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Jardim de Poesias Eróticas do "Siglo de Oro"
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Lista de autores
Poemas
José Bento
1932-11-17 Pardilhó, Estarreja, Aveiro
2019-10-26 Amadora
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Quem não sabe de amor
Quem não sabe de amor e seus efeitos·
não se intrometa e cale o que vier,
pois aqui só falamos com discretos.
Qualquer que o seja, ou sê-lo quiser,
terá licença de olhar minhas flores
e delas escolher as que quiser.
Mas os escrupulosos grunhidores
não quero nem consinto que as vejam,
pois não são para néscios os amores.
As damas e donzelas que desejam,
bem que não sendo belas, ser amadas,
sempre este livro leiam e revejam.
E as que de formosura são dotadas,
porque não basta só a formosura,
aqui verão mil graças derramadas.
Aqui não há enigmas nem figura,
rodeios, circunlóquios, indirectas,
mas claridade inteligente e pura.
Espero contentar mesmo as discretas;
e se alguma fugir de minhas flores,
é uma das mofinas indiscretas.
Se não, mostre-nos ela outras melhores,
ou, ao menos, confesse se na cama
contente ficaria com piores.
Termino com dizer que eu é que chamo
Jardim de Vénus a este meu livrinho,
no qual não acharão nem um só ramo
que não tenha de gozo algum pouquinho.
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Beija-me, minha alma
Beija-me, minha alma, doce espelho e guia,
beija-me, acaba, dá-me este contento,
e cada beijo teu engendre um cento,
sem que cesse jamais esta porfia.
Beija-me cem mil vezes cada dia,
pra que, chocando alento com alento,
saiam deste int’rior contentamento
doce suavidade e harmonia.
Ai, boca, venturoso o que te toca!
Ai, lábios, ditoso é o que vos beija!
Acaba, vida, dá-me este contento,
dá-me já tal gosto com tua boca.
Beija-me, vida: tudo em mim lateja.
Aperta, morde, chupa, mas com tento.
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2. OITAVA
Entre magra y gordinha é a figura
que deve ter a dama se é formosa;
e a meio entre a alvura e a negrura
é a cor de todas mais graciosa;
a meio entre a dureza e a brandura
é a carne de fêmea mais gostosa.
Enfim, há-de ter em tudo o meio,
pois o melhor de tudo é o do meio.
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Não existe mulher a que eu não queira,
a todas amo e sou afeiçoado;
de toda a espécie, condição e estado,
a todas amo na sua maneira.
Adoro a carinhosa e a severa,
pela ingénua e sensata sou tarado,
e por morena e clara enamorado,
quer seja ela casada, quer solteira.
Tudo quanto Deus cria é boa cousa,
tão mulher é esta como é aquela,
pois o que uma possui a outra tem.
Quer seja ela medonha, quer formosa,
é sempre tê-la por formosa e bela:
quer na mulher o homem põe-se bem.
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Vento as saias ergueu da minha vida:
a sapatilha vi, muito encarnada,
e a calcinha estreita e esticada,
com a formosa liga bem cingida.
Meus olhos foram logo de corrida
pra ver a coisa enfim que mais agrada;
porém, pela camisa delicada
foi-lhes a doce vista proibida.
Ó camisa cruel e rigorosa!
Por que razão ver não me deixaste
o que não te importava eu visse e tenta?
Mas julgo deve ser tão bela coisa
que por ela até te enamoraste,
e por isso a escondes por ciumenta?
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Damas, as que vos queixais de mal casadas,
fazei-vos desejar, fareis amar-vos;
que jamais aconteça o ofertar-vos,
por mais que estejais sendo abraçadas.
Sempre haveis de mostrar que sois forças,
que vos vence o marido; e, ao furtar-vos,
com resistência sempre haveis de amar-vos;
vereis como sereis mais estimadas.
Quando sentirdes mais o que ele quer,
demonstrareis bem menos percebê-lo;
deixai que ele o procure que mão tem.
E quando ele o buscar e requerer,
antes que vós chegueis a concedê-lo,
comprovai o apetite com que vem.
