Herberto Helder
Herberto Helder de Oliveira foi um poeta português, considerado por alguns o 'maior poeta português da segunda metade do século XX' e um dos mentores da Poesia Experimental Portuguesa.
1930-11-23 Funchal
2015-03-23 Cascais
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Cinco Poemas Esquimós
Levanto-me da cama com gestos
semelhantes aos golpes de asa
de um corvo rápido.
Levanto-me
para saudar o dia.
Uá, uá!
Minha face afasta-se das trevas da noite
e olha para a aurora
que se abre.
O grande fluxo do oceano põe-me em movimento,
faz-me flutuar.
Flutuo como a alga à superfície das águas.
E a abóbada celeste abala-me e o ar violento
abala o meu espírito
e atira-me sobre a poeira.
E eu tremo de alegria.
Os mortos que sobem ao céu
por degraus sobem ao céu,
por velhos degraus já gastos.
Todos os mortos que sobem ao céu
por degraus gastos,
gastos ao contrário,
gastos por dentro,
sobem ao céu.
Vejo aproximarem-se os brancos cães da aurora:
— Alto!, que vos atrelo ao meu trenó de gelo!
I
Espírito do ar, vem,
vem depressa.
O invocador te chama.
Vem, e purifica esta terra.
Espírito do ar, vem,
vem depressa.
Levanto-me:
é no meio dos espíritos que eu me levanto.
Os invocadores me protegem,
conduzem-me por entre os espíritos.
Criança, criança, grande criança,
levanta-te e vem,
grande criança, pequena criança,
aparece entre nós.
II
Quero visitar uma mulher estrangeira,
quero desvendar os enigmas do homem.
Desato as correias das minhas botas,
procuro no homem e
procuro na mulher.
No rosto das mulheres desfaço as rugas.
Caminhei ao longo dos gelos marinhos,
e as focas sopravam de dentro dos buracos.
Escutei maravilhado o canto do mar
e o gemido claro dos jovens gelos.
E um espírito antigo traz agora o poder
à casa das danças.
semelhantes aos golpes de asa
de um corvo rápido.
Levanto-me
para saudar o dia.
Uá, uá!
Minha face afasta-se das trevas da noite
e olha para a aurora
que se abre.
O grande fluxo do oceano põe-me em movimento,
faz-me flutuar.
Flutuo como a alga à superfície das águas.
E a abóbada celeste abala-me e o ar violento
abala o meu espírito
e atira-me sobre a poeira.
E eu tremo de alegria.
Os mortos que sobem ao céu
por degraus sobem ao céu,
por velhos degraus já gastos.
Todos os mortos que sobem ao céu
por degraus gastos,
gastos ao contrário,
gastos por dentro,
sobem ao céu.
Vejo aproximarem-se os brancos cães da aurora:
— Alto!, que vos atrelo ao meu trenó de gelo!
I
Espírito do ar, vem,
vem depressa.
O invocador te chama.
Vem, e purifica esta terra.
Espírito do ar, vem,
vem depressa.
Levanto-me:
é no meio dos espíritos que eu me levanto.
Os invocadores me protegem,
conduzem-me por entre os espíritos.
Criança, criança, grande criança,
levanta-te e vem,
grande criança, pequena criança,
aparece entre nós.
II
Quero visitar uma mulher estrangeira,
quero desvendar os enigmas do homem.
Desato as correias das minhas botas,
procuro no homem e
procuro na mulher.
No rosto das mulheres desfaço as rugas.
Caminhei ao longo dos gelos marinhos,
e as focas sopravam de dentro dos buracos.
Escutei maravilhado o canto do mar
e o gemido claro dos jovens gelos.
E um espírito antigo traz agora o poder
à casa das danças.
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