântica, Castro Alves cantou o amor e a mulher de forma sensual e inovadora, mas é por sua poesia de temática social, que denuncia a escravidão e as desigualdades de classe, que é considerado um dos maiores e mais populares poetas brasileiros.
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pedro
alguém pode me ajudar?
28/abril/2021
pedro
A poesia de caráter político-social de Castro Alves é marcada pela grandiloquência e pela oratória inflamada. Para traduzir o movimento de forças que se opõem, o poeta faz uso exagerado das antíteses. destaque, do poema, três exemplos dessa figura de linguagem.
28/abril/2021
Pedro
tem alguém ai?
28/abril/2021
Joao
Este poema LINDOOOO
12/março/2021
Jéssica Passos
Castro Alves nasceu as cabeceiras, na margem, do rio Paraguaçu, na cidade de Cabaceiras do Paraguaçu.
01/março/2021
Jéssica Passos
A fazenda Cabaceiras, localiza-se na cidade de Cabaceiras do Paraguaçu -BA e não na cidade Castro Alves.
01/março/2021
Felícia Sales
sou da cidade natal de castro alves e tenho uma admiração imensa por ele adoro os poemas dele!!!
20/janeiro/2021
Echos Rodrigues
Lindo demais... Toda uma história em apenas um poema... Maravilha...
29/dezembro/2020
.........
.
05/novembro/2020
Isadora
Maravilhoso
05/novembro/2020
M
Junho de 1865
26/junho/2020
...
Alguém sabe qual foi o ano de publicação??
13/maio/2020
..
Qual foi o ano ?
07/maio/2020
ALTAIR CASCAES
hÁ QUE TER MAIS CUIDADO QUANDO TRANSCREVER O POEMA DO CASTRO ALVES, POIS NO SEGUNDO QUARTETO VOCÊ ESCREVE : ó NOITE CÚMPLICE! NOITE DE MAIOR, não, não é maior é MAIO
05/maio/2020
Kenji
De q ano é a obra?
05/maio/2020
Romilson Damaceno
Pensamento de Amor, uma obra prima desse gênio do romantismo brasileiro, leiam também Gesso e Bronze que ele escreveu para Agnese, sua última paixão.
25/março/2020
Joana Darc
Amo todos os poemas dele!
10/janeiro/2020
pedro
maravilhoso
08/novembro/2019
Mickeilla🍃🍃
Uai
11/outubro/2019
Mickeilla
Ele viveu por 24 anos apenas??
11/outubro/2019
lale
top
09/outubro/2019
Gilvana Dias
Castro Alves nasceu na Fazenda Cabaceiras, freguesia de Muritiba, hoje Cabaceiras do Paraguacú-Bahia. Quem morava em Curralinho era a mãe dele antes de casar.
09/agosto/2019
Talita de Menezes Cerqueira
Castro Alves nasceu em Cabaceiras do Paraguaçu, na época era um pequeno distrito da cidade de Muritiba-BA.
10/março/2018

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