Paulo Teixeira

Paulo Teixeira

1962-09-14 Maputo
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Uma Residência

Um ano depois de eu nascer,
Berlim era um convés de voo
com naves laterais e galeria
de ventilação, forças aerotransportáveis
e sereia de alarme aéreo.

Imagino Gombrowicz chegando,
espécie de nómada insolente,
com o cinismo prático
e as mil facetas da sua alma dialéctica,      
proscrito uma vez mais,
por decisão unilateral,
para um ano longe da pampa.     
                                                   
A Alemanha era uma arte de decompor em partes   
um direito adquirido com o nascimento,
e a cidade uma protuberância da guerra fria,
purga de ar de que ele podia seguir
as descargas luminosas no alto penhasco
onde o alojaram em Hohenzollerndamm.                     

Tivesse o dom de vaticinar
e saberia que era citado
a depor com o corpo a infância polaca
nos aromas que se libertam       
de aceres e bétulas nas áleas do Tiergarten.     

Uma dissidência terminava assim,
neste retiro verde e sossegado —            
como um castigo corporal
ou qualquer coisa de congénito,
a Europa vinha ao seu encontro      
e a morte com um odor característico
irrompia, longe da confusão e do caos,                    
por entre os néons e a névoa da  pax americana.
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