A Pessoa - Carta

Ah, meu bom Fernando.
Tua linha reta é um prolongamento de vidas.
Vidas como esta, olha,
atitude de tua expressão,
ridículo igual,
vil igual,
titubeante igual,
e verificas que tens, sim, par neste mundo,
modéstia à parte - nós,
que te encontro, agora, surpreso,
não um semideus, mas um Homem,
um(a) Pessoa, pessoal, gente;
gente, arre, enfim.
Pois é.
Não há mais discípulos: só mestres;
e não mais aprendizados: só ensinamentos,
e só droites, não gauches,
que estes são exceções,
últimos companheiros, sobrantes,
vis benditos que fazem nossa (relativa) paz,
porque não nos abandonam à
solidão do ridículo,
da mesquinhez,
da vileza,
das pequenas coisas que se fazem grandes,
da condição de súditos de uma população de príncipes,
da comicidade triste e só,
de quixotes,
de lúcidos, enfim. Lúcidos, Fernando.
Os lúcidos são os sós, bens sabes.

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