Talvez um conto de Andersen

Há silenciosos
bosques na memória,
tão solenes que lá os deuses não entram,
vida e morte congelados em denso nevoeiro
a confundir o eterno ciclo do tempo.

Tenebrosas fábulas os povoam
imagens de trevas, feitiços e bruxas
árvores que perderam a casca:
seu duro interior exposto rejeita marcas
de canivetes de namorados,
folhas sêcas não mais beijadas pela luz do Sol
esperam inutilmente ventos que as levarão
para longe,
para fora dos densos remansos,
para dentro do eterno reciclar dos insetos,
das bactérias e dos cogumelos,
galhos e troncos onde nunca crianças subirão
e que cansaram de se erguer para o céu.

Quando lá entramos
vindos dos longos corredores do sonho
sentimos o frio terror do reverso do espelho
e ouvimos o convite do cansaço
para deitar, para dormir,para o final.
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