Adélia Prado
Adélia Luzia Prado Freitas é uma escritora brasileira. Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único.
1935-12-13 Divinópolis, Minas Gerais, Brasil
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Uns Outros Nomes de Poesia
Queria uma cidade abandonada
para achar coisas nas casas, objetos de ferro,
um quadro interessantíssimo na parede,
esquecidos na pressa.
Mas, sem guerra aparente e com a vida tão cara,
quem deixa para trás uma agulha sequer?
Eu acho coisas é no meu sonho,
no rico porão do sonho,
coisas que não terei.
Toda a vida resisti a Platão, a seus ombros largos,
à sua república aleijada, donde exilou os poetas.
Contudo, erros de tradução são ordinários,
eu não sei grego,
eu não comi com ele um saco de sal.
Por isso o que ele disse e o que eu digo
é carne dada às feras,
menos o que sonhamos.
Ninguém mente no sonho,
onde tudo está nu e nós desarmados.
O mito que ele escreveu — quem sabe a contragosto? —
é tal qual o que digo:
na garganta do morto tem um buraco tão grande
como o Vale de Josafá onde seremos julgados.
Não há no mundo poder que nos conteste
quando o discurso é sobre luz e sombra,
crina e focinho orvalhados.
Contra isso as hostes se enfurecem
e os legistas escondem por escusos motivos
a fotografia do suposto suicida.
Ah, mas o amor em que não creem
continua impassível gerando sentenças justas,
gerando bênçãos, amantes,
apesar do morto e seu pescoço arruinado.
para achar coisas nas casas, objetos de ferro,
um quadro interessantíssimo na parede,
esquecidos na pressa.
Mas, sem guerra aparente e com a vida tão cara,
quem deixa para trás uma agulha sequer?
Eu acho coisas é no meu sonho,
no rico porão do sonho,
coisas que não terei.
Toda a vida resisti a Platão, a seus ombros largos,
à sua república aleijada, donde exilou os poetas.
Contudo, erros de tradução são ordinários,
eu não sei grego,
eu não comi com ele um saco de sal.
Por isso o que ele disse e o que eu digo
é carne dada às feras,
menos o que sonhamos.
Ninguém mente no sonho,
onde tudo está nu e nós desarmados.
O mito que ele escreveu — quem sabe a contragosto? —
é tal qual o que digo:
na garganta do morto tem um buraco tão grande
como o Vale de Josafá onde seremos julgados.
Não há no mundo poder que nos conteste
quando o discurso é sobre luz e sombra,
crina e focinho orvalhados.
Contra isso as hostes se enfurecem
e os legistas escondem por escusos motivos
a fotografia do suposto suicida.
Ah, mas o amor em que não creem
continua impassível gerando sentenças justas,
gerando bênçãos, amantes,
apesar do morto e seu pescoço arruinado.
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