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Esse chegar de repente e abraça-la,
esse pôr-se a lutar ele com ela,
esse cruzar suas pernas com as dela,
aquele poder mais ele e derrubá-la;
aquele vir abaixo, e ele sobre ela,
e ela cobrir-se e ele destapá-la,
esse pegar na lança e espetá-la,
e esse teimar dela até metê-la;
esse jogo de lombos e cadeiras,
e as palavras tão meigas e amorosas
que um ao outro murmuram, apressado;
esse voltar e andar de mil maneiras,
e fazer neste transe outras mil coisas
nas legítimas perdem os casados.
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Quem não sabe de amor
Quem não sabe de amor e seus efeitos·
não se intrometa e cale o que vier,
pois aqui só falamos com discretos.
Qualquer que o seja, ou sê-lo quiser,
terá licença de olhar minhas flores
e delas escolher as que quiser.
Mas os escrupulosos grunhidores
não quero nem consinto que as vejam,
pois não são para néscios os amores.
As damas e donzelas que desejam,
bem que não sendo belas, ser amadas,
sempre este livro leiam e revejam.
E as que de formosura são dotadas,
porque não basta só a formosura,
aqui verão mil graças derramadas.
Aqui não há enigmas nem figura,
rodeios, circunlóquios, indirectas,
mas claridade inteligente e pura.
Espero contentar mesmo as discretas;
e se alguma fugir de minhas flores,
é uma das mofinas indiscretas.
Se não, mostre-nos ela outras melhores,
ou, ao menos, confesse se na cama
contente ficaria com piores.
Termino com dizer que eu é que chamo
Jardim de Vénus a este meu livrinho,
no qual não acharão nem um só ramo
que não tenha de gozo algum pouquinho.
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Primeiro é abraçá-la
Primeiro é abraçá-la e apalpá-la,
e num instante com beijos entretê-la.
Primeiro é provocá-la e encendê-la.
depois lutar com ela e derrubá-la.
Primeiro é insistir e arregaçá-la,
as pernas pondo entre as pernas dela.
Primeiro é acabar isto com ela,
depois vem o deleite de gozá-la.
Não fazer, como soem os casados,
mais que chegar e achá-la preparada:
de tão doce, dá fome verdadeira.
Hão-de ser os deleites desejados;
se não, não dão prazer nem valem nada,
pois não há quem o barato comprar queira.
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Que fazeis, bela
- Que fazeis, bela? - Olho-me a este espelho.
- E porquê nua? - Pra melhor olhar-me.
- E em vós que vedes? - Que quero gozar-me.
- E porque não vos gozais? - Sem aparelho?
- O que vos falta? - Quem seja em amor velho.
- Pois, que sabe esse fazer? - Sab'rá forçar-me.
- E como vos forçará? - Com abraçar-me,
sem esperar licença nem conselho.
- E não resistireis? - Bem pouca coisa.
- Para quê tanto? - Menos que aqui digo;
que ele me saberá vencer, se é atilado.
- E se foge, por ver-vos pudorosa?
- Hei-de ter esse tal por inimigo,
vil, parvo, mole, pouco abonado.
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Esse chegar de repente
Esse chegar de repente e abraçá-la,
esse pôr-se a lutar ele com ela,
esse cruzar suas pernas com as dela,
aquele poder mais ele e derrubá-la;
aquele vir abaixo, e ele sobre ela,
e ela cobrir-se e ele destapá-la,
esse pegar na lança e espetá-la,
e esse teimar dele até metê-la;
esse jogo de lombos e cadeiras,
e as palavras tão meigas e amorosas
que um ao outro murmuram, apressados;
esse voltar e andar de mil maneiras,
e fazer neste transe outras mil coisas
nas legítimas perdem os casados.
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Oh doce noite
Oh doce noite! Oh cama venturosa!
Testigos do prazer e da alegria,
dizei-me que julgais vós da porfia
daquela dama doce e amorosa.
Como se me mostrava rigorosa!
Como de minhas mãos ela fugia!
Como duas mil injúrias me dizia,
minha doce inimiga cautelosa!
Porém, como depois me deleitava,
prendendo-me em seus braços amorosos,
e abrindo aquelas pernas delicadas!
Com que brandura seus meneios dava!
Que beijos me of'recia, tão gostosos!
E que palavras tão açucaradas!
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