Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta, filósofo e escritor português. Fernando Pessoa é o mais universal poeta português.
1888-06-13 Lisboa, Portugal
1935-11-30 Lisboa
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Quanto fui jaz. Quanto serei não sou.
Quanto fui jaz. Quanto serei não sou.
No intervalo entre o que sou e estou,
A natureza, exterior, tem Sol.
Mas, se tem Sol, há Sol. Ao Sol me dou.
Não queiras, com submissa segurança,
Ter saudade de ter esperança.
Tem antes saudade de a não ter.
Sê anónimo, súbito e criança.
Nada speres, que nada salvo nada
Obtém quem spera: é como quem à estrada
Lance olhos de esperar que alguém lhe chegue
Só porque a estrada é feita para andada.
Ninguém suporta o peso mau dos dias
Salvo por interpostas alegrias.
Bebe, que assim serás o intervalo
Entre o que criarás e o que não crias.
Quantas vezes o mesmo poente alheio
Sobre meu sonho, como um sonho, veio!
Quantas vezes o tive por augusto!
Tantas, tornado noite, perde o enleio.
Bebe. Se escutas, ouves só o ruído
Que ervas ou folhas trazem ao ouvido.
É do vento, que é nada. Assim é o mundo:
Um movimento regular de olvido.
04/10/1932
No intervalo entre o que sou e estou,
A natureza, exterior, tem Sol.
Mas, se tem Sol, há Sol. Ao Sol me dou.
Não queiras, com submissa segurança,
Ter saudade de ter esperança.
Tem antes saudade de a não ter.
Sê anónimo, súbito e criança.
Nada speres, que nada salvo nada
Obtém quem spera: é como quem à estrada
Lance olhos de esperar que alguém lhe chegue
Só porque a estrada é feita para andada.
Ninguém suporta o peso mau dos dias
Salvo por interpostas alegrias.
Bebe, que assim serás o intervalo
Entre o que criarás e o que não crias.
Quantas vezes o mesmo poente alheio
Sobre meu sonho, como um sonho, veio!
Quantas vezes o tive por augusto!
Tantas, tornado noite, perde o enleio.
Bebe. Se escutas, ouves só o ruído
Que ervas ou folhas trazem ao ouvido.
É do vento, que é nada. Assim é o mundo:
Um movimento regular de olvido.
04/10/1932
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