Homem

homem,
a vida é como a vênus de milo;
— faltam-lhe os braços!
aperfeiçoa-a!
plasma no sonho a sua perfeição:
— o sonho é o mármore de páros!...
talvez entre as ruínas do teu eu
estejam escondidos os seus braços
olha!
um rastro de auroras mortas
marca o caminho da tua crença...
empunha a flama da fé
e desce aos subterrâneos da existência,
como os primitivos cristãos,
às galerias esquecidas das catacumbas!
e, de volta,
com teus olhos pregados no infinito,
rompe a mortalha de crepúsculo que te envolve,
e marcha!
na tua marcha ascendente,
esmaga com teus pés de titã o incognoscível
e faze-o explodir aos teus passos
numa erupção de novas auroras!...
então, empolgando os mundos e os astros coruscantes,
bradarás:
—levanta-te — ó sol sem poente!
e uma luz de arrebóis brilhará para sempre!...
......................................................................................
síncope da luz!
angústia do verde nas esperanças!
há um sino dobrando em cada coração
e uma cruz de esqueleto de ilusões abre seus braços
sobre cada pensamento
— é a hora do crepúsculo do amor
— a hora do crepúsculo do sonho!

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