Fialho de Almeida

Fialho de Almeida

José Valentim Fialho de Almeida, mais conhecido apenas como Fialho de Almeida, foi um jornalista, escritor e tradutor pós-romântico português.

1857-05-07 Vila de Frades, Vidigueira
1911-03-04 Cuba
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RomantismoSimbolismo
Filho de um mestre-escola de Vila de Frades, Fialho de Almeida ficou a dever ao pai os primeiros rudimentos de educação. Foi, em seguida, para Lisboa, onde, até aos 15 anos, estudou no Colégio Europeu. Foi, ainda em Lisboa, praticante de farmácia, tendo, com grandes dificuldades e muita força de vontade, concluído um curso de Medicina, a qual nunca, aliás, chegou a exercer. Optou antes por uma vida errática de jornalismo e boémia, num percurso amargurado e tingido de ressentimentos, invejas, frustrações e alguns instantes redentores de visionarismo e génio. Em 1893, o guerreiro anárquico mostra-se cansado e casa com uma provinciana rica, transformando-se num lavrador abastado de província. Minado de contradições, inseguro, sedento de afecto e de reconhecimento, cede, pouco antes da República, à teia de lisonjas de João Franco e torna-se um defensor sectário do ditador, que lhe passara a mão pelo pêlo. Isto lhe valeu o desprezo ruidoso até de antigos admiradores, que o crivam diariamente de frechas e o enlameiam com dichotes na imprensa. «Tratado em prosa latrinária como se fosse o maior dos pulhas», segundo nota Albino Forjaz de Sampaio, nem em Cuba encontra refúgio contra a agressão. Fialho escreveu prosa de vários géneros, desde a crítica de arte à de costumes (Pasquinadas, 1890; Vida Irónica, 1892; Os Gatos, 1889-1893), até à ficção (Contos, 1881; A Cidade do Vício, 1882; Lisboa Galante, 1890; O País das Uvas, 1893), sob a forma de conto. Fialho surge em pleno culminar do realismo e confessa o abalo que lhe causou a leitura de Eça de Queirós: «Li o Padre Amaro da Revista Ocidental num tempo de rapaz, em que o espírito inquieto tem a grande receptividade da emoção, que vai sugando de tudo o que a cerca, materiais que depois expande assimilados numa leviandade que é ao mesmo tempo estouvada e simpática, por ser sincera.» No entanto, dois factores, que se entreajudam, impediram Fialho de ser apenas um realista de escola: a sua prodigiosa condição de poeta nocturno e visionário e o trabalho fabuloso, ainda que por vezes excessivo, que deu à linguagem. A personalidade poderosa de Fialho, a sua visão ora nocturna ora luminosa das coisas, as suas obsessões particulares, os seus fantasmas, a sua imaginação sensual e brutal, o que há em si de desmedido e sombrio, invadem, por assim dizer, o pormenor realista mais trivial ou o trecho descritivo aparentemente mais inócuo: tudo surge perturbado, viciado, pervertido por um clima especial, por uma dimensão nova e excessiva. Por outro lado, para transmitir ao leitor este mundo peculiar, Fialho tenta e, por vezes, consegue forjar uma língua nova e mais poderosa. Por isso, chega a afirmar: «Quando um dia se fizer na língua portuguesa a transfusão juvenil que é necessária, e desse caos que é a linguagem de hoje brotar uma língua nova, vigorosíssima, alada, cheia de buzinas e flautas, de tempestades e cicios, então se verá como o papel daqueles obscuros obreiros foi consciente, e que porção de imaginativa e ficção poética eles lograram transfiltrar na antiga língua, mais própria para discursos do que para livros de análise e de visão.» Essa língua, em grande parte, criou-a o autor de A Madona do Campo Santo, em tantas páginas admiráveis, «pela maravilhosa agilidade e elegância que [...] conseguiu meter no período português, originariamente rígido e monótono, tornando-o coleante como uma pelica a todas as cinzeluras da ideia, e apto, como ele dantes não era, a todas as mímicas da alma e a todas as microscopias da impressão» (palavras de Fialho, não falando, obviamente, de si, mas a pensar, obviamente, em si). Como panfletário, n'Os Gatos, Fialho tem páginas que são um misto de notável e de mau gosto, de belo e de desequilibrado, de justiceiro e de horrorosamente injusto. Temperamento de artista vibrátil e excessivo, facilmente colérico e ressentidamente vingativo, nem tudo o que ali luz é ouro. Mas o autor da Madona, da Ruiva, ou o repórter dos Ceifeiros ou do Enterro de D. Luís ficará por certo como um dos monumentos mais intensos da nossa literatura deste século. Usou o pseudónimo de «Valentim Demónio» em diversos artigos publicados na revista literária A Crónica, por ele fundada, e dirigida, em 1880. Ver, sobre Fialho, o estudo de Álvaro J. da Costa Pimpão sob este mesmo título (1945).
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