Herberto Helder
Herberto Helder de Oliveira foi um poeta português, considerado por alguns o 'maior poeta português da segunda metade do século XX' e um dos mentores da Poesia Experimental Portuguesa.
1930-11-23 Funchal
2015-03-23 Cascais
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Todas Pálidas, As Redes Metidas Na Voz.
Todas pálidas, as redes metidas na voz.
Cantando os pescadores remavam
no ocidente — e as grandes redes
leves caíam pelos peixes abaixo.
Por cima a cal com luz, por baixo os pescadores
cheios de mãos cantando.
Cresciam as barcas por ali fora, a proa
aberta como uma janela ao sal.
Metida na voz, toda pálida, a proa
rimava no ocidente com a cal que os pescadores
remavam, cantando grande, pela luz fora. Ao sol, ao sal.
E o espírito de Deus como num livro
movia-se sobre as águas.
Com seu motor à popa, veloz, peixe
sumptuoso, o espírito de Deus, motor de um número de cavalos, galgava
a antiga face pálida das águas. Enquanto,
cantando as redes,
os pescadores metiam as mãos cheias
de cal pelos grandes peixes abaixo.
E pelas barcas fora a luz remava pelo ocidente todo pálido, rimando
as redes leves com a proa.
E o peixe espírito de Deus, rangendo
o motor, rompia com um número,
remando todo pálido os seus grandes
cavalos. Deus
cantava no ocidente sobre as redes de cal,
a proa aberta — como as guelras
da luz. E os pescadores
metiam as redes pelo espírito de Deus abaixo.
E os remos rimavam com as redes
leves no peixe sumptuoso.
Por ali fora as guelras caíam na voz
dos grandes pescadores.
E Deus metido então nas redes, puxado
cor de cal para dentro
das barcas, as mãos cantando cheias
de pescadores.
E sobre as águas rangentes, rompendo
o leve ocidente, os pescadores remavam
o espírito de Deus para terra — peixe
de motor à popa — e a proa
grande aberta.
E cantavam o seu peixe sumptuoso, espírito
pálido na leve cal do ocidente
cantando.
Cantando os pescadores remavam
no ocidente — e as grandes redes
leves caíam pelos peixes abaixo.
Por cima a cal com luz, por baixo os pescadores
cheios de mãos cantando.
Cresciam as barcas por ali fora, a proa
aberta como uma janela ao sal.
Metida na voz, toda pálida, a proa
rimava no ocidente com a cal que os pescadores
remavam, cantando grande, pela luz fora. Ao sol, ao sal.
E o espírito de Deus como num livro
movia-se sobre as águas.
Com seu motor à popa, veloz, peixe
sumptuoso, o espírito de Deus, motor de um número de cavalos, galgava
a antiga face pálida das águas. Enquanto,
cantando as redes,
os pescadores metiam as mãos cheias
de cal pelos grandes peixes abaixo.
E pelas barcas fora a luz remava pelo ocidente todo pálido, rimando
as redes leves com a proa.
E o peixe espírito de Deus, rangendo
o motor, rompia com um número,
remando todo pálido os seus grandes
cavalos. Deus
cantava no ocidente sobre as redes de cal,
a proa aberta — como as guelras
da luz. E os pescadores
metiam as redes pelo espírito de Deus abaixo.
E os remos rimavam com as redes
leves no peixe sumptuoso.
Por ali fora as guelras caíam na voz
dos grandes pescadores.
E Deus metido então nas redes, puxado
cor de cal para dentro
das barcas, as mãos cantando cheias
de pescadores.
E sobre as águas rangentes, rompendo
o leve ocidente, os pescadores remavam
o espírito de Deus para terra — peixe
de motor à popa — e a proa
grande aberta.
E cantavam o seu peixe sumptuoso, espírito
pálido na leve cal do ocidente
cantando.
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