Pablo Neruda

Pablo Neruda

Pablo Neruda foi um poeta chileno, bem como um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX e cônsul do Chile na Espanha e no México.

1904-07-12 Parral, Chile
1973-09-23 Santiago, Chile
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Ii - Transiberiano

Atravesso o outono siberiano:
cada bétula um candelabro de ouro.
De repente uma árvore negra, uma árvore vermelha,
mostra uma ferida ou uma labareda.
A estepe, o rosto
de áspera imensidade, largura verde,
planeta cereal, terrestre oceano.

Passei de noite
em Novosibirsk, fundada
pela nova energia.
Na extensão suas luzes trabalhavam
no meio da noite, o homem novo
fazendo nova a natureza.
E tu, grande rio Yenisey, me disseste
com ampla voz ao passar, tua palavra:
“Agora não correm em vão minhas águas.
Sou sangue da vida que desperta”.

A pequena estação em que a chuva
deixa uma lembrança de água nos rincões
e acima as antigas, doces casas
de madeira, fragmentos dos bosques,
têm hóspedes novos, uma fileira
de ferro: são os novos tratores
que ontem chegaram, rígidos, uniformes
soldados da terra,
armas do pão, exército
da paz e a vida.
Trigos, madeiras, frutos
da Sibéria, bem-vindos
na casa do homem:
ninguém lhes dava direito a nascer,
ninguém podia saber que existíeis,
até que se quebrou a neve
e entre as asas brancas do degelo
entrou o homem soviético
a estender as sementes.
Oh terras siberianas,
na luz amarela
do mais comprido outono da terra,
alegres são as folhas de ouro,
toda a luz os cobre com sua taça entornada!

O trem transiberiano
vai devorando o planeta.
Cada dia uma hora
desaparece diante de nós,
cai atrás do trem,
torna-se semente.
Junto aos Urais
deixamos o bom frio do outono
e antes de Krasnoyarsk, antes de um dia,
a primavera invisível
vestiu de novo seu tíbio traje azul.
Na cabina seguinte
viaja o jovem geólogo
com sua mulher e um menino pequeninho.
A ilha de Sajalin os espera
com seus quarenta graus
de frio e solidão,
mas também esperam os metais
que têm dado referência
aos descobridores.

Adiante, menino soviético!
Como venceremos a solidão,
como venceremos o frio,
como ganharemos a paz,
se não vais pelo transiberiano
para fecundar as ilhas?
O trem vai repartindo
até Vladivostok, e ainda
entre os arquipélagos de cor de aço,
os rapazes que mudarão a vida,
que mudarão frio e solidão e vento
em flores e metais.
Adiante, rapazes
que neste trem transiberiano,
ao longo de sete dias de marcha
sonhais sonhos precisos
de ferro e de colheitas.

Adiante, trem siberiano,
tua vontade tranquila
quase dá volta ao globo!

Extensão, ampla terra, percorrendo-te,
resvalando no trem dias e dias,
amei tuas latitudes de estepe,
teus cultivos, teus povoados, tuas usinas,
teus homens reduzindo-te em substância
e teu outono infinito que me cobria de ouro
enquanto o trem vencia a luz e a distância!

Desde agora te levarei em meus olhos,
Sibéria, mãe
amarela, inabarcável
primavera futura!
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