Pablo Neruda
Pablo Neruda foi um poeta chileno, bem como um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX e cônsul do Chile na Espanha e no México.
1904-07-12 Parral, Chile
1973-09-23 Santiago, Chile
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IX - Palavras À Europa
Eu, americano das terras pobres,
das metálicas mesetas,
onde o golpe do homem contra o homem
se reúne ao da terra sobre o homem.
Eu, americano errante,
órfão dos rios e dos
vulcões que me procriaram,
a vós, simples europeus
das ruas tortuosas,
humildes proprietários da paz e o azeite,
sábios tranquilos como o fumo,
eu vos digo: aqui vim
aprender de vós,
de uns e outros, de todos,
porque de que me serviria
a terra, para que se fizeram
o mar e os caminhos,
senão para ir olhando e aprendendo
de todos os seres um pouco.
Não me fecheis a porta
(como as portas negras, salpicadas de sangue
de minha materna Espanha).
Não me mostreis a gadanha inimiga
nem o esquadrão blindado,
nem as antigas forcas para o novo ateniense,
nas amplas vias gastas
pelo resplendor das uvas.
Não quero ver um soldadinho morto
com os olhos comidos.
Mostra-me de uma pátria a outra
o infinito fio da vida
cosendo o traje da primavera.
Mostra-me uma máquina pura,
azul de aço sob o grosso azeite,
lesta para avançar nos trigais.
Mostra-me o rosto cheio de raízes
de Leonardo, porque esse rosto
é vossa geografia,
e no alto dos montes,
tantas vezes descritos e pintados,
vossas bandeiras juntas
recebendo
o vento eletrizado.
Trazei água do Volga fecundo
à água do Arno dourado.
Trazei sementes brancas
da ressurreição da Polônia,
e de vossas vinhas levai
o doce fogo rubro
ao norte da neve!
Eu, americano, filho
das mais largas solidões do homem,
vim aprender a vida de vós
e não a morte, e não a morte!
Eu não cruzei o oceano,
nem as mortais cordilheiras,
nem a pestilência selvagem
das prisões paraguaias,
para vir ver
junto aos mirtos que só conhecia
nos livros amados,
vossas órbitas sem olhos e vosso sangue seco
nos caminhos.
Eu ao mel antigo e ao novo,
esplendor da vida, vim.
Eu a vossa paz e a vossas portas,
a vossas lâmpadas acesas,
a vossas bodas vim.
A vossas bibliotecas solenes
de tão longe vim.
A vossas fábricas deslumbrantes
chego a trabalhar um momento
e a comer entre os trabalhadores.
Em vossas casas entro e saio.
Em Veneza, na Hungria a bela,
em Copenhague me vereis,
em Leningrado, conversando
com o jovem Pushkin, em Praga
com Fucik, com todos os mortos
e todos os vivos, com todos
os metais verdes do Norte
e os cravos de Salerno.
Eu sou a testemunha que vem
visitar vossa morada.
Oferecei-me a paz e o vinho.
Amanhã cedo me vou.
Me está esperando em toda parte a primavera.
das metálicas mesetas,
onde o golpe do homem contra o homem
se reúne ao da terra sobre o homem.
Eu, americano errante,
órfão dos rios e dos
vulcões que me procriaram,
a vós, simples europeus
das ruas tortuosas,
humildes proprietários da paz e o azeite,
sábios tranquilos como o fumo,
eu vos digo: aqui vim
aprender de vós,
de uns e outros, de todos,
porque de que me serviria
a terra, para que se fizeram
o mar e os caminhos,
senão para ir olhando e aprendendo
de todos os seres um pouco.
Não me fecheis a porta
(como as portas negras, salpicadas de sangue
de minha materna Espanha).
Não me mostreis a gadanha inimiga
nem o esquadrão blindado,
nem as antigas forcas para o novo ateniense,
nas amplas vias gastas
pelo resplendor das uvas.
Não quero ver um soldadinho morto
com os olhos comidos.
Mostra-me de uma pátria a outra
o infinito fio da vida
cosendo o traje da primavera.
Mostra-me uma máquina pura,
azul de aço sob o grosso azeite,
lesta para avançar nos trigais.
Mostra-me o rosto cheio de raízes
de Leonardo, porque esse rosto
é vossa geografia,
e no alto dos montes,
tantas vezes descritos e pintados,
vossas bandeiras juntas
recebendo
o vento eletrizado.
Trazei água do Volga fecundo
à água do Arno dourado.
Trazei sementes brancas
da ressurreição da Polônia,
e de vossas vinhas levai
o doce fogo rubro
ao norte da neve!
Eu, americano, filho
das mais largas solidões do homem,
vim aprender a vida de vós
e não a morte, e não a morte!
Eu não cruzei o oceano,
nem as mortais cordilheiras,
nem a pestilência selvagem
das prisões paraguaias,
para vir ver
junto aos mirtos que só conhecia
nos livros amados,
vossas órbitas sem olhos e vosso sangue seco
nos caminhos.
Eu ao mel antigo e ao novo,
esplendor da vida, vim.
Eu a vossa paz e a vossas portas,
a vossas lâmpadas acesas,
a vossas bodas vim.
A vossas bibliotecas solenes
de tão longe vim.
A vossas fábricas deslumbrantes
chego a trabalhar um momento
e a comer entre os trabalhadores.
Em vossas casas entro e saio.
Em Veneza, na Hungria a bela,
em Copenhague me vereis,
em Leningrado, conversando
com o jovem Pushkin, em Praga
com Fucik, com todos os mortos
e todos os vivos, com todos
os metais verdes do Norte
e os cravos de Salerno.
Eu sou a testemunha que vem
visitar vossa morada.
Oferecei-me a paz e o vinho.
Amanhã cedo me vou.
Me está esperando em toda parte a primavera.
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