Filipa Leal

Poeta e jornalista cultural. Estudou jornalismo na University of Westminster e Literatura portuguesa e brasileira na Universidade do Porto.

1979-03-14 Porto
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O minuto certo

Dizia-te do minuto certo. Do minuto certo do amor. Dizia-te 
que queria olhar para os teus olhos e ter a certeza que pensavas 
em mim. Que me pensavas por dentro. Que era eu a tua fantasia, 
o teu banco de trás. O teu desconforto de calças caídas, de pernas 
caídas, da rua que não estava fechada porque nenhuma rua se 
fecha para o amor. Na cidade do meu sono, havia palmeiras onde 
alguns repetiam putas e charros e atiravam pedras ao rio. Mas eu 
nunca gostei de clichés. Nem de quartos de hotel. Nem de camas 
que não conheço. Eu nunca abri as pernas, entendes? Nunca abri 
as pernas no liceu. Nunca abri as pernas aos dezassete anos,
de cigarro na mão. Eu nunca me 
comovi com o sonho de ser tua. Eu nunca quis que ficasses, 
entendes? Que viesses. Queria que quisesses de mim esse minuto 
certo, essa rua húmida de ser norte. Queria que me quisesses 
certa, exacta, como o minuto onde me pudesses encontrar. Eu 
nunca quis de ti uma continuidade, mas um alívio, uma noção de 
ser gente, entendes? Eu nunca quis de ti o sonho do sono ou da 
viagem. Nunca te pedi o pequeno-almoço, a ternura. Nunca te 
disse que me abraçasses por trás, que adormecesses. Eu nunca 
quis que me desses casa e filhos e lógica. Que me convidasses 
para dançar. Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por 
dentro e tu por dentro de mim. 

Queria de ti um minuto. Um minuto. 

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ademir domingos zanotelli
Grande poema de amor.... lindo de morrer.... o final é eletrizante.... me visite. parabéns.... Ademir o Poeta.
22/junho/2024

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