Cidade sentada

Poderia estar de pé, ser pé, mas não, Lisboa
é uma cidade sentada, mesmo depois de ter sido
caravela cravada, sentada em água de ágata,
torpe num abúlico não-fazer. Em cada uma das
suas gotas inocentes, lamenta-se, disfarçada,
numa balada inclemente de ametista perolada
sem destino e a seu modo embrutecida. Ígnea,
de aceitação safírica, a Lisboa de hoje
não tem combate, apenas grito a-solidário. De
tanto subir, mais alto desce. Lisboa-poço,
fiel no escuro do invisível, tuas aves poderosas
são machos frustrados, presos, sem selo nem
jura, no cativeiro do mando. Lisboa de passo
inconsequente e descentrado, no sopro de tuas
narinas sufocadas, sopras, sopras e não vais.
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