Herberto Helder
Herberto Helder de Oliveira foi um poeta português, considerado por alguns o 'maior poeta português da segunda metade do século XX' e um dos mentores da Poesia Experimental Portuguesa.
1930-11-23 Funchal
2015-03-23 Cascais
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5.
Não se pode tocar na dança. Toda essa fogueira.
Uma paisagem temível vista depressa
desaparecida.
Porque é tudo sublevado para o olhar.
E é profundo quando vibra um colar de água
no coração da pedra muito limpa.
A dança de baixo para cima. Nunca
uma árvore pôde assim respirar tão entranhada.
Constelação que palpita
em sua imagem
de raízes carnais. E as grandes frutas imóveis
como rostos
contemplados aqui. O sono ferve na cabeça dos mortos.
Os diamantes. Os cabelos
torcidos como garras. Baixos. Violentos.
Ainda.
E o fogo arrasta as serpentes para fora. Alua move
as portas. O sangue brilha no fundo
da boca. Isto é o incêndio
dos braços entreabertos, das espáduas.
Porque tudo caminha inspirado em si mesmo.
Jardins em arco, as casas.
E a dança desde o umbigo puxa os tentáculos à volta.
O dia expulsa as estrelas
das poças. Que os chifres
estremeçam sob as lunações giratórias.
O leite nas tetas. O pêlo amansa.
Pode-se ver a onda a bater nas omoplatas. As coxas
rodando os seus lentos planetas que se afastam.
Da terra,
do meio. Explode a estação mais branca.
Branca no ano.
Vergam-se os quartos. E as caras
demenciais docemente quando aparecem
massacradas.
Onde a luz acaba e a treva toda se volta.
Uma camisa torácica
posta apanhada a cada clarão. Isso com as unhas
a luzir. Em cima os dedos nas mãos. As cobras
hipnóticas.
Dizem que o mel novo enlouquece as pessoas. A dança
arrasta os mortos. Simétricos,
fechados como laços,
como jóias.
Até às ressacas das paisagens que se movem
dia a dia. Pelos incêndios dentro dos animais. Solenes
pedras
sumptuárias. A dança
guiando as montanhas sobre as águas.
Navios cegos.
Branca floresta.
1977.
Uma paisagem temível vista depressa
desaparecida.
Porque é tudo sublevado para o olhar.
E é profundo quando vibra um colar de água
no coração da pedra muito limpa.
A dança de baixo para cima. Nunca
uma árvore pôde assim respirar tão entranhada.
Constelação que palpita
em sua imagem
de raízes carnais. E as grandes frutas imóveis
como rostos
contemplados aqui. O sono ferve na cabeça dos mortos.
Os diamantes. Os cabelos
torcidos como garras. Baixos. Violentos.
Ainda.
E o fogo arrasta as serpentes para fora. Alua move
as portas. O sangue brilha no fundo
da boca. Isto é o incêndio
dos braços entreabertos, das espáduas.
Porque tudo caminha inspirado em si mesmo.
Jardins em arco, as casas.
E a dança desde o umbigo puxa os tentáculos à volta.
O dia expulsa as estrelas
das poças. Que os chifres
estremeçam sob as lunações giratórias.
O leite nas tetas. O pêlo amansa.
Pode-se ver a onda a bater nas omoplatas. As coxas
rodando os seus lentos planetas que se afastam.
Da terra,
do meio. Explode a estação mais branca.
Branca no ano.
Vergam-se os quartos. E as caras
demenciais docemente quando aparecem
massacradas.
Onde a luz acaba e a treva toda se volta.
Uma camisa torácica
posta apanhada a cada clarão. Isso com as unhas
a luzir. Em cima os dedos nas mãos. As cobras
hipnóticas.
Dizem que o mel novo enlouquece as pessoas. A dança
arrasta os mortos. Simétricos,
fechados como laços,
como jóias.
Até às ressacas das paisagens que se movem
dia a dia. Pelos incêndios dentro dos animais. Solenes
pedras
sumptuárias. A dança
guiando as montanhas sobre as águas.
Navios cegos.
Branca floresta.
1977.
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