Protesto

Nas tardes do Alentejo que eu adoro,
nas campinas de pasto sem amanho,
o pastor ergue o seu cantar sonoro,
e vai seguindo atrás de seu rebanho.

Alguém chamou a um poeta estranho
(a fama não lhe invejo mas deploro)
rei das imagens — no sabor de antanho,
pastor de rimas — no vibrar sonoro.

Pois lendo embora as tuas obras-primas,
rei das imagens e pastor de rimas,
eu tenho sempre a firme convicção

de quanto vale mais esse pastor,
rei das campinas de silêncio e cor,
que tu, pobre pastor duma ilusão!

(Coimbra, 1927)

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